Zohran Mamdani, o muçulmano socialista que pode ser prefeito de Nova York

Zohran Mamdani, o muçulmano socialista que pode ser prefeito de Nova York

Uma avaliação sobre a surpreendente vitória do candidato do DSA nas primárias democratas

Gilberto Araújo 25 jun 2025, 15:41

Nada será como antes na maior cidade dos Estados Unidos, Nova York, frequentemente chamada de a “capital do mundo”.

Nesta terça (24), Zohran Mamdani venceu as primárias do Partido Democrata e disputará oficialmente a prefeitura em novembro, contra o Partido Republicano.

A dimensão da vitória ainda está por ser medida. Zohran é um jovem deputado estadual de 33 anos, militante do Democratic Socialists of America (DSA), o agrupamento socialista mais relevante do país. Sua vitória era inesperada até poucos meses atrás, mas uma gigantesca campanha-movimento o levou ao êxito.

Zohran é imigrante. Nascido em Uganda e filho de pais indianos, ele mudou para Nova York aos sete anos de idade. Muçulmano, sua voz é uma das mais ativas e reconhecidas na defesa da causa Palestina.

A plataforma de campanha de Zohran centrou-se em dois eixos. Primeiro, a agitação clara em torno de demandas econômicas sensíveis. As propostas são: congelar os preços dos aluguéis, tornar os ônibus gratuitos e mais rápidos, universalizar a rede gratuita de creches e construir supermercados municipais com preços subsidiados de alimentos. Para garantir o orçamento disso, os muito ricos serão taxados.

Já o segundo eixo foi a mobilização para transformar a política. Tratou-se de uma campanha contagiante, que mobilizou 40 mil voluntários e bateu à porta de 1 milhão de casas. A arrecadação financeira teve 20 mil contribuições, a maioria de pequeno valor. Nas últimas semanas, era praticamente impossível caminhar pelas ruas de Nova York sem encontrar voluntários, em sua maioria jovens.   

Com essa força, Zohran derrotou o establishment do Partido Democrata. Trata-se de um feito inédito, semelhante à hipótese de Bernie Sanders ter vencido as prévias presidenciais que disputou em 2016 ou 2020. O adversário de Zohran era Andrew Cuomo, ex-governador, apoiado por megaempresários, inclusive trumpistas.  

O coração da campanha-movimento foi o DSA, junto a milhares de ativistas que se envolveram pela primeira vez com a política. Entre eles, muitos organizados em sindicatos e comunidades de imigrantes. É importante destacar que o DSA, embora dispute as primárias democratas, é uma organização independente, defensora da estratégia de construção de um novo partido para os trabalhadores estadunidenses.   

Assim, a vitória de Zohran revela e amplia a crise no corrupto Partido Democrata, investindo na polarização política, na firmeza programática e na mobilização. 

Por fim, sua vitória é um evidente pesadelo para Trump. A principal cidade do país poderá ser governada pela antítese da extrema-direita neofascista. Nova York, assim como Los Angeles, é uma “cidade-santuário”, historicamente protetora dos direitos dos imigrantes, embora essa condição esteja sendo ameaçada por Eric Adams, o atual prefeito que é acusado de corrupção e de ter firmado acordos com Trump em benefício próprio. 

Pode-se presumir o enfrentamento que haverá entre uma prefeitura de Zohran e a presidência de Trump, no futuro.  

A batalha, entretanto, não está encerrada, mas apenas recomeça em outro patamar. No sistema eleitoral estadunidense, após as prévias, ocorrem as eleições de fato, em novembro. No caso de Nova York, tradicionalmente, o indicado pelo Partido Democrata vence as eleições. Mas seria ingênuo esperar normalidade numa situação extraordinária.

Tanto Eric Adams quanto Andrew Cuomo ainda podem disputar as eleições por partidos alternativos. E não é descartado haver uma coalizão entre republicanos e democratas conservadores contra o candidato socialista — um caso desse tipo já ocorreu em 2021, em Buffalo (NY), após um membro do DSA vencer as prévias. 

Por outro lado, caso o establishment democrata reconheça Zohran enquanto o candidato do partido, a contraface disso será uma enorme pressão para tentar moderar o seu conteúdo programático.

Ao ativismo que ontem concluiu o feito notável de levar Zohran à vitória, as tarefas são claras. A maior delas é ampliar a mobilização até novembro e vencer as eleições, o que impactará a conjuntura nacional e internacional de enfrentamento contra Trump. Junto a isso, é previso convocar a sociedade e os trabalhadores a se mobilizarem em apoio à essência do programa de Zohran, cuja aplicação não acontecerá sem enfrentamentos de classe. Por fim, deve-se oferecer alternativas organizativas, seja no nível político — ao redor do DSA e de seu núcleo marxista — ou popular, nos bairros, sindicatos e comunidades. 

Há um mundo de oportunidades, riscos e desafios em aberto. Trata-se, agora, de trabalhar e confiar na capacidade dos socialistas de vencer novamente. 


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Camila Souza