A dinâmica do julgamento que pode levar Bolsonaro ao banco dos réus
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A dinâmica do julgamento que pode levar Bolsonaro ao banco dos réus

A denúncia de Bolsonaro por crime de abolição violenta do Estado Democrático e golpe é inédita na democracia recente e pode levar a mais de 30 anos de prisão para o ex-presidente

Thiago Domenici 25 mar 2025, 12:31

Foto: Jair Bolsonaro. (Flickr/Reprodução)

Via Agência Pública

“Eles participaram das principais decisões que constam dessa denúncia”, falou Alexandre de Moraes no início do julgamento nesta terça-feira, 25 de março, que pode levar o ex-presidente Jair Bolsonaro ao banco dos réus, junto a outras 7 pessoas, por uma tentativa de golpe de Estado em 2022 que tentou impedir a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A 1ª Turma do STF formada por 5 ministros do colegiado — Cristiano Zanin, Cármen Lúcia, Luiz Fux, Alexandre de Moraes e Flávio Dino — vão analisar entre hoje e amanhã, 26 de março, os argumentos preliminares das defesas sobre o recebimento da denúncia da Procuradoria Geral da República (PGR) para decidir se há indícios de crime para justificar o início de uma ação penal contra o grupo. 

A denúncia envolve os crimes de golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, liderança de organização criminosa armada; dano qualificado pela violência e grave ameaça contra o patrimônio da União e deterioração de patrimônio tombado, essas duas últimas relacionadas à invasão de Brasília de 8 de janeiro. Ela é baseada na investigação da Polícia Federal (PF) que apontou uma trama golpista envolvendo o ex-presidente e militares após a vitória de Lula nas eleições de 2022. 

A decisão poderá transformar os acusados em réus. O julgamento se refere só ao 1º dos 4 grupos de denunciados. Trata-se do núcleo central da organização criminosa, do qual, segundo as investigações, partiam as principais decisões para a tentativa de golpe. São eles:

  • Jair Bolsonaro, ex-presidente da República; 
  • Alexandre Ramagem, ex-diretor-geral da Abin; 
  • Almir Garnier, ex-comandante da Marinha; 
  • Anderson Torres, ex-ministro da Justiça; 
  • Augusto Heleno, ex-ministro do GSI; 
  • Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro; 
  • Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa; 
  • Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil e candidato a vice-presidente em 2022

“O principal mérito da denúncia da PGR contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e membros da alta cúpula do seu governo e militares foi ter conseguido provar a conexão entre os ataques do 8 de janeiro às movimentações golpistas anteriores que culminaram no ato”, disse em entrevista à Agência Pública o coautor do livro Crimes contra o Estado Democrático de Direito, o advogado criminalista Rafael Borges.

Como o STF vai julgar

O Supremo preparou um esquema especial de segurança para as sessões, houve, inclusive, uma varredura antibomba no prédio da Corte. Além disso, as ações envolveram controle de acesso, monitoramento do ambiente e até planos de fuga. 

No Congresso Nacional, que fica próximo do STF, o policiamento foi reforçado para a ocasião. Segundo o Regimento Interno do Supremo, o rito estabelecido começou com Zanin abrindo a sessão. Em seguida, o ministro Alexandre de Moraes fez a leitura do relatório do caso e o procurador-geral da República, Paulo Gonet, teve 30 minutos para levar os argumentos da acusação — sua presença para a sustentação oral demonstra a importância do caso, visto que é mais comum sua presença em julgamentos que se dão no plenário da corte e não nas Turmas. Nestes casos, Gonet costuma indicar um subprocurador-geral para a função. 

Em seguida, os advogados dos acusados terão 15 minutos para expor seus argumentos prévios. 8 advogados ao todo falarão em ordem alfabética numa definição de Cristiano Zanin. Alguns dos acusados, como o ex-presidente Jair Bolsonaro, estão presentes no prédio do STF. 

Caso a 1ª Turma decida receber a denúncia e tornar réus todos os 8 denunciados, o Supremo terá de iniciar o processo de ouvir as testemunhas indicadas pelas defesas e conduzir a sua própria investigação, com produção eventual de novas provas antes do julgamento final dos crimes, com previsão de alegações finais no segundo semestre, caso a denúncia seja aceita. Na ocasião, o STF então deverá pedir que a PGR se manifeste pela absolvição ou condenação dos acusados. O julgamento se refere só ao 1º dos 4 grupos de denunciados. 

Em fevereiro, Paulo Gonet denunciou Bolsonaro e mais 33 pessoas envolvidas no inquérito que apura uma tentativa de golpe de Estado, por isso, outros núcleos investigados ainda serão julgados:

Núcleo central – em andamento;
Núcleo de operações – 8 e 9 de abril; 
Núcleo de gerência – 29 e 30 de abril; 
Núcleo de desinformação – ainda sem data.


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