Seis anos sem Marielle, seis anos sem justiça!
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Seis anos sem Marielle, seis anos sem justiça!

Neste 14 de março, mais uma vez exigimos: nem esquecimento, nem perdão para Marielle e Anderson!

Israel Dutra 14 mar 2024, 20:10

Foto: Mandato Luana Alves

Seis anos sem Marielle, seis anos sem justiça!

Olhando em perspectiva, o 14 de março de 2018 foi o ponto de inflexão na história política recente. O brutal, covarde e premeditado assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes teve um impacto decisivo no que viria pela frente no Brasil.

O assassinato combinou o que de pior havia no país, a ação das mílicias (verdadeiros ovos da serpente) e o caldo de cultura bolsonarista em ascensão aberta com o chamado “simulacro”, onde dezenas de milhares foram às ruas, em manifestações reacionárias para desviar a irrupção latente indignada com a situação do país. O próximo ato foi o golpe palaciano – onde uma fração da burguesia resolveu apear o PT do poder em meio a crise de popularidade do governo – seguido da agenda anti-direitos de Temer.

O assassinato de Marielle colocou em espiral esses elementos.

Seis anos depois, novamente a história cobra um embate. A necessidade de justiça, reparação e punição se enfrentam com a lentidão das investigações e pedidos de anistia para os crimes cometidos, dando similaridades entre o crime de 2018, o genocídio na pandemia e o golpismo do 8 de janeiro de 2023.

Marielle gigante

Marielle foi uma militante do PSOL carioca, fruto do cenário de combates e esperança que se desenvolveu no Rio de Janeiro com nosso partido muitas vezes à frente. Expressava as posições radicais do PSOL em sua defesa dos direitos dos trabalhadores e as diversas lutas estruturais e interseccionais das mulheres, da negritude, da pauta LGBTQIA+ e da população das favelas que convive diariamente com a violência policial.

Sua execução promoveu uma indignação que teve como resposta histórica algo que seus algozes não imaginavam: as sementes de Marielle frutificaram na forma de muitas outras mulheres negras da periferia ocupando posições de liderança, no parlamento e nas lutas, tendo seu exemplo e imagem como símbolos desse novo momento. 

Nenhuma outra figura política brasileira conseguiu multiplicar seu rostos em camisetas, muros, adesivos, tatuagens. Assistimos pelo mundo, em várias manifestações, o rosto de Marielle estampado, ao lado de ativistas com camisetas de Che Guevara, e Malcon X, por exemplo.

Como muito bem escreveu Luciana Genro:  

As mortes da irmã Dorothy Stang, de Chico Mendes, de Bruno Pereira, de Dom Philips, de Marielle Franco e tantos outros ativistas são o retrato de um Brasil que falha em proteger os defensores dos direitos humanos e do meio ambiente.

O assassinato de Marielle e Anderson permanece sem solução. A reivindicação de justiça para Marielle e a punição para os executores e mandantes do crime ainda não foi alcançada. Mesmo que se tenha avançado na identificação dos executores, ligados às milícias paramilitares da cidade, a verdade sobre os reais mandantes ainda está coberta, exigindo mobilização permanente para que a solução desse caso signifique também que tal tipo de crime não aconteça novamente.

Eles são os mesmos

Os mesmos que atuaram nos porões da ditadura são aqueles que hoje estão nas milícias. A banda podre das forças de segurança é, ao mesmo tempo, a origem destes criminosos paramilitares e da tropa de choque do bolsonarismo. Os setores do crime organizado oriundo das forças de segurança (se mantendo ainda dentro delas ou não) estão diretamente ligados à extrema direita através das relações escusas em diversos níveis: controle do jogo do bicho, do transporte alternativo, da venda de materiais de construção e outros ítens básicos para territórios controlados, entre outros métodos amplamente disseminados nas periferias do Rio de Janeiro.  

É evidente que a autoria intelectual do crime contra Marielle e Anderson se encontra nesse meio, no qual o condomínio Vivendas da Barra curiosamente surge como um ponto de destaque. E, ainda que as investigações estejam inconclusas, existem relações políticas diretas entre o crime de 2018 e o atual bolsonarismo tanto na difamação da memória de Marielle como na resistência contra as investigações que deveriam levar aos reais mandantes do crime.

A execução de Marielle foi um crime político. Marielle foi morta por ser do PSOL, por defender as bandeiras dos de baixo, seu programa e suas ideias. E todos nós sabemos quem está do lado de lá dessa luta.

Nem esquecimento, nem perdão: justiça para Marielle e Anderson!

A luta por justiça é estratégica tanto para honrar a memória de Marielle como para que este tipo de crime nunca mais aconteça, mas completar mais um ano sem desvelar o enredo que resultou no covarde crime dá um sinal de impunidade para novos ataques do tipo. 

É um exemplo a jornalista Eliane Brum, que posta todos os dias em sua rede: “quem mandou matar Marielle? E Porque?” com a contagem de dias sem respostas. Nesse 14 de março chegamos a 2192 dias. 

Diferente do que buscam demonstrar os defensores da conciliação de classes, ainda continuamos num momento político crítico e o 8 de janeiro de 2023 foi o sinal mais agudo disso. Ainda que a extrema direita esteja numa momentânea defensiva política, seu enraizamento social em amplos setores populares e a força cada vez maior de grupos milicianos não só no Rio, mas pelo Brasil, coloca a necessidade de punição para os mandantes do assassinato de Marielle como uma pauta permanente contra esse processo.

Defendemos uma agenda de mobilização que combine a luta antifascista, tendo como enfase à prisão de Bolsonaro, dos generais golpistas e de seus financiadores; da necessidade intensa por justiça por Marielle; e o apoio às reinvidicações dos trabalhadores e de todo povo. 

Continuaremos nas lutas e nas ruas, honrando a memória de Marielle e exigindo justiça para esse e tantos outros crimes contra militantes sociais causados pela extrema direita. 

Marielle e Anderson presentes! Nem esquecimento, nem perdão!


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Pedro Micussi