Sete em cada dez autônomos querem ter carteira assinada
Pesquisa do FGV-Ibre revela insegurança dos brasileiros com a informalidade ampliada pela Reforma Trabalhista
Foto: Pedro Ventura/Agência Brasil
Sete em cada dez autônomos querem trabalhar com carteira assinada. É o que revela uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Economia da FGV (FGV-Ibre). O país conta hoje com 25,4 milhões de trabalhadores autônomos – cerca de um quarto da população ocupada no Brasil (100,2 milhões).
O número de pessoas que trabalham sem vínculo empregatício ou na informalidade cresceu 17% desde a Reforma Trabalhista, implantada sob Temer, há sete anos. A implantação desse pacote de medidas incentivou a informalidade e flexibilizou os direitos trabalhistas com a promessa de criar milhões de novos empregos, o que não se concretizou. As empresas, porém, se beneficiaram com o enfraquecimento de sindicatos, com a limitação do acesso do trabalhador e à Justiça e, até mesmo, com o parcelamento de férias. Isso empurrou muitos trabalhadores para as informalidades e alimentou um mercado que faz contratos de tempo parcial.
O FGV-Ibre entrevistou 5.321 autônomos e constatou que a maioria deseja trabalhar com carteira assinada. Entre os que têm renda de até um salário mínimo (R$ 1.412), o desejo alcança 75,6% dos entrevistados. Entre os que recebem até três mínimos, chega a 70,8%; e 54,6% dos que ganham mais de três salários têm o mesmo sonho.
“A pesquisa demonstra a insatisfação das pessoas com a reforma: os informais que ganham menos são os que mais querem carteira assinada. É uma opção menos pior. O emprego com carteira assinada não é bom, mas é melhor ter FGTS, férias, 13º e seguro-desemprego”, comentou o professor da Unicamp José Dari Krein, à Folha de S.Paulo.
Conforme Rodolpho Tobler, pesquisador da FGV Ibre responsável pelo levantamento, a insatisfação e a insegurança do trabalhador autônomo também se refletem na produtividade. Segundo ele, muitos atuam em áreas para as quais não foram preparados, por pura necessidade. Também frustra essa parcela da população a promessa de sucesso no mercado informal, uma vez que ganhar dinheiro por contra própria não é tão fácil quanto foi propagandeado pela Reforma.
“Esses autônomos com renda mais baixa preferem ter carteira assinada e benefícios sociais, o que o terceirizado não tem”, diz Tobler
“O fundamento da reforma é a ideia de que cada trabalhador tem autonomia: ele não precisa de instituições de defesa porque teria poder de igualdade com o empregador. Nesse incentivo à individualização e competição, algumas pessoas vão se dar bem, mas a maioria, não”, acrescenta Krein.