‘Um Viado Vermelho’
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‘Um Viado Vermelho’

Em seu novo livro, James Green compartilha experiências pessoais e comenta sobre os desafios enfrentados pelo movimento LGBTQIAPN+ no Brasil

Fábio Felix 16 ago 2024, 09:02

Foto: Reprodução

A história de James Green é um exemplo importante para refletirmos sobre a luta LGBT+ no Brasil ao longo das últimas décadas. Tive a oportunidade de conhecê-lo recentemente durante o lançamento de seu novo livro, “Escritos de um Viado Vermelho”, onde ele compartilha suas experiências pessoais e comenta sobre os desafios enfrentados pelo movimento LGBTQIAPN+ no país.

Green chegou ao Brasil pela primeira vez em 1976 e, mesmo durante a ditadura militar, se apaixonou pelo país. Inicialmente, ele planejava ficar apenas seis meses, mas acabou permanecendo por seis anos. O livro me chamou a atenção pela forma como aborda a relação entre o marxismo e a luta LGBT, especialmente o trotskismo. Durante nossa conversa, Green ressaltou como os ativistas LGBT oriundos do trotskismo estavam preparados e ocupavam posições de destaque em espaços políticos e intelectuais, como o renomado acadêmico Renan Quinalha e Symmy Larrat, atual Secretária Nacional LGBT do Governo Federal.

O livro também relata de maneira leve a fundação do Grupo Somos em 1978, que reuniu a primeira geração do movimento homossexual no sudeste do Brasil, e discute as disputas políticas enfrentadas pelo grupo desde sua criação. Um tema recorrente, porém fundamental, foi a questão sobre se o movimento deveria focar exclusivamente nos direitos civis da comunidade LGBT ou se deveria se aliar às lutas mais amplas dos grupos oprimidos. Essa questão foi a primeira grande polêmica enfrentada pela organização.

James Green esteve na linha de frente dessa batalha, como fundador do grupo e militante da Convergência Socialista, uma organização trotskista que foi uma das fundadoras do PT e originou diversos outros grupos, como o Movimento de Esquerda Socialista (MES), que atua no PSOL. Naquele debate, Green foi fundamental ao defender a participação do Somos na manifestação do Movimento Negro Unificado e na greve dos metalúrgicos, buscando compreender como o sistema cria mecanismos de dominação contra diferentes grupos sociais.

No entanto, naquele contexto, a defesa feita por Green não foi fácil. Havia uma verdadeira rivalidade entre os movimentos homossexuais e os partidos de esquerda, e isso não era sem motivo. Os homossexuais eram marginalizados nas organizações de esquerda, sua pauta era vista como não prioritária e eram tratados com preconceito. Algumas organizações chegavam a descrever a homossexualidade como um distúrbio comportamental e moral, e a maioria delas preferia não ter gays e lésbicas entre seus quadros.

A Convergência Socialista também não estava imune a essa realidade, mas, segundo o relato de Green, foi uma das primeiras organizações a incluir em seu programa a defesa dos direitos dos gays e lésbicas. Ele argumenta que seria um erro não se aliar ao movimento dos trabalhadores e que essa falta de conexão foi a raiz dos grupos LGBT liberais que surgiram posteriormente na política brasileira. Defender apenas a pauta LGBT sem considerar sua interseccionalidade e conexão com outras questões estruturais seria um equívoco. É importante ressaltar que não podemos atribuir a culpa apenas a uma ala do

movimento homossexual que estava surgindo naquela época, mas também à rejeição da própria esquerda em debater essa temática com prioridade e empatia.

Além de recomendar o livro *Escritos de um Viado Vermelho*, acredito que a discussão sobre a estratégia do movimento LGBT brasileiro, assim como o debate sobre como os partidos de esquerda encaram essa pauta, continua mais atual do que nunca. O comportamento de setores da esquerda que negligenciam e negociam a pauta dos direitos da comunidade, tentando encaixá-la em categorias como “agenda de costumes” ou “identitária”, revela mais um mecanismo de exclusão e homotransfobia. O PSOL tem sido um protagonista importante na luta política fora do armário e desempenha um papel crucial na garantia de que nossos direitos estejam devidamente representados. Desde o movimento homossexual fundado na década de 70, conquistamos muito, mas não podemos baixar a guarda. Temos grandes desafios no enfrentamento à extrema direita e ao fundamentalismo religioso.


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