Jornalista brasileira é indiciada por pedir extermínio de palestinos em Gaza
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Jornalista brasileira é indiciada por pedir extermínio de palestinos em Gaza

Apresentadora da TV Pampa defendeu dizimar a população palestina em programa de televisão

FEPAL 3 fev 2024, 13:36

Via FEPAL

A Delegacia de Combate à Intolerância de Porto Alegre (RS) concluiu o inquérito policial aberto para apurar crime nas declarações da comunicadora Aline Leal Fontanella Klemt, nos quais defendeu a dizimação da população palestina da Faixa de Gaza. Ela integra a bancada de comentaristas do programa Atualidades, que vai ao ar diariamente na TV Pampa, de segunda a sexta-feira, a partir das 19 horas, e fez esta defesa no comentário em que manifestava apoio aos ataques israelenses a Gaza.

“Hoje, sinceramente, não tem outra forma, a não ser, realmente, dizimando uma população que acha que matar aleatoriamente tá tudo certo”, disse a comentarista Aline Klemt, no programa exibido em 10 de outubro do ano passado. A pretexto de justificar dizimar a população palestina, ela resgatou a falsa notícia de que os palestinos teriam degolado crianças no dia 7, desmentida no próprio dia, ou seja, três dias antes de seu comentário, pela própria mídia corporativa israelense, depois denunciado como fake news pelos principais veículos de comunicação dos EUA e do mundo.

O comentário da comunicadora teve ampla difusão, especialmente nas mídias sociais, o que preocupou a comunidade brasileiro-palestina, especialmente a do Rio Grande do Sul, a maior do país, e provocou massiva indignação em seu seio e fora dele.

A Polícia Civil gaúcha passou a apurar o crime a partir do registro de ocorrência registrada pela Federação Árabe Palestina do Brasil (FEPAL), promovida em seu nome pelo secretário de Assuntos Jurídicos da entidade, o advogado Nasser Judeh. A ela foram reunidas pela delegada Tatiana Barreira Bastos, que presidiu o inquérito, outras ocorrências em idêntico sentido, promovidas por outras pessoas e organizações.

Diretor Jurídico da FEPAL, Nasser Judeh

Diretor Jurídico da FEPAL, Nasser Judeh

Ouvido no inquérito, Judeh disse que a FEPAL foi procurada por muitas pessoas, da comunidade brasileiro-palestinas e outras, “aterrorizadas com as falas de Aline Klemt”. No inquérito, Judeh disse que “tais falas incentivam o discurso de ódio, o preconceito e a intolerância étnica”, reforçando que “também pode configurar a incitação ao genocídio”.

A indiciada não negou, quando interrogada, que tenha defendido dizimar uma população, mas que se referia “aos integrantes do Hamas”. O inquérito assim descreveu sua defesa: “No contexto de sua reflexão, proferiu a frase de que para lidar com um grupo inimigo que dizima um povo, não haveria outra saída, a não ser ir para a guerra e dizimar uma ‘população’, se referindo aos integrantes do Hamas”.

No relatório, entretanto, a delegada contradiz a comunicadora, consignando que “na gravação do vídeo é possível perceber, em um momento anterior, que a suspeita faz afirmações sobre uma ‘população’ que estaria sofrendo lavagem cerebral do grupo terrorista (sic) Hamas, ou seja, a suspeita faz uma diferenciação entre o grupo terrorista (sic) Hamas e uma população que sofreria lavagem cerebral por parte deste grupo”. A delegada pontua que “apesar de a suspeita não ter nomeado, é sabido que tal população é o povo palestino”, concluindo que “tudo isso nos leva a compreensão de quando a suspeita afirma que não há outra saída senão dizimar esta ‘população’, ela não está se referindo ao grupo terrorista (sic) Hamas, mas sim à população que, em sua análise, estaria sofrendo lavagem cerebral e estaria apoiando indiscriminadamente as ações do grupo terrorista (sic) Hamas”.

Incitação do genocídio

O presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil (FEPAL), Ualid Rabah, concorda com Judeh quanto à incitação do genocídio. Para ele, trata-se de “caso notório de incitamento ao genocídio”. “Defesa mais do que evidente do extermínio da população palestina de Gaza, uma espécie de defesa das ações israelenses que buscavam, àquela altura, como seguem buscando, a eliminação dos palestinos do território de Gaza, seja assassinando em massa, seja deslocando toda a demografia palestina para fora das fronteiras desta parte da Palestina”, comentou Rabah.

Segundo o dirigente brasileiro-palestino, as declarações da comunicadora se inscreveram em contexto comunicacional massivo, no Brasil e em todo o chamado “ocidente”, no qual houve praticamente uma campanha midiática, informacional, direcionada a legitimar a ação israelense que viria e, depois, seguir defendendo as ações das forças de ocupação israelenses. Para Rabah, parte de uma “propaganda de guerra disfarçada de notícia”.

“O que ela disse, inclusive com uma espécie de longa introdução à sua fala, explicando-se, justificando-se para concluir pelo extermínio palestino, acontece quando, diante da matança indiscriminada ação israelense, já era alertado que acontecia a maior matança de crianças e mulheres já vista em conflitos bélicos convencionais, ou seja, quando já era patente, porque era televisionado, que se tratava de um genocídio”, lembra Rabah, para cravar que “se tratou de defesa consciente, não meramente de uma ideia a realizar, ou de uma ‘opinião’, ainda que genocida, mas, sim, da defesa do que estava em curso, de um genocídio nitidamente em curso”.

Para Judeh, manifestações como a de Aline Klemt chegam a ultrapassar o incitamento ao genocídio ao povo palestino em Gaza, transbordando sobre as comunidades palestinas em todo o mundo. Ele lembra que nos primeiros dias, quando o noticiário era avassalador em defesa das ações israelenses, os ataques aos palestinos e seus descendentes, e também aos árabes e muçulmanos em geral, em alguns países ocidentais, dispararam. Ele lembrou de caso nos EUA, em que um homem de 71 anos, contaminado pelo noticiário com narrativa pró-Israel, atacou a facadas, em 15 de outubro, uma mulher palestina e seu filho de seis anos. O menino sofreu 26 facadas morreu em decorrência dos ferimentos.

O jurídico da FEPAL seguirá acompanhando este caso, além de diversos outros, idênticos ou semelhantes, em curso no judiciário brasileiro, no RS e em outros estados, todos instaurados a seu pedido.

Agora o Ministério Público do RS determinou a juntada de certidões de antecedentes criminais da indiciada. “Seguiremos acompanhando de perto este caso, para que a lei seja aplicada”, observou Judeh.

Confira a fala da apresentadora


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Pedro Micussi