Protesto cobra justiça pela morte de trabalhador no metrô privatizado de SP
Manifestação nesta sexta (9) denuncia negligência da ViaMobilidade e os riscos da privatização do transporte público; caso chocante evidencia falhas de segurança e omissão do governo Tarcísio
Foto: Geogast/Wikimedia Commons
Nesta sexta-feira (9), às 18h, movimentos sociais, sindicatos e usuários do transporte público se reúnem em frente à sede da ViaMobilidade, ao lado da Estação Capão Redondo, na zona sul de São Paulo, para exigir justiça pela morte brutal de Lourivaldo Ferreira Silva Nepomuceno, de 35 anos, ocorrida na última terça-feira (6) na Estação Campo Limpo, da Linha 5-Lilás.
O trabalhador foi arrastado por estações após ficar preso entre o vão da plataforma e o trem. A composição, sem condutor, seguiu viagem mesmo com o passageiro imprensado — resultado direto da ausência de sensores de segurança e falhas graves nos protocolos da concessionária. A cena, descrita por testemunhas como dantesca, escancara o risco imposto diariamente à população que depende de um metrô gerido pela lógica do lucro.
A ViaMobilidade, empresa privada responsável pela linha, divulgou nota em que praticamente culpabiliza a vítima, dizendo que “reitera a importância de respeitar os alertas de fechamento de portas”. A resposta gerou indignação entre familiares, usuários e parlamentares.
“Nos últimos 3 anos, as linhas geridas pela ViaMobilidade tiveram o dobro de falhas que as linhas do Estado. Essa empresa, de amiguinhos do Tarcísio, só pensa no lucro, enquanto o povo perde a vida”, denunciou a vereadora Luana Alves (PSOL). “O que aconteceu na Estação Campo Limpo não foi um acidente, foi resultado da privatização da Linha 5. Superlotação, em nome do lucro. O trem automático, para reduzir gastos com funcionário, não identificou a falha dos sensores. Que a ViaMobilidade seja responsabilizada.”
A deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP) reforçou a gravidade do ocorrido, que simboliza o desmonte do transporte público em nome da privatização.
“Lourivaldo Ferreira Nepomuceno tinha 35 anos, 3 filhos, uma esposa e uma família. Faria aniversário neste domingo. Estava indo para o trabalho. Cursava o último ano da faculdade. Foi vítima da imprudência e ganância típica da ViaMobilidade: o trem não tinha condutor, a porta não tinha sensor. A empresa limpou tudo antes da perícia chegar. Banalizam a vida e a morte em nome do lucro e da ganância. No projeto privatista todo dia há um descarrilamento, um incêndio, uma pane elétrica, passageiros caminhando sob os trilhos”, afirmou.
A morte de Lourivaldo não é um caso isolado. A ViaMobilidade – empresa do grupo CCR, que tem entre seus acionistas nomes com trânsito no governo estadual – acumula queixas por falhas frequentes, acidentes e negligência operacional. Levantamento do jornal Folha de S.Paulo aponta que as linhas administradas pela concessionária registram o dobro de falhas operacionais em relação às operadas diretamente pelo Estado.
Diante da comoção e da pressão popular, o Ministério Público do Estado de São Paulo abriu investigação para apurar responsabilidades. Em nota oficial, o MP considerou que a falta de sensores “indica a existência de grave falha na segurança” e deu prazo de cinco dias para que a Secretaria dos Transportes Metropolitanos e a ViaMobilidade se manifestem. Também solicitou o contrato de concessão, medidas adotadas para segurança de embarque e desembarque, e questiona se há falhas estruturais na Estação Campo Limpo.
Além disso, a Artesp – agência reguladora – foi intimada a identificar quais itens contratuais de segurança estariam sendo descumpridos pela concessionária. O caso deve ampliar o debate sobre a responsabilidade do Estado na fiscalização e sobre os efeitos perversos da privatização em setores essenciais.
A manifestação desta sexta é convocada por movimentos populares e parlamentares comprometidos com a defesa do transporte público, seguro, estatal e de qualidade.
“Não aceitaremos mais mortes causadas por ganância. Privatização mata, e precisamos lutar por um transporte público gerido com responsabilidade e respeito à vida”, conclui Luana Alves.