5 notas sobre uma semana decisiva
Donald Trump e Jair Bolsonaro foram alvos dos manifestantes (Foto: Paulo Pinto / Agência Brasil)

5 notas sobre uma semana decisiva

A temperatura política e social do país sobe conforme se aproxima a data anunciada para entrada em vigor do tarifaço que Trump quer impor contra o Brasil

Israel Dutra 25 jul 2025, 09:41

Quanto mais se aproxima o 1 de agosto, mais sobe a temperatura política e social no país. Pouco mais de uma semana nos separa da data anunciada para entrada em vigor do tarifaço que Trump quer impor contra o Brasil. As contradições seguem se desenvolvendo, diante de um desfecho ainda imprevisível. O que está nítido, contudo, são as tendências fundamentais da situação política e a necessidade do PSOL e da esquerda radical ter uma postura firme para intervir sobre a conjuntura.

1- Trump e o destino do Brasil

A agressão de Trump contra a soberania brasileira responde ao conjunto de sua estratégia de guerra tarifária, da necessidade de resgatar Bolsonaro e a extrema direita e dos interesses diretos das Big Techs.

O que há de novo na situação é a enorme politização que desatou as medidas de Trump.

Enquanto o governo recupera sua popularidade, setores amplos condenam a ingerência, como vimos nos editorais dos jornais da imprensa mais ligada à burguesia, ou na linha da Rede Globo. Mesmo setores moderados da centro-esquerda vêm caprichando na denúncia do imperialismo, criando um caldo de cultura favorável à politização contra Trump e seus agentes locais, a começar a família Bolsonaro. É extremamente progressivo a volta de atos que queimam bandeiras dos Estados Unidos, resgatando o histórico da esquerda brasileira de luta contra o Imperialismo, tão caro no enfrentamento à ditadura, na luta contra a dívida e o FMI nos anos 80 e 90, contra a ALCA nos 2000.

Os negociadores do governo entraram em campo, com mais de 40 países na OMC apoiando o Brasil nessa queda de braço, inclusive todos os 27 países da União Europeia. A direita brasileira está dividida e na defensiva.

Por outro lado, cresce também a ideia de que um inimigo tão poderoso quanto Trump só poderá ser dobrado com uma luta ampla e internacional. Acompanhar a resistência e a crise no front interno é decisivo. Trump tem problemas com denúncias de escândalos como o que o liga ao criminoso Epstein, enfrenta uma resistência crescente da população e uma retomada da esquerda com o novo ascenso do DSA.

2- O naufrágio do Bolsonarismo

A reação de Bolsonaro e sua família foi errática. Diante da investida contra sua casa, onde foi posto na condição humilhante de utilizar a tornozeleira eletrônica- estando na iminência de fugir como fez seu filho Eduardo- teve que se retirar das redes sociais e evitar agendas públicas depois do horário comercial. Um cerco que de fato está se fechando, conduzido pelo STF.

A tentativa da ala mais dura dos deputados bolsonaristas de “instalar na marra” comissões e romper o recesso do parlamento, foi mal-recebida pelo centrão, que por agora, estanca a crise entre congresso e governo. A entrevista coletiva onde surgiu, de forma desastrada, uma bandeira de Trump, gerou mais cizânia na extrema direita.

Os governadores também batem cabeça, os ditos “herdeiros do bolsonarismo”. Eduardo Bolsonaro luta com todas as forças para virar secretário de governo no Rio de Janeiro, ataca o governador mineiros Zema e Nikolas e cobra solidariedade de parcelas do agro. Tarcisio perdeu espaço depois de suas medidas mais enérgicas, adotando um tom mais discreto.

Não resta outra para Bolsonaro que insistir em trocar as tarifas pela anistia. Visto que essa ideia, ao menos por agora, não entrou fácil mesmo em setores mais reacionários da burguesia (também pelo peso comercial da China), seu caminho é o isolamento e quem sabe, a prisão.

3- A extrema direita deve ser derrotada através de muita luta

A postura do governo, que segue mobilizando sua base social por um lado, e construindo uma ampla mesa de negociação, com Alckmin e Haddad na linha de frente, indica que as negociações serão duras.

A polarização do STF contra Bolsonaro empurra para uma maior tensão por baixo.

As manifestações de rua são parte dessa luta. A agenda que o Congresso da UNE, recentemente realizado em Goiânia, votou é um bom caminho para seguir um calendário, que passa pelo ato do dia primeiro de agosto.

A recente ocupação do INCRA pelo MST é um símbolo da disposição de luta. Devemos cercar de apoio.

O movimento sindical tem que intervir a partir de então, para buscar fazer valer a voz dos trabalhadores nessa peleia. O plebiscito acerca da taxação dos ricos e da luta contra a escala 6×1 vai nessa direção.

As contradições de Trump, as relações comerciais entre os países com destaque para os Brics, e a capacidade de hegemonia entre a maioria social são os fatores que vão decidir esse impasse.

4- A “hora do programa”

O efeito colateral da crise é uma grande politização de parcelas de massa. Cabe ao PSOL, sua militância e lideranças, aproveitar para semear, com força no trabalho de base, nas categorias e locais de estudo, um programa de emergência que una as pontas que estão em debate: defesa da soberania nacional, com a proteção do nosso comércio e indústria; a taxação dos bilionários e dos dividendos; a redução da jornada de trabalho sem redução salarial; em defesa do meio ambiente, veto ao PL da devastação, contra a destruição da Amazonia e a exploração de Petróleo na Foz equatorial; nenhuma anistia para os golpistas, por uma ampla reforma da cúpulas da FFAA, contra a militarização da vida política; aumento de emergência do salário mínimo; contra a reforma administrativa que penaliza os servidores; abaixo o arcabouço fiscal e o orçamento secreto; auditoria da dívida, contra a sangria do capital financeiro, controle de capitais e monopólio do comércio exterior; estatização das terras e empresas do agro que financiaram o 8 de janeiro;

Todas essas são bandeiras que estão, de forma ou outra, na “boca do povo”, mesmo que setorialmente.

É preciso dar unidade e consistência para organizar essas batalhas políticas, pois sem elas não há nenhuma hipótese de mudanças reais, ou melhor, as mudanças serão para pior, com o retrocesso que foi o primeiro mandato de Jair Bolsonaro.

5- Por uma esquerda que não tema em dizer seu nome

Para levar a cabo tais tarefas, democrática e nacionais, é preciso uma esquerda com coragem de inovar e apostar na luta direta.

Isso não é apenas a realidade do Brasil: é a nova esquerda que surge nos Estados Unidos, na Inglaterra, na coragem de Greta e da Flotilha (que saiu das notas de repúdio e passou das palavras ao ato).

A grande burguesia brasileira é incapaz de ser consequente com essas demandas. O Congresso é inimigo do povo, beneficiando seus próprios bolsos e privilégios.

Nos próximos meses, debateremos com todos os setores da esquerda marxista, intervindo nos debates de programa do PSOL (que ainda estão muito esvaziados), para levantar uma esquerda de combate, que não se furte em defender um projeto anticapitalista, ecossocialista e internacionalista.


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