Câmara de SP instalará CPI para investigar Padre Júlio
Proposta por ex-integrante do MBL, investigação visa buscar irregularidades na atuação do religioso para associá-las a pré-candidato do PSOL à prefeitura
Foto: Reprodução
É notório o histórico de perseguição de ex-integrantes do Movimento Brasil Livre (MBL) contra o padre Júlio Lancellotti. Em 2020, o ex-deputado paulista Arthur do Val alardeou uma suposta troca de mensagens entre o religioso e um menor de idade, o que sugeria o crime de pedofilia. Tudo não passava de uma armação. Mas o expediente persecutório e calunioso contra o padre segue vivo e ganha novas formas.
Em fevereiro, quando a Câmara Municipal de São Paulo retomar os trabalhos, será instalada a ignominiosa CPI das ONGs. O autor da proposta é o vereador Rubinho Nunes (União), ex-integrante do MBL, cujo objetivo é investigar a atuação do padre Júlio Lancellotti junto aos necessitados da região central da capital e a relação dele com as entidades assistenciais.
No fundo, a intenção da investigação é encontrar alguma informação desabonadora sobre o padre para relacioná-la com Guilherme Boulos (PSOL), pré-candidato à prefeitura de São Paulo. Isso poderia beneficiar a campanha para reeleição de Ricardo Nunes (MDB), a quem o União Brasil apoia, e Kim Kataguiri, filiado à sigla, que também é pré-candidato.
Na mira
De acordo com a seção Painel da Folha de S.Paulo, os principais alvos de investigação da CPI das ONGs serão o Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto (Bompar) e o coletivo Craco Resiste. Ambas as organizações dedicam-se ao apoio à população em situação de rua e dependentes químicos. O Bompar, uma entidade filantrópica associada à igreja católica, tem ligações anteriores com o padre Júlio, que já foi conselheiro da instituição. O Craco Resiste, por sua vez, atua na luta contra a violência policial na região conhecida como Cracolândia.
Em dezembro, o padre declarou à coluna que não possui qualquer influência sobre essas organizações e não colabora em projetos conjuntos com elas. Ele enfatizou a autonomia das entidades, destacando que possuem diretorias, técnicos e funcionários independentes.
“A Câmara tem direito de fazer uma CPI, mas vai investigar e não vai me encontrar em nenhuma das duas”, afirmou.
Ele esclareceu que não faz parte do conselho da Bompar há 17 anos e que anteriormente ocupava uma posição não remunerada no conselho deliberativo da entidade. O padre também argumentou que o vereador e seus aliados estão tentando desviar o foco do debate real ao personalizar e criminalizar a situação. Em sua opinião, seria mais apropriado convocar o prefeito Ricardo Nunes e a Secretaria de Assistência Social, responsáveis pelo dinheiro público destinado a tais iniciativas.
Intimidação
À Revista Movimento, a vereadora Luana Alves (PSOL-SP) antecipou que a oposição tentará barrar essa CPI, que em sua avaliação, não passa de ume atemorizar quem denuncia a ineficiência das políticas de saúde e assistência social na maior capital da América do Sul.
“É uma tentativa de intimidação contra as pessoas que apontam o absurdo da crise social de São Paulo. Contra quem aponta o aumento da população à situação de rua, a falta de políticas para a habitação, para a segurança alimentar, para a segurança. Então, na verdade, é intimidar quem aponta o problema e tenta resolver, diante de uma gestão incompetente, ineficiente, elitista. Você pode ter certeza que nós vamos lutar contra a instalação dessa CPI. Ainda que uma CPI não possa impedir o trabalho, é um instrumento de intimidação política. Então, a gente vai lutar contra a própria instalação dessa CPI.