Notas sobre a atuação do partido revolucionário nas eleições
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Notas sobre a atuação do partido revolucionário nas eleições

Uma reflexão sobre a atuação eleitoral dos revolucionários a partir de posições trotskistas

Ruan Debian 19 jan 2024, 08:31

Foto: Marri Nogueira/Agência Senado

No decurso de toda existência humana apenas uma única certeza prevalece para todos nós, a morte! Entretanto, o último suspiro não necessariamente constitui o fim definitivo do ser. Muitos, após cerrarem seus olhos, continuam vivos por séculos nas memórias daqueles que o rememoraram. Ora, Karl Marx (1818) e Friedrich Engels (1820) nascidos há mais de 200 anos ainda são lidos, estudados, debatidos, e, principalmente, indispensáveis para compreendermos o tempo presente.

Ainda sobre aqueles que não mais se encontram entre os ditos vivos, dois outros nomes continuam, em inumeráveis países, oxigenando milhares de militantes com seus escritos fundamentais para organização do partido revolucionário, referimos aos camaradas Vladimir Lenin e Nahuel Moreno.

Neste ano de 2024, em 21 de janeiro, cem anos se completarão do falecimento do companheiro Lenin; e, concomitante, já no dia 24 de abril, celebraremos o centenário do nascimento de Moreno. Contudo, no próximo dia 25 de janeiro, relembramos o aniversário de morte do Tigre (como era conhecido Moreno). Assim, uma das melhores formas de homenagearmos esse gigante da militância, que tanto se inspirou em Trotsky e em Lenin, é retomarmos aos seus escritos buscando sólidos elementos para armar nosso partido para um grande desafio deste ano, as eleições municipais.

Por que Disputar as Eleições?

Primeiramente, devemos elucidar que nós trotskistas somente devemos nos lançar em qualquer disputa, dentre elas as eleições burguesas, após criteriosa análise da etapa que se encontra a luta de classe tanto nacional quanto internacional, como escrevera Moreno: “A base para análise e a caracterização marxista é a situação da luta de classes” (Moreno, 2008, p.265).

No campo internacional, em que pese as tragédias provocada pela guerra entre Rússia e Ucrânia e o genocídio feito por Israel ao povo palestino, a situação global ainda não se abriu de fato para uma situação reacionária. Mas essa condição pode mudar a depender das próprias eleições que ocorrerão neste ano tanto nos Estados Unidos quanto em Taiwan, tais resultados podem agravar a tensão bélica (não necessariamente chegando a um conflito) entre os Estados Unidos e a China, que são as duas maiores potências mundiais atualmente. Se por acaso vier acontecer, qualquer contradição dessa magnitude provavelmente não será a curto prazo.

Nesse sentido, caracterizamos que na conjuntura brasileira experienciamos uma situação Não Revolucionária, principalmente após a vitória de Lula para presidente da República em 2023. Sua eleição foi de suma importância para o povo brasileiro, pois a reeleição de Bolsonaro constituiria numa abertura para adentrarmos numa situação reacionária podendo chegar, a médio e a longo prazo, até numa situação contrarrevolucionária (leia-se ditadura). Todavia, sabíamos que o governo do PT não sanaria definitivamente os problemas estruturais que afligem constantemente o povo oprimido deste país devido a sua clássica característica conciliatória. Ou seja, devido aos recorrentes acordos fechados com a burguesia, muitas contradições do governo poderão emergir gerando certo descontentamento em certos setores da esquerda e da própria população, podendo reverberar nas próprias eleições municipais.

Perante aos dois cenários acima apontados, seja na conjuntura internacional, seja na nacional, não existe elementos concretos, infelizmente, para tomada do poder pelos trabalhadores. Ora, se fossemos munidos de forças para assegurar o povo no poder, qual seria o sentido de disputar as eleições burguesas? Nenhuma! Mas não é o caso. Dessa maneira, “[…] utilizamos a atividade eleitoral como uma arma a mais na luta de classes.” (ibdem, p.127). Com as eleições, no caso deste ano as municipais, existem mais condições para o diálogo com a população sobre política, porque, querendo ou não, é um período que mexe com a sociedade em um todo nesse quesito. Assim sendo, “Se não participarmos delas, nosso diálogo político com o movimento de massas fica bloqueado.” (ibdem, p.123).

Por hora, como não existe a possibilidade real da revolução, devemos nos lançar nas construções das candidaturas marxistas para que as/os nossas militantes ocupem as cadeiras nas câmaras de vereadores por todo o Brasil buscando amenizar a vida sofrida do povo oprimido deste país.

Qual objetivo de disputar as eleições?

Nunca é por demais pontuar que não devemos nutrir a tola inocência que mesmo elegendo inúmeros revolucionários conseguiremos mudar de fato o sistema capitalista. A história mostra vários trágicos exemplos: podemos mencionar a própria cassação do PCB, em 1947, quando candidatos eleitos pelo voto nas eleições burguesas perderam seus cargos sendo jogados à ilegalidade. Salvador Allende, eleito democraticamente pelos chilenos para presidente da República, não conseguiu completar seu mandato, graças ao ditador Pinochet que o matou e instaurou uma Ditadura, em 1973.

Tendo essa consciência, “Nós reafirmamos que o trotskismo tem só duas estratégias a longo prazo: construir o partido e mobilizar as massas para a tomada do poder.” (ibdem, p.197). Dito de outro modo, as eleições são táticas perante a essas duas estratégias. Por essa linha de raciocínio, mesmo nos períodos eleitorais, jamais devemos perder do horizonte essas duas estratégias! Isso requer mais zelo pelos trotskistas nas eleições, pois sabemos que as bandeiras ou as palavras de ordens não serão remetidas diretamente para tais estratégias supracitadas, mas que em última instância devem sempre resultar na construção do partido revolucionário e na mobilização das massas para tomada do poder. Em outras palavras, com cada setor que nós procuraremos e que nos procurarão nas eleições deveremos ter abordagens diferentes dependendo de seus níveis de consciência.

Busquemos compreender melhor esse ponto.

Compreendemos que “[…] dentro das massas há um desenvolvimento desigual da consciência, o que faz com que, em um mesmo momento, haja setores com diferentes níveis de consciência.” (Moreno, 2008, 297). Por exemplo, muitos estudantes secundaristas repudiam o bolsonarismo, e por isso já possuem determinado nível de consciência que não os permitem votarem em candidatos da extrema direita.

Mas em quem eles/elas poderiam votar? Por serem inexperientes e sem acesso a determinada organização revolucionária que os instruiriam, facilmente poderiam ser convencidos por uma linha política stalinista que vem crescendo nas redes sociais (basta ver influenciadores atuais que prestam desserviço para o marxismo, mas alcançam parcela da juventude) ou por setores oportunistas da esquerda cujo interesse não é proporcionar a consciência de classe para o povo, mas apenas ganhar os seus votos com discursos que num primeiro momento podem até encantar (povo preto no poder; vivas às LGBTQIAP+, etc), mas não passam de hipócritas que apenas utilizam de pautas importantíssimas para manipularem a classe trabalhadora, seja juventude ou não. Ilustrar esse segundo grupo é fácil, basta refrescarmos nossas recentes lembranças de certas correntes “radicais” que no último Congresso do PSOL enchiam seus pulmões para dizerem que eram revolucionários, mas suas falas, como sabemos, não condiziam, e não condizem, com a realidade. Esses, como afirmou Trotsky, sobre “socialismo ela só fala em dias de festa.” (Movimento, 2018, p.45).

Em situação hipotética, muitos desses estudantes poderiam nos dar suas atenções se fizéssemos discussões sobre o passe livre para todos secundaristas do município. Dessa forma, conectaríamos com a denúncia dos valores exorbitantes das passagens do transporte púbico. Com o desenrolar dos processos, digamos que em média 20 estudantes se engajaram, e que 5 estão abertos para discussão sobre socialismo, marxismo etc. Esses cinco, de forma imediata, já devem ser inseridos dentro do partido e terem a sua disposição toda base teórica que somente nossa organização revolucionária pode oferecer, ajudando-os em suas formações marxistas dentro de nossa tradição. Os outros 15, deveremos acompanhá-los de uma outra forma até entendermos o momento certo de captá-los de fato.

Perante ao que fora exposto, facilmente se percebe a seriedade que os/as trotskistas, com sua organização revolucionária, se lançam em qualquer processo da luta de classe. Nosso objetivo sempre será o socialismo, sempre será o fim da exploração que a burguesia desfere contra o povo oprimido de todo o planeta Terra.

O Movimento Esquerda Socialista nas Eleições 2024

Nossa organização desempenha fundamental papel na construção do socialismo nestas terras tupiniquins, ajudando “[…] as massas no processo de suas lutas cotidianas a encontrar a ponte entre suas reivindicações atuais e o programa da Revolução Socialista.” (Movimento, 2018, p.44). Seguir nessa linha nos mantem seguros em não nos enveredarmos pelo oportunismo ou pelo sectarismo. Eis um dos motivos de estarmos disputando ainda o próprio PSOL.

O PSOL conquistou relevância na sociedade sendo o partido de esquerda que mais cresce no Brasil. Para nós, consideremos como uma vitória esses números, mas entendemos que o crescimento de um partido político ou a eleição de um candidato que se diz represente do povo brasileiro não pode acontecer a qualquer custo. Possuímos várias camaradas marxistas que seguem nossa tradição trotskistas ocupando cargos como de deputadas federais, estaduais, vereadores/as que travam verdadeiros embates institucionais contra os representes do capital. E é esse este ponto que devemos demarcar na correlação de força no próprio PSOL, que somos um campo dentro do partido que defende e se opõe firmemente contra a burguesia.

Eleger tanto nossos companheiros quanto nossas companheiras garantirão mais espaços na disputa para que o PSOL não se transforme em um novo PT; em outras palavras, não se transfigure num partido de conciliação de classe. Por fim, quando estivermos em campanha, entendamos que nós não estamos entregando o panfleto da figura pública A ou B de nossa organização, mas estamos entregando para os setores das massas nosso programa revolucionário, nossos ideais que estão ligados diretamente com suas necessidades cotidianas.

Portanto, nestas eleições que estão por vir, são dois movimentos concomitantes que se complementam: 1°) Inserir nas lutas imediatas da classe trabalhadora ganhando suas confianças através de um trabalho sério e sempre respeitoso que garantirão que nós, do Movimento Esquerda Socialista, através do PSOL, representaremos suas bandeiras dentro das câmaras municipais; 2°) ganharmos mentes e corações de vários setores possíveis da classe trabalhadora, das vanguardas, de qualquer pessoa aberta para captação durante todo processo eleitoral para a construção tanto do nosso partido revolucionário quanto do socialismo. Frisamos, uma tarefa não está dissociada da outra!

Avante, camaradas!


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Pedro Micussi