Baleado por ser negro: o caso Igor Melo e o retrato cruel do racismo estrutural no Brasil
O ataque contra Igor Melo por um policial aposentado expõe a violência racial sistêmica que transforma a cor da pele em sentença de morte
Foto: Instagram/Reprodução
A Justiça revogou, na tarde desta terça-feira (25), a prisão em flagrante do estudante universitário Igor Melo, que estava internado sob custódia policial. Igor foi gravemente ferido a tiros por um policial militar reformado na madrugada de segunda-feira (24), na zona norte do Rio de Janeiro, em um caso que familiares e especialistas apontam como racismo. O motociclista Thiago Marques Gonçalves, que o acompanhava no momento da ocorrência e também havia sido preso, recebeu liberdade na Audiência de Custódia.
O incidente ocorreu quando Igor, um jovem negro, deixava de mototáxi o bar onde trabalha. O policial, que estava em um carro, disparou contra a moto após sua esposa acusar o condutor de ter roubado seu celular. Igor foi atingido nas costas, sofrendo ferimentos no rim, baço, intestino e estômago. Ele segue internado em estado grave. O motociclista não se feriu.
Na decisão judicial, a magistrada apontou que há dúvidas sobre a autoria do crime e indicou que o policial militar reformado e sua esposa podem ter confundido os dois homens com os supostos autores do roubo. Para ativistas e entidades de direitos humanos, a confusão se deve ao racismo estrutural, que frequentemente criminaliza pessoas negras sem evidências concretas.
Familiares e amigos de Igor organizam mobilizações para exigir justiça. A Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro acompanha o caso e cobra esclarecimentos da Polícia Militar. A presidente da Comissão, deputada estadual Dani Monteiro (PSOL), criticou a conduta do policial que efetuou os disparos.
“Como um PM reformado, a pedido da sua companheira, faz uso abusivo da força sem nenhum protocolo de abordagem e aferição prévia? Por que atirou em um jovem negro sem qualquer evidência concreta de crime?”, questionou a parlamentar.
A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, também se manifestou, afirmando que solicitará esclarecimentos ao governo do Rio de Janeiro e às autoridades judiciais sobre o ocorrido. Segundo a ministra, “a violência policial contra a população negra segue sendo um problema estrutural que precisa ser combatido”.
A Universidade Celso Lisboa, onde Igor trabalha como inspetor e cursa Publicidade e Propaganda, declarou que seus advogados estão acompanhando o caso e que não há qualquer registro que desabone a conduta do estudante.
A casa de samba Batuq, onde Igor trabalha como garçom e de onde saía quando foi baleado, confirmou que ele estava em expediente no momento do suposto assalto à esposa do policial.
A Polícia Civil do Rio de Janeiro informou que o caso está sob investigação e que Igor já prestou depoimento no hospital. A Polícia Militar afirmou que colabora com as investigações da Polícia Civil e que o caso foi encaminhado à Corregedoria Geral.