Butim para Lessa envolvia chefia de milícia, loteamento e US$ 10 mi
Chiquinho Brazão

Butim para Lessa envolvia chefia de milícia, loteamento e US$ 10 mi

Em delação premiada, exibida pela TV Globo, assassino de Marielle revelou que irmãos Brazão ofereceram “sociedade” na exploração de serviços ilícitos em bairro clandestino

Tatiana Py Dutra 27 maio 2024, 12:17

Foto: Mario Agra/Câmara dos Deputados

O programa Fantástico, da Rede Globo exibiu neste domingo (26), trechos da delação premiada do ex-PM Ronnie Lessa, um dos assassinos da vereadora do PSOL Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. Além de admitir ter cometido o crime, em duas horas de delação, ela revela os mandantes da execução, qual seria seu pagamento e o destino da arma.

Ainda que partes da delação já houvessem sido reveladas recentemente – como o nome dos mandantes, por exemplo -, o vídeo choca pelo gigantismo dos planos da milícia. À Polícia Federal, Lessa revelou não ter sido contratado como matador de aluguel, apesar de ter recebido uma oferta de US$ 10 milhões pelo “serviço”. Em sua avaliação, foi uma proposta de “sociedade” para um empreendimento. 

Isso porque os mandantes do assassinato – o ex-conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro, Domingos Brazão, e seu irmão, o deputado federal Chiquinho Brazão -, ofereceram a ele e a um de seus comparsas, Macalé (apelido do ex-PM Edimilson de Oliveira), sociedade em um loteamento clandestino na Zona Oeste do Rio.

O plano era instalar no local uma nova milícia, sob o comando de Lessa, e explorar negócios ilegais de transporte por kombi, gatonet e venda de gás. O loteamento ainda seria usado como curral eleitoral dos Brazão.

“Era muito dinheiro envolvido. Na época, daria mais de US$ 20 milhões. A gente não está falando de pouco dinheiro (…) Ninguém recebe uma proposta de receber US$ 10 milhões simplesmente para matar uma pessoa. Uma coisa impactante realmente”, ,declarou Lessa.

“A questão valiosa é depois. A manutenção da milícia que vai trazer voto”.

‘Marielle vai atrapalhar’

O ex-PM disse que Domingos Brazão estava determinado a eliminar Marielle porque a vereadora orientava as pessoas a não aderirem aos novos loteamentos das milícias. 

“Ela teria convocado algumas reuniões com várias lideranças comunitárias, se eu não me engano, no bairro de Vargem Grande ou Vargem Pequena [zona oeste carioca], justamente para falar sobre esse assunto, para que não houvesse adesão a novos loteamentos da milícia. Isso foi o que o Domingos [Brazão] passou para a gente. Que a Marielle vai atrapalhar e para isso ela tem que sair do caminho.”

Lessa também acusou o delegado Rivaldo Barbosa, que assumiu chefia da Polícia Civil do Rio um dia antes do assassinato de Marielle, como um dos autores intelectuais do crime. O policial teria recebido R$ 400 mil para obstruir as investigações do caso. Rivaldo foi preso em março, junto com os Brazão. Segundo denúncia da PGR, o delegado usou seu cargo “para oferecer a garantia necessária aos autores intelectuais do crime de que todos permaneceriam impunes”. Lessa está preso desde março de 2019. 

Espião no PSOL e Freixo como alvo

Na delação, Lessa revelou ainda a intenção inicial de matar o ex-deputado federal do PSOL e atual presidente da Embratur, Marcelo Freixo. Ele foi descartado como alvo porque o ex-PM e os Brazão concluíram que a projeção do político, hoje no PT, poderia catapultar a repercussão do crime. Renato Cinco e Tarcísio Motta também teriam sido cogitados como alvo por Domingos Brazão.

“Ronnie Lessa é um psicopata. É uma pessoa sem qualquer respeito à vida. Quantas pessoas ele matou antes da Marielle? A psicopatia dessa pessoa, bem como sua covardia, se somam a um Rio de Janeiro onde crime, polícia e política não se separam”, disse Freixo ao Fantástico.

Na delação, Lessa ainda afirmou que os irmãos Brazão infiltraram duas pessoas no PSOL em 2017, um ano antes do crime. Laerte Silva de Lima e a mulher, Erileide Barbosa da Rocha seriam integrantes da milícia de Rio das Pedras, na Zona Oeste do Rio, e levariam informações sobre as estratégias e planos do partido para os chefes.

“O Domingos [Brazão], por exemplo, não tem papas na língua. Ele simplesmente fala que… ele colocou, digamos assim, um espião no PSOL, no partido da Marielle. E o nome desse espião seria Laerte, que é uma pessoa do Rio das Pedras, que depois eu soube se tratar de um miliciano. Uma pessoa responsável por várias atividades da milícia lá. E essa pessoa trazia informações para os irmãos com relação ao PSOL em si”, declarou Ronnie.

Em nota, o PSOL informou que Laerte e Erileide foram expulsos do partido em dezembro de 2020.

 “Sua real atuação já era de conhecimento do partido desde meados de 2019, mas não foram tomadas iniciativas por estarem sob investigação. Os fatos mostram que as milícias não possuem limites em sua atuação criminosa e contam, por muitas vezes, com o apoio de agentes do Estado, quando eles próprios não o são”, diz o comunicado. “O PSOL segue na luta por justiça até que todos os envolvidos no assassinato de Marielle e Anderson sejam julgados e condenados.”

Defesas negam

Os Brazão negam autoria do crime. Os advogados de Domingos Brazão disseram ao Fantástico que não existem elementos que sustentem a versão de Lessa. Já a  defesa de Chiquinho afirmou que a delação de Lessa “é uma desesperada criação mental na busca por benefícios, e que são muitas as contradições, fragilidades e inverdades”.

Rivaldo Barbosa também nega envolvimento no crime e sua defesa afirma que ele nunca teve contato com os irmãos Brazão. 


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