ONU determina cessar-fogo em Gaza, mas Israel não recua
Já as lideranças do Hamas se dizem prontas para negociar a libertação de reféns em troca de prisioneiros palestinos
Foto: Naaman Omar/Apaimages
O Conselho de Segurança da ONU aprovou, ontem (25), um cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza. A aprovação ocorre quase seis meses após o início do conflito entre Israel e Hamas na Faixa de Gaza, e só foi viabilizada pela abstenção dos Estados Unidos, que tem poder de veto.
A decisão visa um exige um armistício para o mês do Ramadã, período sagrado do Islamismo que vai até o dia 9 de abril. Também “exige a libertação imediata e incondicional de todos os reféns”.
A decisão foi alvo de críticas de autoridades israelenses, que não pretendem cumprir a determinação do Conselho.Conforme nota divulgada pelo escritório do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, o cessar-fogo prejudica tanto “o esforço de guerra como o esforço para libertar os reféns”. O premiê ainda criticou a postura norte-americana.
“Lamentavelmente, os Estados Unidos não vetaram a nova resolução, que apela a um cessar-fogo que não depende da libertação de reféns. Isto constitui um claro afastamento da posição consistente dos EUA no Conselho de Segurança desde o início da guerra”, diz o comunicado.
O ministro das Relações Exteriores israelense, Israel Katz, afirmou em suas redes sociais que “o Estado de Israel não suspenderá a guerra” e que as tropas continuarão a lutar “até que o último dos reféns volte para casa”. Em visita a Washington, o ministro da Defesa, Yoav Gallant, afirmou que o governo não tem “o direito moral de parar a guerra” enquanto ainda houver algum refém em Gaza. Ele qualificou a resolução como “vergonhosa”.
“A resolução diz que capturar civis viola a lei internacional. Mas, por outro lado, apesar do fato de saberem que o Hamas não escutará seus chamados e libertar os reféns, vocês exigem um cessar-fogo. Parem por um instante e pensem nessa contradição moral”, disse.
As lideranças do Hamas, por outro lado, se disseram prontos para negociar a libertação de reféns em troca de prisioneiros palestinos. Em comunicado, o grupo disse ter “disponibilidade” para se envolver “em um processo imediato de troca de prisioneiros que conduza à libertação de prisioneiros em ambos os lados”.
Genocídio em Gaza
Na prática, o Conselho de Segurança não tem como fazer os envolvidos cumprirem a resolução, mas pode impor sanções a Israel, incluindo sanções. Especialmente em um momento em que Netanyahu autorizou que a atividade militar se expandisse de Gaza para Rafah – local para onde se deslocaram quase 1,5 milhão de palestinos aterrorizados pela ofensiva israelense.
Reforça a expectativa de sansões a divulgação do teor de um relatório que deve ser apresentado hoje, no Conselho de Direitos Humanos da ONU, no qual a relatora especial, Francesca Albanese, afirma que “o limite que indica a prática do genocídio por Israel foi atingido”.
“A índole e a escala do ataque israelense contra Gaza e as destrutivas condições de vida impostas [à população civil] revelam uma tentativa de destruir os palestinos fisicamente como um grupo”, afirma o documento.
Conforme o texto, Israel “aboliu a distinção entre objetos civis e objetivos militares. Nas primeiras três semanas da ofensiva, áreas residenciais inteiras no norte de Gaza foram apagadas. Enquanto isso, bairros em áreas ‘seguras’ no sul estavam sendo bombardeadas. Em novembro, a devastação das cidades no norte de Gaza superava a vista em Dresden, em 1945″, escreveu Albanese, referindo-se à cidade alemã alvo de grandes bombardeios dos Aliados na Segunda Guerra Mundial.