Luciana Genro: “não foi só a chuva”
A tragédia no Rio Grande do Sul não foi só a chuva. Foi também muita falta de investimento
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O governo do estado tem dito que o orçamento da Defesa Civil foi de R$117 milhões para 2024. Mas este número está inflado – contendo, por exemplo, o que foi destinado para a Operação Verão Total. As despesas efetivamente relacionadas à gestão de riscos e de crises são de pouco mais de 10% desse valor.
Esse número piora quando verificamos o quanto desse valor já foi, de fato, direcionado à inteligência preventiva – apenas R$640 mil, equivalente a 6% do previsto para o ano. Após as enchentes desastrosas de 2023, esperava-se que a prioridade do estado fosse a prevenção. No entanto, os valores investidos seguem sendo insuficientes
Na realidade, a Defesa Civil nunca recebeu a atenção devida dos governos, especialmente em termos de prevenção a desastres. A ação sempre foi reativa, desarticulada e desorganizada, havendo ausência de gestão de riscos e protocolos de gestão de crise muito frágeis.
Para fins de comparação, analisei os valores gastos pelo estado e comparei com tragédias semelhantes ocorridas em outros países, como o furacão Katrina nos Estados Unidos. Lá, as obras de engenharia realizadas para evitar uma nova catástrofe custaram cerca de 14 bilhões de dólares e levaram 10 anos – uma média de R$7,1 bilhões por ano, valor 60 vezes maior que o montante alegadamente reservado para a Defesa Civil gaúcha neste ano.
Na Holanda, país conhecido por estar abaixo do nível do mar, grandes obras foram realizadas a partir de 1953, custando um total de aproximadamente R$66 bilhões. Mesmo com o sistema de segurança já consolidado, o país segue investindo cerca de 1,3 bilhão de dólares (R$6,6 bi) por ano para manter o controle das águas – 56 vezes mais que o Governo alega como previsto para o Estado.
Enquanto isso, o próprio governador afirmou que o prejuízo estimado decorrente da tragédia atual já chega a R$19 bilhões, ou seja, 80 vezes o valor gasto em prevenção desde 2020. E os gastos devem aumentar! Investir em prevenção de tragédias como essa evitaria mortes, deslocamentos forçados, prejuízos à saúde mental e perdas materiais para a população e, além de tudo, custaria muito menos aos cofres públicos.