Um ano após tragédia, Porto Alegre volta a alagar sob promessas vazias da prefeitura
Executivo falha na prevenção a novas enchentes, enquanto população enfrenta alagamentos e improvisos com sacos de areia. Deputada Luciana Genro critica falta de políticas públicas efetivas
Foto: Tatiana Py Dutra/Revista Movimento
Pouco mais de um ano após a enchente histórica de 2024, Porto Alegre volta a enfrentar alagamentos e o medo da população, com o Guaíba ultrapassando novamente a cota de inundação. Na manhã desta quarta-feira (25), o nível da água chegou a 3 metros no Cais Mauá e 3,42 metros na Usina do Gasômetro, segundo o Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da UFRGS. Mesmo sem chuvas nos últimos dias, diversas vias da capital gaúcha amanheceram alagadas. E a resposta da prefeitura? Sacos de areia.
O prefeito Sebastião Melo (MDB), que meses atrás foi à Holanda em viagem oficial para “buscar tecnologias contra enchentes”, vê sua administração recorrer agora a soluções emergenciais precárias, como o uso de sacos – ou “bags”, como nomeados pela gestão – em diques sem comportas. Enquanto isso, bairros como Navegantes, Humaitá e Vila Farrapos voltam a ser os mais atingidos, revivendo o pesadelo vivido em 2024.
“Porto Alegre alagada (mais uma vez), mas segundo a prefeitura, a população pode ficar tranquila! Não são simples sacos de areia que estão protegendo a cidade, mas sim ‘bags’”, ironizou a deputada estadual Luciana Genro (PSOL), em crítica à condução do Executivo municipal. “Enquanto o Executivo coloca essas ‘bags’ no lugar de comportas, a água segue entrando na cidade do mesmo jeito. O que precisamos são políticas públicas eficazes, com evidências e pensadas de forma permanente, não emergencial! Um ano após a enchente de 2024, nada foi feito para prevenir novos desastres”, denunciou.
Sem investimentos
Os alagamentos desta semana escancaram a falta de planejamento urbano e de investimento em infraestrutura hidráulica. Mesmo com um projeto de reforço nos sistemas de drenagem anunciado pelo Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) após a tragédia de julho de 2024, as obras ainda estão em fase de licitação. Segundo o Dmae, o investimento previsto é de R$ 1,2 milhão, valor irrisório diante da gravidade da crise ambiental que a cidade enfrenta.
A reportagem do jornal Zero Hora flagrou ruas tomadas por água e bueiros transbordando, inclusive com sacos de areia posicionados para conter o avanço da inundação. Na Zona Norte, a Rua João Moreira Maciel precisou ser interditada pela EPTC por volta das 7h30, após novo episódio de alagamento.
Para Arlei Romero, presidente da Associação dos Empresários do 4º Distrito, a situação beira o abandono:
“Estamos orientando comerciantes a erguerem seus estoques, maquinário, o que for possível. Não dá para repetir o que vivemos no ano passado”, declarou à Rádio Gaúcha.
A manutenção do Guaíba acima da cota de alerta desde a última sexta-feira (20) reforça a urgência de uma política de prevenção consistente e democrática. O cenário atual, de improvisos e descaso, expõe uma cidade abandonada à própria sorte, cuja população mais vulnerável continua sendo a principal vítima do desgoverno e da negligência ambiental.