A campanha salarial, 20 anos depois da greve de 2004
As principais conquistas da categoria bancária vieram após movimentos de paralisação. E talvez seja preciso parar de novo. É hora de chamar as assembleias
Foto: Elza Fiúza/Agência Brasil
Nós, bancários, estamos no meio de um processo de negociação marcado por “mesas de enrolação” entre o Comando Nacional da Contraf/CUT e da Contec com a Federação Nacional dos Bancos (Fenaban). A negociação é feita a portas fechadas em hotel de luxo da capital paulista, bem longe da categoria bancária. Um teatro que a categoria já conhece começa com uma proposta abaixo da inflação e termina com um “aumento real de 0,5%”.
É simbólico que, em 2024, completam-se 20 anos da greve de uma greve histórica, um movimento que marcou por todo um período a categoria. Em 2004, o comando da Contraf/CUT tinha um acordo pronto para assinar com os banqueiros, com o aval do governo Lula, que estava no seu primeiro mandato. Contudo, milhares de bancários, em assembleias presenciais gigantescas, rejeitaram a proposta em todo o Brasil e decretaram greve nacional. A greve durou 30 dias – e tanto a Contraf quanto os banqueiros e o governo tentaram derrotá-la. Porém, não conseguiram e as consequências organizativas impactaram a categoria bancária por vários anos.
A burocracia cutista que dirigia os principais sindicatos do país perdeu a eleição do sindicato do Rio Grande do Norte e no Maranhão, além da Associação dos Bancários do Amazonas e do Banco do Pará. Mesmo na sede do “império”, a oposição teve 35% dos votos no o Sindicato de Bancários, ganhando de lavada nos bancos públicos e, mesmo nos bancos privados, venceu em alguns prédios.
Mas o principal reflexo é que a burocracia se viu obrigada a defender greve nas próximas campanhas salariais – tanto para evitar um desgaste ainda maior quanto para não perder o controle do movimento. De 2003 até 2016, a categoria bancária fez greve todos os anos, enfrentando os banqueiros e o governo.
Precisamos lembrar que todas as conquistas da categoria foram frutos de greve. A jornada de seis horas foi fruto da primeira; o fim do trabalho nos sábados foi fruto da greve de 1962; direitos mais recentes, como abono de 5 dias e décima terceira cesta alimentação foram frutos de greves. Até direitos organizativos, como o de eleger delegados sindicais por local de trabalho nos bancos públicos, foram conquistados nesses movimentos.
As mudanças estruturais da categoria, como o home office, a massificação do uso de aplicativos, os escritórios digitais, e a diminuição do peso das agências nas operações bancárias determinariam o fim da efetividade do instrumento da greve? O funcionamento do sistema dos bancos, a análise do crédito, dos financiamentos, das operações de câmbio, tudo depende de bancários. Sem falar que o atendimento presencial continua tendo sua importância.
O que mudou foi que uma greve precisa ser construída de dentro para fora. Os bancários foram capazes de organizar no início do século 20, sendo uma das primeiras categorias a fazer greve no Brasil, enfrentando a aristocracia rural, que era proprietária dos bancos da época. Temos a certeza que os bancários estão à altura de enfrentar as mudanças estruturais e continuar a história de luta da categoria.
Os bancários foram capazes de se organizar no início do século 20, sendo uma das primeiras categorias a fazer greve no Brasil, enfrentando a aristocracia rural que era proprietária dos bancos na época. Temos a certeza que os (as) bancários (as) estão à altura de enfrentar as mudanças estruturais e continuar a história de luta da categoria.
Os sindicatos ligados à oposição nacional já têm assembleias marcadas para decretar greve. Nós chamamos a Contraf/CUT para indicar uma rodada nacional de assembleias para a categoria decidir decretar greve ou não. Até agora, o Sindicato de Bancários de SP, Osasco e Região não fez nenhuma assembleia nesta campanha salarial. Será que o fantasma de 2004 impede os sindicatos ligados a Contraf/CUT de realizar assembleias?
É desonesto fazer assembleia um dia antes do fim do acordo para chantagear a categoria aceitar uma proposta rebaixada, com a ameaça da perda de direitos com o fim da vigência da convenção coletiva.