Breve contextualização das eleições majoritárias em Betim/MG
Uma reflexão sobre o cenário eleitoral da cidade mineira e as perspectivas da esquerda local
O acentuado avanço da extrema direita nos últimos anos, seja a nível mundial, seja a nível nacional, intensificou, sem dúvida alguma, as eleições municipais que ocorrerão em outubro deste ano. No estado de Minas Gerais, grupos ligados ao bolsonarismo declararam que pretendem ganhar a maioria das prefeituras, incluindo a de Betim.
O cenário político para a esquerda no município de Betim chega a ser caótico, quando o assunto é a disputa pelo executivo, tendo como único representante de esquerda o histórico morador da cidade: Zulu, militante do PCB. Mas a acirrada disputa ficará entre dois nomes: de um lado – defendendo abertamente os interesses da extrema direita – está o candidato indicado pelo atual prefeito Vitório Medioli, Heron Guimarães, filiado ao União Brasil; ecomo “oposição”, desponta o Dr. Vinícius, do Partido Verde (PV).
Heron Guimarães não tem trajetória eleitoral, concorre nestas eleições pela primeira vez, como indicação do atual prefeito Vitório Medioli. Entretanto, o projeto político apresentado nada de novo possui, pois dará continuidade àlinha política de Medioli, em que privilegia os interesses da burguesia em detrimento dos interesses da classe trabalhadora. E nisso, em especial os servidores públicos da cidade, sabem o quanto foi doloroso os oito mórbidos anos de mandato de Vitório Medioli – cujas perseguições fez o medo se transformar em rotina em seus postos de trabalho. Segundo algumas discussões na cidade, o nomede Heron fora escolhido por Medioli após inúmeros escândalos envolvendo a primeira opção de candidato do atual prefeito, Bruno Cipriano, que devido sua baixa popularidade, foi inviabilizado enquanto candidato. E assim, segue-se com Heron enquanto candidato da situação e Cleusa Lara do Partido Liberal (PL), atual vice-prefeita da cidade, enquanto candidata a vice-prefeita novamente.
Já Dr. Vinícius, ao contrário de seu principal adversários nas urnas, possui experiência tanto em cargos quanto em disputas eleitorais: foi vereador, entre 2013-2016, eleito pelo Democratas, mas encerrou o mandato pelo Solidariedade. Ainda pelo Solidariedade, em 2016, concorreu ao cargo de vice-prefeito na chapa encabeçadapor Vitório Medioli; mas rompendo com Medioli, nas eleições de 2020 foi candidato a prefeito pelo partido REDE Sustentabilidade; e posteriormente migrando para o PODEMOS, disputou para Deputado Federal em 2022. Por fim, agora filiado ao Partido Verde (PV), mais uma vez concorre ao cargo de prefeito em 2024.
O Partido dos Trabalhadores decidiu não disputar enquanto cabeça de chapa a majoritária em Betim; devido aos encaminhamentos acordados dentro da federação Brasil da Esperança (PT, PV e PCdoB), optou-se pela indicação da professora e sindicalista Ana Paula enquanto vice de Dr. Vinícius. Diante deste cenário, um ponto merece destaque: por ocupar cargos dentro da atual gestão de extrema direita de Medioli, o PCdoB declarou abertamente apoio a Heron Guimarães – chegou a ser lastimável, para não dizer vergonhoso, ver jovens da União da Juventude Socialista (UJS – juventude do PCdoB), com a blusa do Che Guevara, cantando palavras de ordem em prol do nome do maior representante dos interesses políticos do capital na cidade de Betim! Lamentável!
É sabido que o PT ameniza, de certa forma, toda essa situação tendo uma mulher aguerrida na luta como vice na chapa da federação Brasil da esperança. Igualmente sesabe que se Ana Paula fosse a candidata e Dr. Vinicius ovice a conversa seria outra. Todavia, diante do cenário apresentado, estamos convencidos de que o PT não tendo a candidatura principal acaba apenas amenizando, pois a realidade concreta mostra que a disputa será entre a extrema-direita e a direita, para o executivo.
A Federação PSOL-REDE declarou apoio ao Dr. Vinícius, gerando algumas contradições internas no PSOL. Devido ao jogo burocrático, é factual que o poder de decisão pelo voto daria a palavra final para a REDE; porém, parteconsiderável do partido agradou-se da decisão, além desetores do PSOL, como a Revolução Solidária, que já iniciaram conversas com outros grupos (embasados na decisão da federação) ligados à direita no município.
Porém, nós do Movimento Esquerda Socialista (MES), seguimos cautelosos, sempre com olhar crítico, provocando reflexões e análises internas diante deste cenário no qual estamos inseridos. Pois como diziam os antigos, todo cuidado é pouco!