Glauber Fica! O 24 de abril na Cinelândia e as tarefas gerais da conjuntura
Mobilização em defesa do deputado federal do PSOL é parte de luta mais ampla da esquerda
Foto: Deputado federal Glauber Braga. (GB/Reprodução)
A conjuntura política segue marcada pelo impasse quanto ao lugar da extrema direita no cenário – diante do desfecho do que pode ser a ação judicial contra os golpistas -, somada a dificuldade do governo em postular medidas de caráter popular para sair da crise vivida pela ampla maioria da população. Neste cenário, as mobilizações existem, mas aparecem dispersas, como vemos nas convocatórias fragmentadas do 1º de Maio.
Diante desse impasse, a absurda decisão do Conselho de Ética da Câmara e de seu relator Paulo Magalhães, de cassação do mandato do deputado Glauber, Braga abriu um precedente contra as liberdades democráticas e a representação parlamentar, sobretudo a oriunda da esquerda. E desencadeou uma onda de solidariedade potencializada pelo gesto extremo de greve de fome de Glauber, que durou 9 dias e se encerrou antes da Páscoa, acordando com o presidente da Câmara em adiar o trâmite do caso para o segundo semestre. Nesta próxima quinta-feira, 24, teremos um ato de apoio à Glauber na Cinelândia.
A solidariedade se espalhou
Dada a arbitrariedade da decisão, completamente desproporcional na atual relação de forças (registra-se que, dos inúmeros casos de brigas e conflitos dentro do Congresso Nacional, nenhum foi levada à punição tão grave), a solidariedade se espalhou. Desde o ator Marco Nanini, que acompanhou a malfadada sessão do Conselho de Ética presencialmente, até notas de sindicatos importantes, juristas, artistas, lideranças ecumênicas e da sociedade civil, nomes de peso: o abaixo-assinado superou as 150 mil assinaturas, parlamentares e lideranças diversas foram visitar Glauber, durante a greve de fome. A imprensa foi sintoma da “mudança de ares”, a partir do impasse criado na semana passada. Um manifesto internacional também foi articulado.
O adiamento não significa uma vitória definitiva na defesa do mandato de Glauber, mas um respiro para ganhar tempo e lutar na opinião pública para reverter a decisão. A entrevista de Glauber, publicada na Folha de São Paulo de 22 de abril, indica o espaço para essa batalha de forma inteligente, dialogando com a amplitude necessária para abrir caminho de um desfecho favorável.
É uma luta importante, que uniu o PSOL, sua bancada e mobilizou sua base social a partir de uma medida defensiva, contra um ataque que terá efeitos sobre toda esquerda. Vale destacar o papel de Sâmia na articulação de solidariedade e nas reuniões, bem como de diversos parlamentares do PSOL e de outros partidos que abriram canais de diálogo com setores do governo e de bancadas de partidos diversos, de centro e outras orientações ideológicas.
Cinelândia, dia 24 e depois
Na mesma semana, em outra proporção, o apoio popular e a mobilização ao redor da defesa do mandato de Bruna Biondi, vereadora mais votada de São Caetano do Sul (SP), através do mandato coletivo Mulheres Por Mais Direitos, enterrou uma proposta de comissão para tirar-lhe o mandato, numa operação (por sorte, mal-sucedida) da direita local pegando carona no caso Glauber.
O ato da Cinelândia tem tudo para demonstrar a força da pauta democrática encarnada, por agora, na defesa do mandato de Glauber. Mostra o caminho para uma campanha ampla e politizada, que coloca também o PSOL e sua ala esquerda em evidência.
Contudo, é preciso dialogar com os temas mais candentes da conjuntura para se ter uma visão completa das tarefas do período. Além de seguirmos a campanha Sem Anistia!, que deve entrar em nova fase com a entrada de pauta no parlamento, alguns processos se desenvolvem em forma dispersa e molecular, como vínhamos antevendo.
Apoiar as lutas
Importantes encontros do movimento de massa tem engajado e gerado debates, como o CONEG da UNE que deu o lançamento no processo múltiplo de eleição de delegados para seu congresso nacional, marcado para julho; o congresso do sindicato dos professores do Oeste do Pará que pautou a necessidade de seguir a aliança entre a educação e a luta ambiental e dos povos indígenas; a preparação para a COP-30, também no Pará no segundo semestre. Em paralelo, greves como a dos municipários de São Paulo, com os professores a cabeça, esquentam o cenário das lutas. Dia 25 a CNTE tem marcado um dia nacional de paralisações.
Duas lutas fundamentais também se desenvolvem nesse momento: a dos entregadores de aplicativos, que seguem mobilizados, e a campanha pelo fim da escala 6×1, que deve ganhar fôlego com a jornada de 1 de maio convocada pelo VAT e pela mobilização dos trabalhadores do supermercado Zaffari.
É preciso aproveitar o ânimo dessas lutas para coordenar um debate político e programático que aponte as tarefas do período: além de barrar a extrema direita, colocar em pé uma esquerda anticapitalista capaz de enfrentar os desafios do caos climático e da nova Era Trump.