Uma vitória do “progressismo” no México – e agora?
MX TV ALFOMBRA MONUMENTAL

Uma vitória do “progressismo” no México – e agora?

Uma análise da recente vitória de Claudia Sheinbaum nas recentes eleições presidenciais mexicanas

Fabrice Thomas 24 jun 2024, 10:37

Foto: Wikimedia Commons

Via International Viewpoint

Ao contrário dos recentes resultados eleitorais na América Latina (Equador, Salvador, Argentina, etc.), o México acaba de experimentar uma vitória retumbante do “progressismo” durante as eleições presidenciais, legislativas e em vários governos estaduais.

Nas eleições presidenciais, foi Claudia Sheinbaum, que se apresentou como herdeira e sucessora de Andrés Manuel Lopez Obrador (AMLO), apoiada por seu partido, MORENA (Movimento de Regeneração Nacional), que venceu com folga seu concorrente, o candidato da coalizão de três partidos de direita (PRI, PAN, PRD). Com 60% dos votos expressos, ela esmagou a candidata de direita, que, apesar de ser fortemente apoiada pela grande maioria da mídia, obteve apenas 30% dos votos. Nas eleições legislativas, a coalizão de MORENA conquistou 365 das 500 cadeiras e terá uma maioria qualificada que possibilitará a aprovação de leis constitucionais, o que não aconteceu durante a presidência de AMLO.

Rejeição popular das políticas

Esses resultados confirmam, em primeiro lugar, a profunda rejeição de uma grande maioria do povo mexicano aos partidos que dominaram e bloquearam a vida política por décadas. Já em 2018, a vitória de AMLO havia abalado o regime corrupto estabelecido pelo PRI, reproduzido pelo PAN. Os partidos dominantes esperavam que as dificuldades econômicas e sociais desgastassem rapidamente o governo de Lopez Obrador e tentaram incessantemente desestabilizá-lo durante os seis anos de seu mandato presidencial (não renovável no México). No entanto, apesar das profundas limitações de suas políticas, as medidas econômicas e sociais tomadas em favor dos setores mais desfavorecidos da população e as restrições impostas às políticas e práticas mais violentas do neoliberalismo garantiram que seu governo tivesse amplo apoio da maioria da população.

Essa popularidade foi transferida para sua candidata, cujo mandato anterior à frente da prefeitura da Cidade do México e posições feministas também contribuíram para sua grande vitória.

Fim da “ditadura perfeita”

Devemos fazer um balanço do que significa esse triunfo eleitoral. O regime que prevaleceu no México por quase um século (“a ditadura perfeita”), em que um partido, o PRI, concentrava todos os poderes, administrava um sistema corrompido até a medula, controlava todas as organizações de massa, inclusive os sindicatos, ganhava todas as eleições, fraudando-as quando necessário, em uma estrutura formalmente democrática, parece ter sofrido um golpe mortal. Depois de ter sido obrigado a compartilhar parte do poder governamental no início dos anos 2000 com um partido de direita, o PAN, e uma cisão de suas próprias fileiras, o PRD, o PRI agora tem apenas 10% dos votos e, com seus aliados, encontra-se em minoria no parlamento e nos governos estaduais.

A campanha eleitoral foi marcada por uma profunda polarização. Às acusações mais delirantes da direita e da mídia contra López Obrador e seu candidato, eles responderam com mobilizações populares maciças. Isso resultou em uma forte politização entre as classes populares e em um comparecimento excepcionalmente alto, 60% como em 2018, durante a eleição de AMLO como presidente.

O amplo crédito de Claudia Sheinbaum

A rejeição confirmada dos partidos do antigo sistema não garante uma mudança real e profunda para as classes trabalhadoras. A política do presidente cessante baseou-se em um modo personalista de governo, em relações muito ambíguas com os movimentos sociais e em uma economia que certamente era parcialmente redistributiva, mas sempre baseada no extrativismo. AMLO também não conseguiu reduzir a influência generalizada dos traficantes de drogas e a violência endêmica, principalmente contra as mulheres. Claudia Sheinbaum se beneficia de um crédito que hoje excede o de seu antecessor, e ela tem uma maioria parlamentar que inicialmente lhe dá meios adicionais para promover reformas radicais. Será que ela vai querer? Será que ela conseguirá?

O fato de que, entre os representantes recém-eleitos do partido MORENA, um grande número seja de desertores dos antigos partidos do sistema e que nenhum seja da esquerda do partido, não é um bom sinal nesse sentido. Mas a pressão da intervenção popular e dos movimentos sociais que se mobilizaram na campanha pode empurrá-la em outra direção.


TV Movimento

Balanço e perspectivas da esquerda após as eleições de 2024

A Fundação Lauro Campos e Marielle Franco debate o balanço e as perspectivas da esquerda após as eleições municipais, com a presidente da FLCMF, Luciana Genro, o professor de Filosofia da USP, Vladimir Safatle, e o professor de Relações Internacionais da UFABC, Gilberto Maringoni

O Impasse Venezuelano

Debate realizado pela Revista Movimento sobre a situação política atual da Venezuela e os desafios enfrentados para a esquerda socialista, com o Luís Bonilla-Molina, militante da IV Internacional, e Pedro Eusse, dirigente do Partido Comunista da Venezuela

Emergência Climática e as lições do Rio Grande do Sul

Assista à nova aula do canal "Crítica Marxista", uma iniciativa de formação política da Fundação Lauro Campos e Marielle Franco, do PSOL, em parceria com a Revista Movimento, com Michael Löwy, sociólogo e um dos formuladores do conceito de "ecossocialismo", e Roberto Robaina, vereador de Porto Alegre e fundador do PSOL.
Editorial
Israel Dutra | 06 dez 2024

A greve da PepsiCo colocou a luta contra a escala 6×1 no chão da fábrica

A lutas dos trabalhadores em São Paulo foi um marco na mobilização para melhores jornadas de trabalho.
A greve da PepsiCo colocou a luta contra a escala 6×1 no chão da fábrica
Edição Mensal
Capa da última edição da Revista Movimento
Revista Movimento nº 54
Nova edição da Revista Movimento debate as Vértices da Política Internacional
Ler mais

Podcast Em Movimento

Colunistas

Ver todos

Parlamentares do Movimento Esquerda Socialista (PSOL)

Ver todos

Podcast Em Movimento

Capa da última edição da Revista Movimento
Nova edição da Revista Movimento debate as Vértices da Política Internacional

Autores

Pedro Micussi