O teatro da CPI das Bets
Virginia

O teatro da CPI das Bets

CPI das Apostas Esportivas investiga lavagem de dinheiro e manipulação de resultados; influencier Virgínia adota estratégia de desinformação

Tatiana Py Dutra 14 maio 2025, 08:42

Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

A CPI das Apostas Esportivas – chamada informalmente de CPI das Bets – tem colocado em evidência a relação obscura entre casas de apostas digitais, influenciadores digitais e possíveis esquemas de manipulação de resultados em eventos esportivos no Brasil. Com mais de R$ 100 bilhões movimentados anualmente por plataformas como Blaze, Betano e outras, a ausência de regulação efetiva abriu margem para práticas ilícitas e para o aliciamento de jogadores, especialmente em ligas de futebol de base.

Na última semana, o foco da comissão parlamentar se voltou para uma das figuras mais influentes do mundo digital: Virgínia Fonseca, empresária, youtuber e rosto de campanhas publicitárias milionárias. Convocada para depor por sua relação comercial com a Blaze, uma das casas de apostas sob investigação, Virgínia adotou uma estratégia já conhecida no mundo político: a da ignorância conveniente.

Durante sua oitiva, a influenciadora afirmou desconhecer que a Blaze se tratava de uma empresa de apostas.

“Não sabia que era uma plataforma de jogos de aposta”, declarou diante de deputados que, por sua vez, optaram por não aprofundar questionamentos, demonstrando certo constrangimento em confrontar uma celebridade cuja imagem é amplamente blindada nas redes.

A postura de Virgínia – que ganhou notoriedade ao transformar sua vida pessoal em um império de marketing digital – escancara uma tática defensiva: se fazer de desinformada diante de um negócio que a remunera com valores milionários. Segundo investigações da própria CPI, influenciadores recebem comissões sobre as perdas dos usuários indicados, o que gera conflitos éticos e estimula a promoção do jogo, sobretudo entre jovens e vulneráveis financeiramente.

O que está por trás da CPI

A CPI das Bets foi instaurada para investigar não apenas os escândalos de manipulação de resultados no futebol brasileiro, mas também a lavagem de dinheiro e evasão fiscal por parte das plataformas de apostas. As operadoras, a maioria sediada em paraísos fiscais e sem sede no Brasil, têm firmado contratos com celebridades para atrair jogadores, muitas vezes sem a devida transparência.

Em paralelo, o governo Lula tem avançado na regulamentação do setor, com a criação de uma Secretaria de Prêmios e Apostas e a exigência de que as empresas obtenham licença para operar no país, paguem impostos e sigam regras de publicidade responsáveis. O objetivo é combater a farra de um mercado bilionário que lucra sem qualquer compromisso com a saúde pública – num contexto em que o vício em jogos é uma questão cada vez mais grave.

A convocação de nomes como Virginia, Felipe Neto (também sócio da Blaze), Neymar (parceiro da Blaze e sócio da plataforma de fantasy games “Ney.bet”) e outros grandes influenciadores aponta para um modelo de negócios que mistura entretenimento, vício e lucro fácil, respaldado por algoritmos e uma audiência de milhões.

Teatro encenado

A audiência com Virgínia teve tom morno, marcada por perguntas genéricas e pouco incisivas. Deputados da comissão, muitos deles também apoiados por grupos empresariais ou religiosos com interesse no tema, se abstiveram de aprofundar as contradições do depoimento. A audiência serviu mais como espetáculo do que como apuração – uma encenação em que os parlamentares se fizeram de inquisidores, e a influencer se fez de leiga.

No entanto, os dados são irrefutáveis: a influencer tem vínculo publicitário direto com a Blaze, já divulgou códigos promocionais em suas redes sociais, e é casada com o cantor Zé Felipe, também investigado. O casal, com milhões de seguidores, atua como um canal direto de indução ao consumo das apostas, numa prática que lembra o funcionamento das antigas pirâmides financeiras.

A esquerda e a regulação

Setores da esquerda têm defendido a regulação firme do setor de apostas, com enfoque na proteção social, na saúde mental e na defesa do consumidor. Parlamentares do PT, PSOL e PCdoB têm cobrado transparência, tributação progressiva e limites à publicidade de jogos online, sobretudo aqueles voltada a públicos jovens.

Enquanto isso, as apostas seguem crescendo em popularidade. E o mercado, por ora, continua lucrando — amparado por rostos sorridentes e discursos de desinformação cuidadosamente ensaiados.


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