Coletivo Juntas! participa de ação em penintenciária feminina de São Paulo
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Coletivo Juntas! participa de ação em penintenciária feminina de São Paulo

Atividade foi realizada na Penintenciária Feminina da Capital na última semana

Karina Correia 18 set 2023, 19:41

O coletivo POR NÓS, foi fundado por mulheres egressas e hoje faz um papel fundamental na vida de outras mulheres que estão no regime semiaberto, incluindo redução de danos e garantia do retorno à penitenciária para continuarem cumprindo suas penas.

Estou há um mês participando do grupo de WhatsApp que durante os espaços entre as ações, arrecadam produtos de higiene, roupas, sapatos, trocam cartas e tentam acompanhar o processo de cada mulher que fizeram cadastro entre as saídas. Quanto mais se aproximava o dia da ação, mais corrido, tenso, animador e movimentado o grupo ficava.

O tão especial dia 12 de setembro chegou e lá estava eu na penitenciária por volta das 7 da manhã, intrigada como o Carandiru parecia mais longe quando eu era criança, talvez por ver o quanto a minha avó se preparava todas as semanas para visitar o meu tio que cumpria pena la, também por uma dessas vezes ter ido com ela é de verdade, a viagem era muito mais longa do que os 41 minutos que me apontou aplicativo de gps. Muito impactante também a quantidade de pessoas que estavam pra fora esperando essas mulheres, pouquíssimas, majoritariamente mulheres e havia muitas crianças também, a maioria numa faixa de 3 a 7 anos. Aos poucos começaram liberar uma por uma, portando apenas uma folha comprovando o seu alvará provisório, com chinelos, uma calça preta e camiseta branca, apenas.

A primeira que conheci, além do papel segurava um neném, de bochechas fartas, num sono profundo, a mãe procurava atentamente quem possivelmente estaria ali para que juntos fossem pra casa. Encontrou com muita emoção a sua mãe e absolutamente todos começamos a comemorar, com muita alegria, um reencontro que não acontecia desde que o pequeno bebê nasceu.

Voltando para a ação, separamos roupas e sapatos por tamanho, maquiagens, kits de higiene e uma mesa com café, bolacha, doces que ajudariam na redução de danos e água.

Cada uma que passava por ali perguntava quanto custava e quando respondíamos que não era cobrado, um abraço acontecia em seguida, sorrisos, lágrimas e muita gratidão. Algumas passavam direto e seguiam um caminho sem olhar para trás, outras chegavam contando desesperadamente as injustiças que continuavam acontecendo atrás daqueles muros.

Também não existe uma política que garanta a passagem de ida e volta dessas mulheres, pouco importa para o estado como elas farão para chegar até as suas casas, pouco importa a mulher que não tem para onde ir e que se não ignora esse fato é se vira pensando onde ficar, perde o direito daqueles dias longe da opressão da cadeia.

Conhecer mulheres egressas da Penitenciária Feminina da Capital e ver um movimento de retorno para que as que seguem cumprindo pena tenham acolhimento, suporte emocional e estrutura nas saídas trimestrais, as “saidinhas”, me fez acreditar ainda mais na possibilidade da revolução ser feminista, antirracista e antiproibicionista.

Mulheres que saem do Carandiru e vão trabalhar no Rio Pequeno todos os dias, outras relatam que já chegaram ganhar 2, 5, 14 reais por mês, mas que preferem a exaustão e exploração, do que passar o dia todo sem ver a rua, movimento e rodeadas de opressão.

Conheci mulheres doentes, sem atendimento médico há meses, mulheres que há anos não viam as suas famílias, conheci mulheres que iriam para Feira de Santana, Mato Grosso do Sul, Espírito Santo, que ficaram radiantes em saber que seguiriam viagem com uma sacolinha de bolacha, amendoim, acha e paçoca.

São tantos momentos indescritíveis, um misto de dor e esperança de que esse projeto pode ser maior e assistir mais mulheres, e não só essas mulheres, mas as pessoas que elas encontrarão em cada saidinha, os filhos pequenos, pais idosos.

Em outros momentos sentia como ouvir rojões no alto do céu, quebrando o silêncio e sonhos antigos, uma sensação de que aquela batalha uma que valeria lutar até o fim, por isso não me vejo mais em outro lugar nos dias de saidinha, a não ser participando ativamente dessa ação de acolhimento, servir e dar apoio para essas mulheres em sua saídas e retornos trimestralmente da Penitência Feminina da Capital.

Sendo assim, o coletivo Juntas convida todos e todas, sobretudo do MES, para embarcar nessa nova jornada conosco. Na próxima ação que acontecerá iremos de bonde e até lá, arrecadaremos kits de higiene, absorventes, escovas de dentes, chinelos, sapatos, roupas, brinquedos, chocolates e panetones. O ponto de arrecadação está na Casa das Mulheres, as roupas também podem ser masculinas, tem muito homem trans na penitenciária.

Nossos mandatos estão com a tarefa de fiscalizar e pensar numa política dentro dos aparatos que temos e para além da instituição, chamar essa tarefa e compromisso para cada militante nosso é dar voz, vez e afeto à mulheres que estão para além das margens, estão dentro dos muros!


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