“Bolsonaro, Lula ou Mariella?” O questionamento dos trabalhadores cubanos e o devir do PSOL com a luta classista Latina e Caribenha
images (35)

“Bolsonaro, Lula ou Mariella?” O questionamento dos trabalhadores cubanos e o devir do PSOL com a luta classista Latina e Caribenha

Reflexões sobre a realidade brasileira a partir de experiências vivida em Cuba

Samara Morais 26 jul 2025, 15:37

Durante um período de estudos em Havana fui surpreendida muitas vezes com o seguinte questionamento: “Bolsonaro, Lula ou Mariella?”. A pergunta costumava ser o início de longos diálogos sobre a ascensão protofascista mundial e sobre os rumos da América latina e caribenha, mas em especial quando sabiam que eu era professora no Brasil. 

Para os trabalhadores cubanos é extremamente definida as políticas desses três campos. O Bolsonarismo, como um tipo trumpista de opressão e de novas (renovadas) formas de subalternalização das minorias; o lulismo, como um tipo de partido/liderança carismática conciliatória, que reforma e reorganiza a ordem burguesa por dentro do Estado; e o campo Marielle, um campo progressista de lutas anticapitalistas pautados na melhora das condições objetivas da classe trabalhadora, em especial das “ditas minorias”.

Destaca-se que em tempos de plenárias e discussões acerca dos rumos do PSOL, ter o entendimento do compromisso do partido com uma alternativa real de transformação à sociabilidade capitalista é entender que não podemos ter lideranças e intelectuais de referência sentados à mesa do capital. 

As políticas sociais brasileiras, financeirizadas, contam com uma alcateia empresarial que costuram por dentro do Estado suas ações. Isso se dá no sistema único de saúde com suas diversas formas de terceirização e tem se dado com a educação, primeiramente com o favorecimento das instituições de ensino superior, mediante financiamentos e empréstimos estudantis e ainda mais com o novo ensino médio, que compra serviços e recursos diversos do Banco Mundial, do Fundo Monetário Internacional e das organizações privadas, Fundação Roberto Marinho (desde sempre), Fundação Itaú, Ayrton Senna, Oi futuro e tantos outros. 

O volume financeiro dedicado ao ensino é primeiramente fatiado entre as organizações enquanto professores de todo o país passam por políticas regressivas de arrocho salarial, declínio de previdências e ataques reais as suas aposentadorias. Nesse sentido, é importante destacarmos que o governo Lula III não é a uma oposição real ao bolsonarismo, ele é uma alternativa capitalista palatável para alguns progressistas, mas altamente perigosa para a classe trabalhadora.

O arcabouço fiscal / teto de gastos é a materialidade de que estamos diante de um governo que rifa a reprodução social da classe. Sem dinheiro disponível, entende-se que os meses finais do governo trarão ainda mais descontentamento popular. 

Mas afinal, por que é tão importante o distanciamento do petismo?

O PT desde o Lula I apresenta um grande emparelhamento com as organizações mobilizadoras sociais, setores estratégicos eram compostos por nomes regionais importantes para realizar a articulação do governo com os trabalhadores. O resultado disso não só se deu na desmobilização da classe, mas principalmente na sua desconfiança e desesperança com a capacidade de mudança. Esse movimento não contribuiu com avanços da esquerda radical, porque para isso era necessário que estivéssemos em condições estratégicas de formação e direcionamento, o que vimos foi o avanço do discurso extremista entre os trabalhadores mais precarizados.

Destaca-se que a consciência não surge de um espontaneismo mental, ela é forjada por uma multiplicidade de fatores estruturais, que vão desde as religiões, mídias e demais aparatos, mas sem respostas da esquerda e sem alternativas, o que sobra? Sobram revoltas e incompreensões que ardilosamente são canalizadas para o extremismo. 

O Lula III tem se encaminhado para um último ano de complexa governabilidade, centrão, arrocho, crise climática e por último a queda de braços com trumpismo, todos esses ingredientes somados aos ataques da mídia burguesa que amplia o “suposto cenário de polaridade” e distanciam a classe trabalhadora de ações concretas. Lula e Bolsonaro não são iguais, mas ambos representam frações burguesas.

É fundamental entender que o avanço de discursos protofascistas não é impulsionado pela radicalidade da esquerda. Pelo contrário, essa ascensão é uma construção monstruosa de um tipo de governabilidade que intencionalmente obscurece a profunda relação entre a social-democracia e esses progressos preocupantes.

Figuras como Bolsonaro e Trump não devem ser simplesmente rotuladas como “loucos”. Enquanto não houver uma luta ativa nas ruas exigindo suas prisões, eles continuarão a ser percebidos como líderes legítimos. É somente mediante às intensas manifestações populares e da pressão por suas detenções que esses indivíduos poderão ser desvinculados dos blocos de poder que os sustentam. Somente então serão retratados como lunáticos isolados, da mesma forma que a história, em retrospectiva, fez com figuras como Hitler e Mussolini. Eles não agem por burrice ou impulso, agem com a orientação de quem tem bilhões investidos mundialmente, agem em nome dos que lucram com misérias, crises e guerras. 

As coisas não estão melhores, podemos suprimir a ALCA de um programa partidário, mas não suprimir a nossa convicção de que o Estado É burguês e  todo mandato é revolucionário. A atual perseguição aos nossos representantes políticos é a prova que o avanço da direita tende a nos criminalizar, como o que aconteceu com o PCB em diversos momentos da história.

Afrouxar o debate, suprimir a pauta trabalho e capital é impedir que as frações mais subalternalizadas do país tenham uma maior dificuldade de conhecer o que de fato atravessa suas vidas e aponta uma insurgência extremista e conservadora.

Quando a América Latina e Caribeña mira seus olhos sobre as nossas escolhas políticas e nos questionam se somos Lula, Bolsonaro ou Marielle, elas nos fazem refletir se de fato seremos uma real alternativa ou mais do mesmo. 

Representamos um líder carismático que iniciou o seu terceiro mandato que prevê miséria para os mais precarizados ou representamos politicamente a história de uma mulher assassinada pela milícia racista e misógina, milícia essa que representa justamente os interesses extremistas que desejamos banir da história política desse país!?

Lula sai fortalecido dos embates com o Trump, mas é preciso que a gente avance, precisamos tencionar o petismo para a esquerda e principalmente apontar os limites dessa relação para a classe. Não somos um puxadinho, como a extrema direita tenta nos enquadrar, temos um programa revolucionário. 

Programa esse que precisa continuar debatendo e combatendo  os impactos do imperialismo na reprodução social da classe trabalhadora, em especial das frações subalternalizadas.

De que lado você está? 


TV Movimento

A história das Internacionais Socialistas e o ingresso do MES na IV Internacional

Confira o debate realizado pelo Movimento Esquerda Socialista (MES/PSOL) em Porto Alegre no dia 12 de abril de 2025, com a presença de Luciana Genro, Fernanda Melchionna e Roberto Robaina

Calor e Petróleo – Debate com Monica Seixas, Luiz Marques + convidadas

Debate sobre a emergência climática com a deputada estadual Monica Seixas ao lado do professor Luiz Marques e convidadas como Sâmia Bonfim, Luana Alves, Vivi Reis, Professor Josemar, Mariana Conti e Camila Valadão

Encruzilhadas da Esquerda: Lançamento da nova Revista Movimento em SP

Ao vivo do lançamento da nova Revista Movimento "Encruzilhadas da Esquerda: desafios e perspectivas" com Douglas Barros, professor e psicanalista, Pedro Serrano, sociólogo e da Executiva Nacional do MES-PSOL, e Camila Souza, socióloga e Editora da Revista Movimento
Editorial
Israel Dutra | 25 jul 2025

5 notas sobre uma semana decisiva

A temperatura política e social do país sobe conforme se aproxima a data anunciada para entrada em vigor do tarifaço que Trump quer impor contra o Brasil
5 notas sobre uma semana decisiva
Edição Mensal
Capa da última edição da Revista Movimento
A ascensão da extrema direita e o freio de emergência
Conheça o novo livro de Roberto Robaina!
Ler mais

Podcast Em Movimento

Colunistas

Ver todos

Parlamentares do Movimento Esquerda Socialista (PSOL)

Ver todos

Podcast Em Movimento

Capa da última edição da Revista Movimento
Conheça o novo livro de Roberto Robaina!

Autores