Petro deu exemplo ao confrontar Trump
Resposta do presidente colombiano recebeu amplo apoio em sua crítica ao novo governo de extrema direita dos EUA
Foto: Flickr
Chegaram ao Texas na segunda-feira (27), dois aviões enviados pelo governo da Colômbia para buscar imigrantes ilegais expulsos dos Estados Unidos pelo governo Donald Trump. O envio das aeronaves encerra temporariamente a crise iniciada após a recusa do presidente colombiano Gustavo Petro em receber deportados enviados em condições desumanas pelos EUA.
Após a decisão, Trump ameaçou aumentar a taxação de produtos colombianos, impor tarifas sob as próprias exportações, além do cancelamento dos vistos de cidadãos daquele país para os Estados Unidos (até mesmo de diplomatas). A intenção do presidente Gustavo Petro era garantir “condições dignas” aos deportados – ao contrário do que aconteceu com a primeira leva de proscritos brasileiros, que chegou a Manaus na semana passada sob o peso de correntes e trazendo relatos de tratamento vexatório durante o voo.
“Na madrugada (de hoje) chegarão nossos compatriotas em território colombiano”, disse Gustavo Petro em suas redes sociais referindo-se aos 110 deportados. O acordo fechou um capítulo dessa tensão, mas a mensagem de resposta de Petro a Trump se propagou pelas mídias como exemplar para um presidente de uma nação soberana.
Coragem
Nas redes sociais, o presidente colombiano acabou se tornando um símbolo da resistência latinoamericana contra as ameaças que Trump vem distribuindo antes mesmo de sua posse. Em uma longa e corajosa mensagem, ele desdenha do orgulho infantil que o presidente dos EUA gosta de vomitar a cada discurso que faz sobre o próprio país, valoriza a força das minorias esmagadas por séculos naquele território, ao mesmo tempo em que sublinha personalidades alinhadas à luta da classe trabalhadora norte-americana, como o intelectual Noam Chomsky e os anarquistas Sacco e Vanzetti.
“Trump, eu não gosto de viajar aos EUA. É entediante, mas confesso que há coisas admiráveis. Gosto de ir aos bairros negros de Washington. Lá vi uma luta inteira na capital dos EUA entre negros e latinos com barricadas, o que me pareceu uma idiotice, pois eles deveriam se unir. Confesso que gosto de Walt Whitman, Paul Simon, Noam Chomsky e Miller”, começou o mandatário colombiano.
A mensagem prossegue com Petro criticando a exploração de combustíveis fósseis pelos EUA, que será reforçada por Trump, bem como sua política ambiental. Sugeriu até conversar com o norte-americano sobre esses temas, mas antecipou que seria difícil, “porque você me considera de uma raça inferior. Não sou. E nenhum colombiano é”. E com inesperada ousadia antecipou qualquer movimento da Casa Branca e seus exércitos para removê-lo do poder:
“Pode, com sua força econômica e soberba, tentar dar um golpe de Estado, como fizeram em Allende. Mas eu morro na minha lei. Resisti à tortura e resisto a você”.
O tom desafiador da postagem contrasta com a complacência do governo brasileiro. O episódio dos brasileiros algemados (que, aliás, é praxe no tratamento a detentos nos EUA) rendeu uma reação muito mais tímida através de nota do Itamaraty, em postura parecida com a do dia da posse de Trump, que desdenhou do Brasil e da América Latina como um todo.
“Eles precisam de nós. Nós não precisamos deles. Todos precisam de nós”, disse.
Em um momento político difícil, Lula quer evitar a todo o custo a polêmica ao estilo Washington e Bogotá, uma vez que os Estados Unidos são o segundo maior importador de produtos brasileiros do mundo e seu novo presidente é um grande apoiador de Bolsonaro. Ao que parece, Trump tinha razão quando definiu a relação de forças entre os dois países e as disposições de seus governos.