Petro deu exemplo ao confrontar Trump
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Petro deu exemplo ao confrontar Trump

Resposta do presidente colombiano recebeu amplo apoio em sua crítica ao novo governo de extrema direita dos EUA

Redação da Revista Movimento 28 jan 2025, 12:02

Foto: Flickr

Chegaram ao Texas na segunda-feira (27), dois aviões enviados pelo governo da Colômbia para buscar imigrantes ilegais expulsos dos Estados Unidos pelo governo Donald Trump. O envio das aeronaves encerra temporariamente a crise iniciada após a recusa do presidente colombiano Gustavo Petro em receber deportados enviados em condições desumanas pelos EUA.

Após a decisão, Trump ameaçou aumentar a taxação de produtos colombianos, impor tarifas sob as próprias exportações, além do cancelamento dos vistos de cidadãos daquele país para os Estados Unidos (até mesmo de diplomatas). A intenção do presidente Gustavo Petro era garantir “condições dignas” aos deportados – ao contrário do que aconteceu com a primeira leva de proscritos brasileiros, que chegou a Manaus na semana passada sob o peso de correntes e trazendo relatos de tratamento vexatório durante o voo.

“Na madrugada (de hoje) chegarão nossos compatriotas em território colombiano”, disse Gustavo Petro em suas redes sociais referindo-se aos 110 deportados. O acordo fechou um capítulo dessa tensão, mas a mensagem de resposta de Petro a Trump se propagou pelas mídias como exemplar para um presidente de uma nação soberana.

Coragem

Nas redes sociais, o presidente colombiano acabou se tornando um símbolo da resistência latinoamericana contra as ameaças que Trump vem distribuindo antes mesmo de sua posse. Em uma longa e corajosa mensagem, ele desdenha do orgulho infantil que o presidente dos EUA gosta de vomitar a cada discurso que faz sobre o próprio país, valoriza a força das minorias esmagadas por séculos naquele território, ao mesmo tempo em que sublinha personalidades alinhadas à luta da classe trabalhadora norte-americana, como o intelectual Noam Chomsky e os anarquistas Sacco e Vanzetti.

“Trump, eu não gosto de viajar aos EUA. É entediante, mas confesso que há coisas admiráveis. Gosto de ir aos bairros negros de Washington. Lá vi uma luta inteira na capital dos EUA entre negros e latinos com barricadas, o que me pareceu uma idiotice, pois eles deveriam se unir. Confesso que gosto de Walt Whitman, Paul Simon, Noam Chomsky e Miller”, começou o mandatário colombiano.

A mensagem prossegue com Petro criticando a exploração de combustíveis fósseis pelos EUA, que será reforçada por Trump, bem como sua política ambiental. Sugeriu até conversar com o norte-americano sobre esses temas, mas antecipou que seria difícil, “porque você me considera de uma raça inferior. Não sou. E nenhum colombiano é”. E com inesperada ousadia antecipou qualquer movimento da Casa Branca e seus exércitos para removê-lo do poder:

“Pode, com sua força econômica e soberba, tentar dar um golpe de Estado, como fizeram em Allende. Mas eu morro na minha lei. Resisti à tortura e resisto a você”.

O tom desafiador da postagem contrasta com a complacência do governo brasileiro. O episódio dos brasileiros algemados (que, aliás, é praxe no tratamento a detentos nos EUA) rendeu uma reação muito mais tímida através de nota do Itamaraty, em postura parecida com a do dia da posse de Trump, que desdenhou do Brasil e da América Latina como um todo.

“Eles precisam de nós. Nós não precisamos deles. Todos precisam de nós”, disse.

Em um momento político difícil, Lula quer evitar a todo o custo a polêmica ao estilo Washington e Bogotá, uma vez que os Estados Unidos são o segundo maior importador de produtos brasileiros do mundo e seu novo presidente é um grande apoiador de Bolsonaro. Ao que parece, Trump tinha razão quando definiu a relação de forças entre os dois países e as disposições de seus governos.


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Pedro Micussi