Barnier em Matignon: nomeado por Macron, abençoado pelo RN
O RN já anunciou que não censurará um governo que coloque a “questão da imigração e da segurança” no centro de sua política
Foto: YouTube/Reprodução
Os eleitores e eleitoras não votaram nisso!
É sob esses auspícios que um homem, não exatamente novo, chega a Matignon quase dois meses após o segundo turno das eleições legislativas. E em total desrespeito aos seus resultados. A mensagem desse segundo turno foi clara: a maioria das pessoas que votaram expressaram sua vontade de barrar o Rassemblement National (RN, partido de extrema direita) e deram uma maioria relativa à Nova Frente Popular (NFP).
Ao decidir excluir a hipótese de um governo formado pela NFP, Macron escolheu instalar o Rassemblement National (RN) como árbitro para a manutenção ou não de um governo de direita. Ele nomeia um velho veterano da política, oriundo do partido que tem o menor número de deputados (os Republicanos, de direita), que acumulou participações em governos antissociais e junto a instituições europeias não eleitas, garantidoras da ortodoxia orçamentária, ou seja, da destruição dos serviços públicos e dos direitos sociais. Não será ele que irá revogar a contrarreforma das aposentadorias e elevar o salário mínimo para 1.600 euros!
Tudo isso tem consequências concretas: primeiro, fortalecer o lugar do RN, ou seja, as obsessões que constituem o seu programa. E o RN já anunciou que não censurará um governo que coloque a “questão da imigração e da segurança” no centro de sua política. Dois dias após a morte de 12 pessoas, incluindo cerca de uma dezena de jovens mulheres no Canal da Mancha, nomear Barnier – que foi o negociador dos acordos do Brexit, responsável pelo endurecimento das condições de chegada dos migrantes ao Reino Unido – é um símbolo carregado de ameaças. Não esquecemos suas posições violentamente anti-imigrantes durante a campanha presidencial de 2022. Na realidade, Macron está nomeando um governo de extrema direita, sob a aparência polida e refinada do grande burguês Barnier.
Todas e todos que se engajaram na vontade de barrar a extrema direita e sua política, e que quiseram expressar a urgência de uma ruptura com todas as políticas liberais de destruição dos direitos sociais, devem reconhecer o desprezo democrático de Macron, permitido pelas instituições. Há urgência em impor a agenda das necessidades sociais. E apenas as mobilizações sociais e políticas são capazes de fazer isso: a revogação da reforma da aposentadoria e o retorno aos 60 anos, o aumento geral dos salários, começando pelo salário mínimo, a reparação e a ampliação dos serviços públicos para proteger as necessidades vitais dos seres humanos e da natureza são urgências que precisarão ser impostas por meio de greves, manifestações e até mesmo o bloqueio do país, se necessário. A responsabilidade da NFP é reunir todas as organizações políticas, sindicais e associativas que se engajaram na campanha eleitoral, para preparar essas mobilizações e concretizá-las nos locais de trabalho, estudo e nos bairros com comitês locais da NFP.
O dia 7 de setembro será um primeiro passo para avisar Macron e Barnier de que a censura ao governo está se preparando nas ruas.
*Artigo originalmente publicado no site do NPA e traduzido para o português por Samir Oliveira.