“O Estado de Israel é equiparável com a África do Sul do apartheid”
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“O Estado de Israel é equiparável com a África do Sul do apartheid”

Uma entrevista exclusiva sobre a situação da Palestina, Líbano e região com o especialista Bruno Beaklini

Caro Bruno, obrigado por aceitar a entrevista. Como um dos grandes especialista no tema do Oriente Médio, você certamente vai trazer apontamentos ricos e precisos. Estamos a um ano da ofensiva genocida de Israel sobre a Palestina. Podes nos explicar o contexto desse massacre?

Bom, primeiro, obrigado pelo convite da Revista Movimento. E, olha, não quero parecer que estou evadindo da pergunta, mas o contexto do que está ocorrendo na Palestina ocupada foge de uma compreensão, diria eu, simplesmente objetiva.

A gente tem um governo cujo líder é criminalizado, que é o Benjamin Netanyahu. O Estado de Israel é equiparável com a África do Sul do apartheid, logo qualquer resquício de legitimidade é questionável. A operação de 7 de outubro de 2023, Dilúvio de Al Aqsa, visava explicitar que Gaza era um campo de concentração à ceu aberto, a Cisjordânia é um alvo de limpeza étnica e, à época, haviam 7 mil prisioneiros políticos palestinos, mas agora tem muito mais porque, de outubro de 2023 a outubro de 2024, o Estado de Israel prendeu mais 11 mil. Também demonstra que é muito difícil ter o controle territorial quando a população não sai. Com a Nakba, a população foi expulsa para construir um Estado de Israel. Com a Naksa, que é a incorporação dos territórios de 1967, a população não saiu. Então, eles fazem o possível e o impossível para expulsar a população nativa.

A outra condição absoluta, eu diria, é um problema da guerra, que é o problema da supremacia aérea. Como o Estado sionista tem aviação de caça e a Palestina não tem uma força aérea, é muito mais difícil dar o combate, ainda que em solo, no combate corpo a corpo, nas vielas que sobram de Gaza, nos escombros, nos túneis, o suposto exército indestrutível de Israel perde, e perde consecutivamente.

Então, esse seria o grande cenário do Dilúvio de Al Aqsa , mas o contexto é muito maior. O contexto, na luta recente palestina, tem relação com a Operação Espada de Jerusalém, de abril e maio de 2021, que levou ao adiamento das eleições palestinas e, ao mesmo tempo, demonstrou que era possível retomar a unidade entre as forças político-militares palestinas, que foi o que ocorreu.

Então, grande parte como efeito da diplomacia chinesa, se conseguiu reunificar as 14 forças políticas palestinas e isso se deu através das cinco forças político-militares, que montaram uma coordenação conjunta e lutaram lado a lado. E seguem lutando: Hamas, Jihad Islâmica, que são partidos confessionais, a Frente Popular, a Frente Democrática, que seria a esquerda palestina, e a Fatah, que é o partido nacional e ponto, não tem outro adjetivo. Isso apesar da Autoridade Nacional Palestina que, ou não serve para nada, ou serve para legitimar uma situação que é insuportável. Então, tem muitas situações para a gente ver num plano maior e eu tentei fazer um resumo possível.

Quais são os impactos sobre a Faixa de Gaza, no âmbito humanitário, social e político, da presente ofensiva genocida?

No plano humanitário a situação é terrível, os assassinados passam de 42 mil, além de feridos, baixas, os afetados permanentemente passam de 110 mil, tem números até maiores, e a tragédia humanitária é muito grande. Na Faixa de Gaza é um nível absurdo, um nível de holocausto, e na Cisjordânia ela já é muito grande e até nos territórios de 1948 também. Nós estamos conversando enquanto os bombardeios sobre o Líbano acontecem. Eu acredito que a meta do Estado sionista fosse desocupar metade da faixa de Gaza, expulsar um milhão de pessoas, no limite da situação distópica dos Acordos de Abraão a ideia era construir uma cidade artificial na Península do Sinai e colocar a segurança na conta do Egito, com financiamento dos Estados Unidos e talvez com capital saudita, talvez.

Como isso não se deu, a ideia de destruir a casa inteira, de destruir tudo que puder ser destruído em Gaza está sendo [colocada em prática]. É um genocídio programado porque, como que não bastasse bombardear um edifício residencial, você também tem que destruir a escola, o hospital, qualquer capacidade de ter água encanada, tratamento de água. Então, se não matar por bomba, se não matar por tiro, se não matar em prisões, vai gerar a morte por epidemias, por perda de condições materiais de vida e por perda de condições sociais de existência coletiva.

A ideia é criar a punição coletiva, gerar um trauma ad infinitum para responsabilizar a população de Gaza pelo ato que seria, pela mídia ocidental, o ato do Hamas. O que é uma mentira, quem luta em Gaza, quem luta na Cisjordânia, quem luta na Palestina é o conjunto de forças políticos militares da Palestina, não é o Hamas, embora o Hamas lidere em Gaza, isso é um fato inequívoco.

A ideia da punição coletiva é tentar também colocar a população contra as suas forças políticas, mas também não vai acontecer. E, acontecendo ou não, o Estado sionista jamais vai admitir por vontade própria um Estado Palestino. Seu parlamento, o Knesset, já disse que não vai aceitar isso, e 60% da opinião pública “israelense” é a favor do genocídio palestino.

Conhecido por sua expertise e crueldade no âmbito da “inteligência militar”, Israel teve êxito em uma série de operações, como a das explosões dos pagers e dos assassinatos de lideranças expressivas do Hamas, do Hezbolah entre outros. Você pode comentar esta situação?

O que aconteceu nas comunicações é muito sério porque a questão dos pagers compromete a cadeia de valor. Porque o Hezbollah teria comprado os pagers que são licenciados de uma empresa de Taiwan, que supostamente teriam sido fabricados na Hungria, mas os códigos para a estação rádio base, os códigos fontes para aquele tipo de comunicação tem origem no setor de desenvolvimento e pesquisa da Motorola, que comuta, compartilha os seus códigos de rádio ou as suas frequências com a OTAN.

A OTAN tem uma base em Chipre que é muito importante. Na verdade, tem três bases em Chipre, são muito importantes. O cabo submarino que leva a internet ao Líbano passa pelo fundo subaquático do Mediterrâneo, mas o cabo esse liga a um hub em Chipre sai justamente no pier da base britânica e a localização das lideranças é feita através dos satélites do comando central dos EUA, o CENTCOM. Realmente as comunicações ficaram muito comprometidas no período, por isso teve o ataque dos pagers e por isso teve a capacidade de localização das lideranças, mas é possível também entender que a saturação do bombardeio levaria também a saturação dos bunkers, ou seja, não teria mais para onde ir.

E isso levou ao assassinato da liderança de Hezbollah, do Hamas. Eu não vou falar que isso é um mal menor, mas meio que estava no cálculo. Durante um período importante se identificou essa vantagem absurda [de Israel] nas comunicações comprometidas de ambas organizações, Hamas e Hezbollah, e modificar esse padrão comunicacional no meio da guerra não é tão fácil. Ou seja, você tem uma capacidade instalada e tem que modificar a capacidade instalada no meio do conflito. Não sei se vale como consolo, mas vale de forma explicativa.

Toda cadeia de comunicações que foi beneficiária para o Estado sionista, em última análise, pertence ao âmbito da OTAN, seja a fabricação dos pagers, seja o fornecimento de internet para a região, a triangulação com a estação rádio base de Chipra e a triangulação com satélites dos Estados Unidos. Então, fica como ensinamento: em uma guerra anti-imperialista, anti-colonial, o aparelho militar pode estar com o sistema de comunicação e algum tipo de rastreio possível, através de países aliados e inimigos diretos. Foi o que aconteceu.

Qual a atual situação do Líbano. Porque Israel o atacou, abrindo uma “segunda frente” em relação ao massacre de Gaza?

O Líbano organiza a Frente de Defesa de Gaza, que é um nome fantasia para a resistência libanesa em uma articulação de pelo menos sete forças político-militares da qual o Hezbollah lidera. Desde que se iniciou a campanha Dilúvio em Al Aqsa, o Hezbollah intensificou a campanha para a libertação da Galiléia, cuja meta concreta é a retomada das fazendas Shebaa, que são um pequeno território ainda ocupado pelas forças israelenses que estiveram no sul do Líbano de 1985 aos anos 2000, quando foram finalmente derrotadas e expulsas. A outra razão é a expulsão [de Israel] de Golan, ou seja, são três áreas alvo: a Galiléia, que é o maior dos territórios de 1948, as fazendas Shebaa e Golan.

E como segue havendo a desocupação dos colonos que estão deixando o norte de “Israel” em função da campanha de artilharia do Hezbollah, se gerou uma ocasião propícia do gabinete de Netanyahu, esse gabinete de guerra, abrir uma segunda frente. Então é uma espécie de Gaza exacerbada, a supremacia aérea [israelense] é muito grande, não é absoluta, mas é muito grande, e com esta supremacia aérea o estado de Israel bombardeia o Líbano, segue bombardeando a Síria há mais de doze anos – agora está tendo resposta – e cria uma escalada tentando obrigar o Irã a entrar diretamente no conflito. E o Irã é o fornecedor da logística do Eixo da Resistência, se a economia iraniana quebra, cai tudo. Houve uma aposta equivocada [de mudança] de parcela da direita libanesa, das famílias conservadoras mais reacionárias, eu diria. A base política cristã é aliada do Hezbollah, uma outra parcela não, mas hoje o que Israel conseguiu [no Líbano]?

Havia uma média de 70% de apoiadores da resistência em todo o Líbano e na juventude passava de 85%. Hoje a média é 80% cento em todas as comunidades étnicas, culturais religiosas, em toda a população. 80%. Então fica muito difícil, a diplomacia francesa fala sozinha, por exemplo. Então a ideia realmente é destruir toda a infraestrutura libanesa. Havia uma ilusão sionista de que se poderia invadir [o Líbano] por terra, mas está provado que é praticamente impossível, sozinhos não vão conseguir porque o número de baixas vai ser muito muito muito grande. A campanha do Líbano militarmente está sendo um desastre pra estado sionista e o tiro está saindo pela culatra, né? Embora a mídia ocidental narre uma campanha israelense vitoriosa, isso não está acontecendo. O que as TVs abertas de todo mundo árabe mostram é completamente distinto. E também vários primos e primas que lêem um pouco de hebraico estão recebendo o boletim de baixa dos israelenses e é um número muito grande.

E na Cisjordânia? Qual é a situação?

A Cisjordânia seria talvez a grande razão de tudo, a Cisjordânia seria o maior território pra construir o chamado estado palestino após os Acordos de Oslo de 1992, que deram errado. O estado sionista importou setecentos mil “colonos” para a Cisjordânia, eles vão sendo renovados a cada tanto e vai piorando. Cada leva de “colonos” que chega é mais racista, é mais supremacista, é mais belicosa e tem um apoio mais direto das forças do estado sionista.

A ideia na Cisjordânia é a limpeza étnica, é expulsão de áreas urbanas históricas, é a remoção de vilas, é a inviabilidade da agricultura, incluindo a retirada, por exemplo, deárvores históricas como laranjeiras, como as tamareiras, como as oliveiras. E, com a resistência vindo crescendo desde 2020, o estado sionista implementou um nível de opressão ainda maior, incluindo ataque aéreo, ataque de helicóptero. Então, a tendência da Cisjordânia é ela praticamente insuportável, a ideia realmente é forçar que a população vá embora seja por pela perda todas as suas casas, seja pela expulsão de suas terras, assassinato dos seus familiares e prisão da sua juventude. A meta é essa. Eles não conseguindo, mas a vida dos e das árabes na Cisjordânia é um inferno. É um inferno o que eles estão vivendo.

Como estão reagindo os diferentes países árabes? Especialmente, Iêmen, Egito e Jordânia?

A reação de três países? O Iêmen é mais fácil, já está vindo de uma longa guerra civil, crise política e proteção do poder pelos Emirados Árabes, da Arábia Saudita, junto à Al-Qaeda na Península Arábica, e foi uma guerra muito dura onde o movimento dos Houthis saiu vitorioso. Então o Iêmen tem um papel solidário muito forte, ele fechou o Mar Vermelho, tem uma campanha para impedir a chegada de mercadorias ao porto de Eilat, que é o porto do sionista do Mar Vermelho, e está se saindo muito bem. O Iêmen tem a ousadia desafiar as marinhas ocidentais e está conseguindo, conseguiu um emprego de guerra naval que é impossível que aconteça.

O Egito tem um problema grande, né? Que é entre se locupletar dos fundos que recebem nos Estados Unidos, o que dá em torno de um U$ 1,5 bilhão ao ano. E esse U$ 1,5 bilhão ao ano costuma ser um fator de enriquecimento do alto comando de seu exército, a começar pelo próprio general Sissi, e é assim desde os acordos de Camp David, assim desse sempre. Mas o Egito tem um problema grave de segurança no Sinai e não quer um compromisso maior, [que é de] colocar uma cidade palestina na península. Eu diria que o Egito poderia se portar muito melhor na verdade, o Egito continua abastecendo o estado sionista pelo comércio marítimo. Mas as tensões dentro do Egito são grandes, não são poucas não, são bem grandes, sabe? Se o general Sissi, que é um governo com baixa legitimidade, se empenhasse ainda mais nessa missão [de] capacho do estado sionista, capacho dos Estados Unidos, ele poderia ter problemas ainda maiores de lealdade as forças armadas e da sua segurança interna.

A Jordânia é a meta permanente do estado sionista. A ideia é que a Cisjordânia deixe de ter população árabe palestina e se expulse todo mundo para a Jordânia. Chegaram a propor comprar terra na Jordânia durante os acordos de Abraão e a tentativa de executar os acordos de Abraão, do Acordo do Século. A Jordânia teve recentemente a vitória eleitoral de um partido que é coligado à Irmandade Muçulmana, então isso já reflete um voto pró-Hamas, e eu diria que a Jordânia hoje é um problema que não está sendo visto e pode voltar a ser um um um elemento de muita tensão na região. É de ver mesmo, considerando um papel complicado que a monarquia Hashemita [cumpre]. A Jordânia é hoje um dos focos do problema.

Os recentes ataques de Israel ao Irã podem configurar uma escalada regional, como afirmam setores da mídia? Pode nos detalhar os interesses e a estratégia do Irã nesse caso?

Sobre os ataques do Irã e a resposta iraniana, teve a Operação Promessa Verdadeira I, que foi uma resposta teatralizada do Irã, o Irã avisou via GPS, avisou a OTAN e o estado sionista por tabela. Foi um ataque bem intenso, mas com os seus mísseis identificados. Já o a operação Promessa Verdadeira II foi um ataque real, de atingir importantes instalações militares israelenses, creio que foram 100% de eficiência em alvos legítimos, ou seja, não atingiu a população civil, não de forma proposital pelo menos, e a ideia é que não tenha uma Promessa Verdadeira III porque aí abre o imponderável. A resposta de Israel ao Irã foi protocolar, eu diria, ela não incide sobre um problema maior, não não gerou um dano irreversível no Irã, logo a resposta pode se dar de forma escalonada, projetando no tempo.

A resposta de Israel foi protocolar, como foi em relação a Operação Promessa Verdadeira I. O que eu diria? O Irã meio que demonstrou para o estado sionista que tem condições de destruir o estado sionista apenas com a sua artilharia de longo alcance, o que implicaria necessariamente na entrada dos EUA de forma direta no conflito. Não por acaso, o Irã recentemente recebeu finalmente caças russos de últimas geração, entre os quais o Sukhoi 35, eu creio que eles não vão operar na Síria, por exemplo, onde poderiam estar.

Agora a meta para o Irã é desenvolvimento econômico via BRICS, fora do dólar, e uma pujança econômica que permita abastecer o Eixo da Resistência: Iraque, Iêmen, Líbano, Palestina, Síria. Mas, entre a meta iraniana, as provocações sionistas e a atenção dos Estados Unidos, pode no meio do caminho ter um interregno, um momento de tensão que pode levar a uma escalada regional. Se a existência física das instalações de governo em todo estado sionista forem alcançáveis ou atingidas, aí os EUA podem entrar no conflito e aí a gente está diante do imponderável completo. E isso o Irã quer evitar até porque é orientação da China isso ser evitável, é orientação da Rússia. O Irã é soberano na sua decisão, mas também não interessa, o que interessa agora realmente abastecer a logística, principalmente do Líbano, e evitar a entrada da OTAN no conflito de forma direta, manter o conflito na escala dos operadores da região, entre o estado invasor sionista e o Eixo da Resistência.

Há uma resistência mundial calcada na solidariedade com Gaza, que polariza o mundo, com epicentro na juventude. Qual o alcance e o peso desse movimento?

Isso é muito interessante, né? A gente tem uma juventude quase em escala planetária que [percebemos] nos países ocidentais. Nos países de maioria islâmica, o engajamento é ainda maior vendo um genocídio a céu aberto em Gaza em tempo real via redes sociais e se mobilizando, não aceitando mais a hipocrisia ocidental. No século XXI, o genocídio de Gaza l é proporcional ao que foi, para o Ocidente, a Guerra do Vietnã. Eu não tenho dúvida quanto a isso. Já o alcance e o peso é [diferente] aporque não tem coordenação, né? Ele é um um movimento de postura política pública e de algum posicionamento que se multiplica.

Creio eu que no Brasil, por exemplo, são cinquenta comitês pró-Palestina, é muita coisa. Eu acredito que criem um discurso mais ou menos unificável que supere essa barafunda do identitarismo moderno ou de fazer um espelho com a política ocidental, isso eu acho que a gente pode criar. Mas eu não sei, sendo sincero, não sei se engaja além da agitação ou da comoção porque esse passo além tem uma cultura de momento, e essa cultura é importante, mas ela tem que ser organizada e organizável. Organizável é, mas [para ser] organizada depende muito de território, de país para país, etc.

O fato, dependendo do país e da e da geração, o apoio à luta palestina passa de 70%. E quanto mais o Ocidente criminalizar, pior vai ficar. Não tenho a menor dúvida disso. Quanto mais hipócrita for a mídia ocidental, pior vai ficar. O problema é que na base da sociedade, como por exemplo na sociedade latino-americana, a presença evangélica é muito grande, a presença evangélica tem um discurso sionista torto, mas tem e reproduz. Então por isso que a minha dúvida: qual é o grau de engajamento real que pode existir que na base da sociedade onde existe a presença física, material concreta, de igreja, mas também das empresas de exploração da fé que reproduzem muito essa propaganda sionista. Isso realmente fica em dúvida

Obrigado Bruno, há algo mais que queira comentar com o público da Movimento?

Gostaria de concluir agradecendo o espaço, agradecendo a convite para entrevista e também observar que é importante a solidariedade, é importante estar junto da luta palestina, da luta árabe palestina, da luta que ocorre na região que o inimigo chama de Oriente Médio, a gente chama de Oeste da Ásia. Tentar fazer um esforço possível, sem essa babaquice de validar tudo que vem de países não-ocidentais, mas fazendo um esforço possível para entender quem está lutando e porque e como e por tudo que está lutando. Ou seja, não criar uma fantasia que muitas vezes acaba sendo mais prejudicial.

A formação de quem vos fala, no caso da questão árabe palestina, é pan-arabista, é laica, é secular. E não tem muito do que se iludir, hoje a posição laica secular não é a mais importante, não é ela que está liderando e organizando a resistência, ela está participando. Não é desprezível a participação, ela é considerável, mas quem organiza o Eixo da Resistência a partir da República Islâmica do Irã são, de forma ampliada, forças xiitas ou xiitas muito ampliadas e as forças laicas se somam. Se gente não entender isso, só está criando uma fantasia e eu acredito que a fantasia na questão internacionalista, da solidariedade internacional, é até pior do que o não engajamento porque você projeta uma coisa e acontece outra. Gera até um certo desrespeito para quem está realmente lutando no território.

Espero ter respondido tudo, obrigado pelos espaço, contem comigo.


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Pedro Micussi