“E a classe trabalhadora, hein?”
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“E a classe trabalhadora, hein?”

O 1º de Maio e as lutas vivas dos trabalhadores no Brasil e no mundo

Israel Dutra 30 abr 2025, 17:46

Foto: Mobilização de trabalhadores de aplicativos em São Paulo. (Gabriela Moncau/Brasil de Fato)

Virou lugar comum, nas discussões presenciais ou via redes sociais, abordar o interlocutor com a pergunta “e fulano, hein?”, num tom que oscila entre a cobrança e a ironia. Para para encerrar qualquer discussão, a extrema direita sempre utilizava a famosa fórmula “e o PT, hein?”. No nosso caso, às vésperas do 1º de Maio, 145 anos depois de sua primeira celebração alusiva aos mártires de Chicago em 1886, vale buscar sair da superfície e pensar como está a situação da classe trabalhadora.

Numa conjuntura de recrudescimento da crise social e da retirada de direitos, prima a precarização e superexploração do trabalho, com a contradição de que a classe que vive do trabalho no mundo é cada vez mais numerosa e cada vez mais sem direitos. Somam-se a isso os problemas associativos e de consciência que respondem à profunda fragmentação da sociedade, onde a dificuldade para a classe entender-se enquanto tal é grande.

A rápida transformação na organização do trabalho, agora motivada por um fator adicional que acelera todas as mudanças oriundas da tecnologia, a Inteligência Artificial, desafia o conjunto da classe. Um universo de possibilidades que se abre, mas quando controlado e programado por um punhado de bilionários para aumentar seus lucros, traz mais sofrimento e controle para quem vive do próprio suor.

É preciso olhar para a classe, suas demandas, seus movimentos e seus limites. Ao contrário dos setores liberais – que vão desde a imprensa até seus representantes políticos e judiciários – não são as personalidades e a superestrutura que fazem sozinhos a história: é a classe trabalhadora (ampla maioria social) que condiciona o teatro dos acontecimentos quando confrontada pela dinâmica da luta de classes.

Em tempos de Trump

A vitória de Trump representa uma ameaça, trazendo dois desafios fundamentais, para serem refletidos nesse 1º de Maio: como ampliar a resistência dos povos a seus planos de destruição e como a própria classe trabalhadora estadunidense encara a experiência com Trump, um neofascista que busca se apoiar, nos setores mais atrasados da classe.

As demandas de enfrentamento à crise são várias: desde a tragédia ambiental à crise social – com as condições de vida sendo corroídas pela informalidade, pela inflação e pela falta de perspectiva para as jovens gerações. Além da resistência palestina, que comove o mundo lutando contra o Golias do sionismo, importantes lutas ocorrem por todo Planeta. Podemos destacar as mobilizações democráticas na Sérvia e na Turquia e a entrada em cena do proletariado sul-coreano que evitou um golpe de estado, além de mobilizações massivas nos anos anteriores no Quênia, Nigéria, Bangladesh e Sri Lanka, só para ficarmos em países populosos, com grandes concentrações urbanas e de trabalhadores.

Além disso, tivemos greves gerais na Bélgica, Índia, Grécia, Argentina, entre outros países, apenas nesses primeiros quatro meses do ano. O Panamá iniciou uma greve de setores da educação e da construção civil há alguns dias.

Nos Estados Unidos, a resistência a Trump também começa, após a repercussão da sua desastrada guerra de tarifas. Os protestos se multiplicam e começam a ganhar densidade.

O que fará a classe trabalhadora que votou em Trump na expectativa de dias melhores, frustrada com as promessas do establishment e do Partido Democrata? O que acontecerá se os resultados do governo de Trump começarem a confirmar as piores previsões, sua retórica populista pode se desmanchar (como as primeiras pesquisas de opinião já indicam) e mostrar a verdadeira cara do neofascismo, uma guerra contra o povo a serviço dos grandes capitalistas? É importante lembrar que Trump visitou os piquetes dos metalúrgicos e dialoga com o “operário médio branco”, com o lema de fazer a América Grande Outra Vez.

Devemos nos atentar porque estamos em um momento político e histórico decisivo. A possibilidade de reviravoltas e espaço para reconstruir a experiência histórica da consciência de classe – agora renovada – deve estar no horizonte do ativismo. Para tanto, uma questão elementar é defesa dos imigrantes e a construção de pontes entre os diferentes setores da classe. No 1º de Maio, ações de rua são convocadas na expectativa em torno do May Day norte-americano.

Um caminho de lutas

Se, conforme os dados da OIT, temos cerca de 3 bilhões de proletários no mundo (estima-se que cerca de 770 milhões sejam de operários industriais), no Brasil, os dados do IBGE de 2018 falam em quase 170 milhões de pessoas em idade de trabalhar, considerando, conforme seus critérios, 105 milhões como “População na Força de Trabalho”.

A classe trabalhadora no Brasil é amplamente majoritária, socialmente falando, e extremamente diversa. Uma classe trabalhadora em sua maioria feminina, superexplorada, ainda muito concentrada e com grande peso da população negra. Segundo dados do IBGE de 2024, a informalidade chegou em gritantes 38,9% e a renda domiciliar per capita é de R$2.069.

Nossa classe está marcada pelas reformas sindicais e trabalhistas que retiraram direitos; pela alta taxa de informalidade; pela precarização do trabalho, seja pela uberização, seja pela enorme gama de contratos terceirizados. O que se nota é a ampliação do custo de vida sem uma efetiva recomposição salarial.

Sobrevivendo em condições de moradia precárias (a maioria sem condições de ter casa própria), com pouco acesso às políticas urbanas básicas, como saneamento, asfalto e acesso à transporte, e sem um Estado garantidor de qualidade nos serviços, nossa classe se move como pode. Improvisa e “batalha” como estratégia para cuidar de si e dos seus, seja através de MEIs, na informalidade, trabalhos autônomos, além dos que estão no regime terceirizado, assalariados com carteira assinada ou no serviço público.

É essa classe real, fragmentada, bombardeada por fake news, abandonada muitas vezes por seus sindicatos e frustrada com as traições de projetos como o do próprio PT, que ajudou e se empenhou em construir, que respira cotidianamente nas cidades brasileiras.

Nesse quadro, apesar de tudo, existem lutas importantes que valem ser destacadas, porque indicam um caminho.

Desde greves importantes, como a dos servidores municipais em São Paulo, com protagonismo da educação, até duas lutas estruturais, pouco visibilizadas pela imprensa: a batalha dos entregadores por mais direitos e o movimento pela redução da jornada semanal de trabalho, expresso na luta contra a escala 6×1.

A força da classe, a força do programa

É nesse complexo arranjo, com um agravante da polarização entre a extrema direita e um governo de conciliação de classes, social-liberal, que não melhora as condições de vida do povo, que a classe faz suas experiências. Disputada por outras visões e identidades, como a do “empreendedorismo”, a esquerda deve ser paciente e dialogar com todas as suas expressões, como corretamente afirma Vanessa Monteiro em seu artigo.

Os atos do 1º de Maio, onde nós do MES- PSOL estaremos presentes, são um retrato desse momento disperso. Estaremos nos atos da esquerda combativa, nos atos convocados pelo VAT, em eventos sindicais e culturais, além de marcar presença no calendário em todas as capitais e grandes cidades.

Para além dessa fotografia, que também amplia o potencial de luta ainda não desenvolvido ao extremo da poderosa mobilização de entregadores e da pauta contra a escala 6×1, é preciso compreender a dinâmica. Fomentar e apoiar com toda força um programa que expresse, desborde as direções sindicais rotineiras, muitas vezes burocráticas e atreladas ao Estado e ao governo, é um ponto de partida.

A campanha contra a escala 6×1 é o grande carro chefe. A defesa dos direitos dos entregadores. O apoio às greves como a de SP e outras para que elas triunfem e arrastem como exemplo. A luta contra a absurda decisão patronal do STF a favor da “pejotização”, ou seja, mais e mais retirada de direitos.

Nossa aposta é na força do programa que pode mobilizar a classe trabalhadora. E na sua auto-organização e confiança em saídas coletivas.


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