A reta final da campanha em São Paulo
Considerações sobre as eleições paulistanas e os impasses de sua reta final
Última semana de campanha. Vários amigos e camaradas perguntando sobre análises, palpites e incertezas nos últimos dias do primeiro turno das eleições em São Paulo.
É uma disputa apertada, todos os indicativos demonstram essa realidade. Muitos perguntam sobre a oscilação entre as pesquisas, onde diferentes institutos apontam cenários distintos, às vezes, opostos.
Escrevemos alguns apontamentos sobre os primeiros momentos da campanha, a aproximação de Nunes para colher os votos do bolsonarismo, a aparição do fenômeno Marçal e agora estamos diante do “afunilamento” das tendências vistas nos últimos 45 dias. Registro aqui alguns pontos para a discussão e ação.
Um breve comentário sobre as pesquisas
O chamado “mercado” de pesquisas eleitorais mudou muito nos últimos anos, assim como a própria forma das eleições também mudou. Durante décadas tivemos a hegemonia de dois grandes institutos: o Ibope e o Datafolha, numa metodologia muito parecida, com certa credibilidade. Salvo gritantes exceções, em geral, os dados finais não destoavam tanto das tendências que apareciam nas pesquisas, incluídas, por óbvio, suas margens de erro.
Com o fim do Ibope – que o Ipec tem como herdeiro sem o mesmo prestígio – e a diminuição do número de cidades operadas pelo Datafolha, cresceram outros institutos, que usam de outras ferramentas de coleta de dados. Além disso, com o crescimento de novos institutos na “praça” também ficam mais evidentes e explícitas certas inclinações políticas que antes ficavam menos evidentes.
Creio que essa é a base para a disparidade das pesquisas em geral, e por óbvio, dada a proporção de São Paulo, a disputa da prefeitura paulistana.
Vejamos as seguintes pesquisas:
- Paraná Pesquisas: Nunes 28%; Boulos 24,9%; Marçal 20, 5%.
- Quaest: Nunes 25%; Boulos 23%; Marçal 20% .
- Atlasintel : Boulos 28,3% ; Nunes 20,9% ; Marçal 20, 9%.
- Real Time Big Data: Nunes 27%; Boulos 24%; Marçal 21%.
- Datafolha: Nunes 27%; Boulos 25%; Marçal 21%.
Tendências situacionistas nas capitais e grandes cidades
Para pensar nas tendências nacionais mais gerais, podemos afirmar que na maioria das disputas há uma tendência à reeleição, com uma boa presença do centrão e dos partidos mais fisiológicos. É algo que se explica também pela falta de grandes movimentos dentro da sociedade, uma eleição marcada por poucas “novidades”.
É mais uma tendência do que uma regra geral, até porque sendo uma eleição municipal, as pautas locais, a lógica dos grupos de poder e pressão e a eficácia dos gestores políticos também influem diretamente.
Os atuais prefeitos lideram com folga, por exemplo, no Rio de Janeiro, Recife, Macapá, Florianópolis, entre outras. Há chances da esquerda estar no segundo turno, além de SP, em Porto Alegre, Natal, Goiânia e Teresina, para dar um parâmetro.
É preciso ter em conta esse dado. No estado de São Paulo, os atuais prefeitos e seus indicados lideram com folga em polos como Sorocaba, Santos e Osasco.
A má gestão de Nunes e sua inexperiência política deixam o caminho mais complexo. Contudo, a falta de opções para a burguesia, e suas disputas também ajudam Nunes a obrigar a cerrar fileiras.
O Momento Datena
A campanha começou com o fenômeno Marçal chamando a atenção e voando longe. Houve euforia no começo da campanha.
Contudo, um momento determinado alterou essa dinâmica, por múltiplos fatores. Um dos elementos foi o polêmico debate da TV Cultura, onde Datena assentou uma cadeirada em Marçal.
Quase como um personagem trágico, Datena, que estava ameaçando retirar sua candidatura, de um só golpe, “parou” a sanha de Marçal e produziu o principal “meme” da campanha.
Para além do necessário repúdio à violência na campanha – que seguiu, com dias mais tarde, um dirigente da campanha de Marçal desferindo um soco em assessor de Nunes nos bastidores de outro debate – o “momento Datena” expressou um freio aos impropérios de Marçal, colocando um limite na sua verborragia. O próprio Marçal teve que se adequar e mudar sua estratégia narrativa nos episódios seguintes.
De qualquer forma, é preciso ver em perspectiva o lugar de Datena e do PSDB neste pleito. A cadeirada despertou simpatia porque simbolizou o que muitos queriam diante da postura do ex-coach. Por outro lado, Datena é uma expressão da crise geral da campanha e do esgotamento do projeto tucano em São Paulo. Após a morte de Covas, o derretimento de Dória, a passagem de Alckmin para o campo lulista, a candidatura de Datena é o último ato da agonia do partido mais importante da política paulista na Nova República. O partido da burguesia paulista em crise é a expressão da crise da própria representação política das classes proprietárias no estado e na capital.
Marçal, estagnado e resiliente
É fato que Marçal estagnou, por suas tolices, indicando que não era tão todo poderoso quanto arrotava.
De qualquer forma, Marçal questionou pela hegemonia absoluta de Bolsonaro e sairá maior do que entrou na campanha. Não indo ao segundo turno, mas superando a barreira dos 20% e cativando um público fiel – e atrasado – ele sai como um nome próprio da extrema direita, tendo que barganhar e seguir lutando dentro dessa constelação, usando das redes sociais e evitando que seja golpeado pelas Justiça ou outros aparatos.
Marçal (ainda) não está totalmente fora da disputa, correndo por fora pela segunda vaga ao segundo turno. Contudo, ao que parece, precisaria de muito mais apoio, em quantidade e qualidade, para ser levado à reta final, visto que a operação ao redor de Nunes, que vai desde um forte compromisso nos aparelhos privados de hegemonia nos bairros mais populosos até acordos com os setores determinantes da burguesia atuante, se intensificou nas últimas semanas.
Os últimos dias
A Campanha Boulos convocou um ato na praça Roosevelt, mas não mudou o conjunto da campanha, menos marcada pela polarização e mais pela “lógica de diminuir a rejeição”.
Nunes colocou seu “exército” na rua, mas conta com pouco carisma e aprovação popular, crescendo “pero no mucho”, nas pesquisas de opinião. Marçal, como já comentamos, aparece em terceiro, próximo a Boulos, mas com a aparência de perda de tração eleitoral.
O que se pode esperar para os últimos dias, além do acirramento em toda linha, é um “triplo voto útil”, que deve desidratar as campanhas dos concorrentes do pelotão abaixo.
De qualquer forma, há um terço na cidade de São Paulo que não comunga com as ideias de direita dura e aposto que Boulos pode crescer um pouco na reta final, encostando nesse terço diante do voto útil.
Nunes usará de tudo para multiplicar sua campanha
Diante desse cenário, a campanha proporcional de Luana Alves vem atuando para organizar e galvanizar de forma militante, os anseios, as discussões programáticas e as demandas da maioria social. Uma campanha que se espalha por todas as regiões da cidade, combinando setores, territórios e categorias. Que aparece com naturalidade, com o ativismo levando para dentro dos trabalhadores do transporte público, os ambulantes levando em suas bancas, nos terreiros, nos bares, nos postos de saúde, nas universidades; nos cursinhos populares, unindo amplas parcelas da esquerda socialista da cidade. Luana Alves como liderança se fortalece, com sua combatividade e capacidade de articulação, orientando uma aguerrida militância que tem sido incansável, numa das maiores campanhas eleitorais da cidade.
Num capítulo eleitoral decisivo, a batalha dos próximos dias indicará como será modulado o segundo turno, com nossa luta sendo parte do movimento para levar Boulos para essa disputa e fortalecer um programa a serviço da classe trabalhadora que batalha e luta pela sobrevivência diariamente, reforçando a confiança na mobilização e em suas próprias forças.