Governo federal tentará encerrar concessão da Enel em SP
apagão

Governo federal tentará encerrar concessão da Enel em SP

O Ministério de Minas e Energia abriu um processo disciplinar contra a empresa. Ainda há 100 mil imóveis às escuras após temporal de sexta-feira

Tatiana Py Dutra 16 out 2024, 11:37

Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

O temporal seguido de apagão que atingiu São Paulo e região metropolitana no último final de semana gerou dores de cabeça e revolta em mais de 2 milhões de moradores. Ainda nesta quarta-feira (16), há 100 mil imóveis às escuras. Mas isso pode não sair barato também para a Enel, concessionária de energia que cada vez mais se prova inepta para o serviço. Na segunda-feira, o Ministério de Minas e Energia abriu um processo disciplinar contra a empresa – e a medida pode levar à perda da concessão.

Não é a primeira vez que a hipótese de caducidade do contrato é aventada, mas como esta saída nunca foi testada no Brasil, houve embaraços técnicos. Porém, o titular da pasta, Alexandre Silveira, disse estar preparado.

“Temos vários caminhos para lidar com eventual caducidade. Não posso quebrar contrato, preciso instaurar processo administrativo, e foi o caso da Enel. Não tivemos nenhuma caducidade de distribuição”, afirmou.

Fato é que algo precisa ser feito. O episódio do último final de semana foi o terceiro grande apagão em São Paulo e região em menos de um ano – o de novembro de 2023 e o de março deste ano deixaram milhões de moradores de São Paulo sem luz por mais de sete dias. À época, Silveira classificou os episódios como “transgressões reiteradas” da Enel e revelou que as multas aplicadas na empresa pelas interrupções do serviço ainda não haviam sido pagas.

“Foram mais de R$ 300 milhões de multas aplicadas à Enel, nenhuma delas paga. A Enel tem reiteradamente prestado serviço de qualidade muito aquém do que determina inclusive a regulação”, disse.

Auditoria na Aneel

Também na segunda-feira, a Controladoria-Geral da União (CGU) anunciou que haverá uma auditoria no processo de fiscalização da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) sobre a Enel. O titular do órgão, ministro Vinícius Carvalho, diz ser inaceitável a demora da concessionária restabelecer o serviço de energia – visto que na terça-feira (15) ainda havia moradores sem luz.

A decisão chega em momento que pairam suspeitas sobre a fiscalização feita pela Aneel. Reportagem recente da Folha de S.Paulo revelou que a agência reguladora pediu à Justiça para ser assistente na defesa da concessionária, alvo de uma ação judicial movida contra a Enel após o apagão de novembro. O Ministério Público e a Defensoria Pública do Estado, que movem a ação, dizem que a medida da agência travou o andamento do processo, que já poderia ter sido julgado.  

No processo, MP e Defensoria enumeram as negligências da concessionária – como número insuficiente de funcionários e a inexistência de um plano de contingência para essas situações. A ação exige que a Enel reduza tanto os episódios de apagão quanto sua duração, além de dar respostas mais ágeis no atendimento aos clientes. A Justiça deferiu, em decisão liminar, o pedido de melhorias na qualidade do atendimento, mas a Enel recorreu. 

Em julho passado, a Aneel pediu para entrar como assistente da concessionária alegando a intenção de “evitar a usurpação de suas atribuições regulatória e fiscalizatória”. Segundo a agência, a Promotoria e a Defensoria estariam criando regras para o serviço de distribuição de energia, o que não seria sua atribuição. Essa aparente disputa de responsabilidade pareceu estranha até mesmo para a Justiça, que negou o pedido do órgão federal. Em seu despacho, o juiz Fabio de Souza Pimenta, da 32ª Vara Cível do Tribunal de Justiça de São Paulo, afirmou que a solicitação era “incomum” e “incompatível” com suas atribuições de reguladora.

“Causa estranhamento o fato da Aneel apresentar-se nos autos justamente como assistente da parte requerida”, escreveu. “Soa absolutamente incompatível com a sua própria destinação regulatória e fiscalizatória das atividades da ré, a exigir-lhe imparcialidade e equidistância”.

Apesar disso, Aneel e Enel estão recorrendo da decisão em segunda instância – e, ao que tudo indica, estão dispostos a ir ao Supremo Tribunal Federal (STF). Na segunda-feira (14), a Aneel chegou a publicar um ofício em que se defende de cobranças feitas pelo Ministério de Minas e Energia em relação a Enel, citando fiscalizações in loco e aplicações de multas milionárias por falhas no atendimento a ocorrências emergenciais. Em entrevista à Folha, o promotor Denilson de Souza, diz que dadas as falhas na atuação da concessionária, não faz sentido essa “parceria” com uma empresa que presta um serviço tão precário

“Se não tivesse a participação da agência, esse processo estaria pronto para sentença. Então isso está atrasando o trâmite do processo. Isso ao mesmo tempo em que a agência reconhece que o serviço não é adequado. Tanto é que autuou, reconhecendo que o serviço não estava sendo prestado a contento”, reclamou.

E o governo?

O blecaute em São Paulo, como era de se esperar, gerou um jogo de empurra entre Enel, prefeitura e os governos estadual e federal A empresa diz que o apagão foi causado por queda de árvores sobre a fiação e diz que cabe à prefeitura fazer a poda adequada. Candidato à reeleição, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) se defendeu dizendo que a Enel dificultava esse trabalho Por fim, o prefeito acusou o Ministério de Minas e Energia, responsável pela concessão

Adversário de Nunes no segundo turno da eleição, o deputado Guilherme Boulos (PSOL) criticou o prefeito por omissão, tal como a vereadora reeleita Luana Alves (PSOL). Em vídeo nas redes sociais a parlamentar lembrou que no ano passado, o prefeito sugeriu um plano infalível para evitar que árvores arrebentem fios durante as tempestades: fiação subterrânea, mas com os custos pagos pela população. Evidentemente, a ideia de custear um serviço concedido a uma empresa privada por uma fortuna causou revolta. A ideia foi esquecida e, aparentemente, nada mudou de lá para cá.

“A incompetente da Enel e o incomepetente do Ricardo Nunes tem de ser responsabilizados e a população, indenizada”, afirma Luana


TV Movimento

Balanço e perspectivas da esquerda após as eleições de 2024

A Fundação Lauro Campos e Marielle Franco debate o balanço e as perspectivas da esquerda após as eleições municipais, com a presidente da FLCMF, Luciana Genro, o professor de Filosofia da USP, Vladimir Safatle, e o professor de Relações Internacionais da UFABC, Gilberto Maringoni

O Impasse Venezuelano

Debate realizado pela Revista Movimento sobre a situação política atual da Venezuela e os desafios enfrentados para a esquerda socialista, com o Luís Bonilla-Molina, militante da IV Internacional, e Pedro Eusse, dirigente do Partido Comunista da Venezuela

Emergência Climática e as lições do Rio Grande do Sul

Assista à nova aula do canal "Crítica Marxista", uma iniciativa de formação política da Fundação Lauro Campos e Marielle Franco, do PSOL, em parceria com a Revista Movimento, com Michael Löwy, sociólogo e um dos formuladores do conceito de "ecossocialismo", e Roberto Robaina, vereador de Porto Alegre e fundador do PSOL.
Editorial
Israel Dutra e Roberto Robaina | 27 nov 2024

A conjuntura se move… prisão para Bolsonaro e duas outras tarefas

Diversas lutas se combinam no momento: pela prisão de Bolsonaro, pelo fim da a escala 6x1 e contra o ajuste fiscal
A conjuntura se move… prisão para Bolsonaro e duas outras tarefas
Edição Mensal
Capa da última edição da Revista Movimento
Revista Movimento nº 54
Nova edição da Revista Movimento debate as Vértices da Política Internacional
Ler mais

Podcast Em Movimento

Colunistas

Ver todos

Parlamentares do Movimento Esquerda Socialista (PSOL)

Ver todos

Podcast Em Movimento

Capa da última edição da Revista Movimento
Nova edição da Revista Movimento debate as Vértices da Política Internacional

Autores

Pedro Micussi