Diretores afastados: Nunes precisa se explicar 
EMEF Espaço de Bitita

Diretores afastados: Nunes precisa se explicar 

Sem transparência, gestão Ricardo Nunes impõe afastamento de diretores e acende alerta sobre terceirização das escolas municipais de São Paulo

Redação da Revista Movimento 23 maio 2025, 09:20

Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

A gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) deu mais um passo no seu projeto de desmonte da educação pública de São Paulo. Sob a justificativa questionável de baixo desempenho em avaliações como o Ideb, ao menos 25 diretores de escolas municipais foram afastados de seus cargos. Na prática, especialistas, educadores e parlamentares da oposição denunciam que essa medida não é sobre qualidade de ensino, mas sim sobre abrir caminho para a privatização disfarçada da educação pública.

A decisão foi publicada no Diário Oficial do município nesta sexta-feira (23), após os diretores serem chamados, de forma abrupta, para uma reunião na quinta-feira (22), onde foram informados de que seriam removidos de seus cargos até o fim do ano letivo para participarem de um suposto programa de “requalificação”.

A medida, inédita na história da rede paulistana, vem sem critérios claros, gerando indignação entre docentes, especialistas em educação e comunidades escolares. A própria Secretaria Municipal de Educação admite que os critérios se baseiam apenas nos índices Ideb e Idep, sem detalhar quais foram os parâmetros exatos utilizados – especialmente porque as escolas afetadas não estão entre as piores da rede.

Caso da escola Bitita revela contradições

Um exemplo que escancara as contradições da decisão é o da EMEF Espaço de Bitita, localizada no bairro do Canindé, zona norte da capital. Segundo reportagem da Folha de S. Paulo, a escola teve um Ideb de 4,8, abaixo da média municipal de 5,6, mas sua realidade vai muito além dos números frios.

A unidade é referência no acolhimento de crianças imigrantes, muitas das quais chegam sem sequer falar português, o que evidentemente impacta os resultados em avaliações padronizadas. Ainda assim, a escola tem reconhecimento nacional e internacional: já recebeu prêmios pedagógicos e foi convidada a ser uma escola parceira da Unesco, pela excelência no seu trabalho de inclusão e formação cidadã.

Privatização disfarçada?

O afastamento dos diretores não acontece por acaso. Desde que assumiu o cargo, Ricardo Nunes vem atacando diretamente os profissionais da educação, culpando-os pela queda dos indicadores — queda que, vale lembrar, reflete o abandono histórico do poder público na valorização da rede. Em tom acusatório, o prefeito chegou a afirmar no início do ano letivo:

“Todo mundo recebe o mesmo salário, tem a mesma estrutura. Como é que tem escola com nota 7 e outras com nota 4,5? Não podemos aceitar de jeito nenhum isso. Precisamos de professores comprometidos.”

O que Nunes não diz é que sua própria gestão não garante condições mínimas para que todas as escolas enfrentem os desafios específicos de seus territórios. Pelo contrário, a precarização se agrava, enquanto o discurso é usado para justificar uma das suas principais promessas: entregar a gestão das 50 escolas mais vulneráveis para a iniciativa privada.

Diante desse cenário, a vereadora Luana Alves (PSOL) acendeu o alerta em suas redes sociais:

“Está circulando, a notícia (ainda não oficial) de que a Prefeitura quer iniciar, nos próximos dias, a substituição de diretores de escolas, por interventores terceirizados. É uma clara tentativa de privatizar às escondidas. Prefeito Ricardo Nunes precisa se explicar URGENTEMENTE!”

Questionada pela Folha de S. Paulo se esse afastamento já é parte de um plano de privatização, a Secretaria Municipal de Educação se esquivou e não respondeu. Limitou-se a dizer que os diretores afastados participarão de uma “capacitação inédita”, que envolve vivências em outras unidades educacionais, prometendo manter os salários – como se isso fosse suficiente para justificar uma intervenção tão grave na autonomia das escolas.

Defesa da escola pública é urgente

Organizações, educadores, sindicatos e movimentos sociais veem nessa medida uma escalada perigosa do projeto de desmonte do ensino público municipal. Sem qualquer diálogo com a comunidade escolar, o governo Nunes avança sobre direitos históricos, ameaça a gestão democrática e acena abertamente para a terceirização e privatização dos serviços educacionais.

Se São Paulo não reagir, o que se desenha é uma cidade onde a educação pública, democrática, inclusiva e gratuita cede espaço para modelos de gestão voltados ao lucro, em prejuízo das crianças, das famílias e de toda a sociedade.


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Autores

Camila Souza