Uma grande mudança
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Uma grande mudança

A luta anti-imperialista ganha força contra os ataques de Trump e seus aliados de extrema direita contra o Brasil

Israel Dutra 17 jul 2025, 20:50

Foto: Queima de bandeira estadounidense em manifestação contra Trump em São Paulo. (Juntos!/Reprodução)

A situação política brasileira teve uma viragem importante, concentrada na última quinzena, que mudou em qualidade a conjuntura e os cenários da política nacional. A crise, que começou a se abrir com o deslocamento da maioria do congresso para uma linha opositora à direita, exigindo de Lula uma resposta mais apoiada nas pautas populares, deu um salto com o acontecimento Trump, com retaliações políticas através da guerra tarifária que atacaram a soberania do nosso país.

Nossa corrente se posicionou, como vimos nos últimos dois editoriais, rapidamente, diante da conjuntura em mudança. Estivemos nas ruas no dia 10 e participamos em unidade de ação de todos atos e manifestações que abraçaram essa agenda, contra o congresso e os inimigos do povo brasileiro, a extrema direita, Trump e os golpistas nacionais. No 60° Congresso da UNE que está acontecendo em Goiânia, a juventude do Juntos levará adiante esse combate, incluindo a defesa da solidariedade à Palestina, do Ecossocialismo e pelo fim dos cortes nas universidades, motivadas pelo arcabouço fiscal.

Diante desses novos eventos, para além do nosso firme engajamento, queremos aqui debater as novas coordenadas e tarefas que se abrem diante da grande mudança na política brasileira, que é, contudo, reflexo da situação internacional, onde cresce a resistência contra Trump e seus ditames.

Donald Trump versus o povo brasileiro

Trump enviou carta a Lula em 9 de julho informando que iria sobretaxar produtos de origem brasileira em 50%. Fez isso como suposta represália diante do que chamou de perseguição à Bolsonaro, além de ameaçar o STF. Isso no contexto da reunião dos BRICS, realizada dias antes no Rio de Janeiro e se justificando com a mentira de que os Estados Unidos tem déficit comercial com o Brasil.

A afronta à soberania nacional, que para além de atacar as instituições brasileiras, levaria ao colapso de parcelas importantes da indústria, teve um efeito imediato.

Em primeiro lugar, se instaurou um clima anti-imperialista, inicial, que não se via desde as mobilizações contra a ALCA (Área de Livre Comércio das Américas) no começo do século XXI. Quem nos últimos anos, de forma farsesca, quis se apropriar dos sentimentos patrióticos e nacionais foi a extrema-direita, que terá mais dificuldades para seguir fazendo essa narrativa.

Há muitos anos não se via queimar bandeira dos Estados Unidos nos protestos, como visto na manifestação de 10 de junho.

Em segundo lugar, detonou o ataque a todo um setor da burguesia nacional, que vai desde a produção citrícola, o conjunto do agro, o café, ao aço, aeronáutico, entre outros. A indignação se fez sentir nos editoriais dos jornais da imprensa burguesa, especialmente os mais ligados às frações da burguesia paulista (Folha e Estadão).

E por fim, o isolamento político de Bolsonaro e de seus aliados foi notório. Seja por parte da linha em relação ao governo, onde, ainda que de forma tardia, Alcolumbre e Hugo Motta cerraram fileiras com Lula, seja no ataque direto à Bolsonaro como fez o Estadão.

Tarcísio se desgastou também. Após colocar os pés pelas mãos, buscando proteger e defender Bolsonaro, Tarcísio perdeu espaço. Citando o mesmo editorial do Estado, a exigência de um setor da burguesia é que o governador de SP defenda os interesses econômicos do seu estado. Ato contínuo, um setor do centrão, que estava migrando do apoio à Lula para a opção Tarcísio, recuou e agora fica em compasso de espera.

Como se não fora pouco, Trump segue “atacando”, quando cita o comércio popular da 25 de Março e até mesmo o uso do PIX, o que dá artilharia ao governo. Um dos maiores focos de desgaste de Lula, a crise do PIX, agora se volta contra Trump e contra o mesmo bolsonarismo.

O Governo saiu das cordas

Trump atuou como o “bombeiro louco”, aquele que coloca gasolina nas mangueiras para supostamente apagar incêndios. O governo federal aproveitou a brecha, ampliando a margem de gestos que já vinha fazendo, como as declarações em favor da taxação dos superricos.

Agora, com um campo muito maior de ação, Lula se utilizou da fragilidade dos adversários para atuar em três frentes: seguiu incentivando a luta política contra Trump, a partir das redes sociais e dos movimentos sociais que influencia, aproveitando e desenvolvendo o entusiasmo da nova conjuntura; no campo político, acertou ao estudar, junto a diplomacia aplicar a lei de reciprocidade; e no terreno da articulação, busca retomar sua hegemonia sobre setores do empresariado que rejeitaram o tarifaço de Trump. Um novo pacto, que Lula começa a construir, pode moderar a polarização contra os super-ricos, além de apostar em deixar a mobilização popular em “fogo baixo”.

O resultado foi impactante. Lula saiu das cordas e aumentou a popularidade enquanto seus principais adversários estão vendo minguar apoio. Tomando a iniciativa Lula passa a liderar todos os cenários, segundo a pesquisa da Quaest. A mesma pesquisa mostra que 72% dos brasileiros condenam Trump pela taxação dos produtos nacionais.

São as chamadas “pautas populares” que impulsionam a retomada da popularidade de Lula, que sobe nas pesquisas e vê seus adversários diretos brigando, com Bolsonaro ejetado para fora da disputa, Eduardo isolado e com riscos de prisão, sobrando um Tarcísio errático e na defensiva.

Lula acertou com Lira, a aprovação na comissão do andamento da isenção do imposto de renda, num acordo que acelera a aprovação dessa medida cumprindo uma tabela progressiva, insuficiente, mas na contramão do que vinha sinalizando Haddad até então. No imbróglio do IOF, Moraes arbitrou a favor da mediação, gerando uma resposta do Congresso através de nova pauta-bomba. Alckmin entrou para negociar uma saída até data prevista para as tarifas entrarem em vigor, dia 1° de Agosto, mas o cenário é de total indefinição.

Uma agenda que ganha força

Dentro da conjuntura, é preciso intervir. Está aberta a oportunidade de instalar no âmbito da luta de massas uma ampla campanha pela taxação dos bilionários, resgatar o sentimento antiimperialista, num momento em que profundas camadas da população, entre todas as classes, se politizam.

Defender a soberania nacional significa fortalecer a defesa dos interesses do país, derrotar o tarifaço e impulsionar um esforço internacional anti-Trump. Um plano de lutas que passe por mobilizações, de forma democrática e não excludente, como a que está sendo construída para o próximo dia 11 de agosto, data que marca o dia dos estudantes e onde as entidades jogam peso para passeatas. O Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos também realizou um forte ato em frente a Embraer contra o tarifaço. A deputada Fernanda Melchionna apresentou um PL – batizado de “ PL da Soberania” – para endurecer as medidas da Lei de Reciprocidade econômica. Devemos golpear fortemente o Imperialismo taxando empresas dos Estados Unidos, além de defender medidas como a quebra das patentes, o controle da remessa de lucros, bem como outras no sentido da centralização do comércio exterior.

Para mover o movimento de massas, é fundamental que os trabalhadores tenham confiança em suas próprias forças, como a defesa do fim da escala 6×1, onde os sindicatos devem chamar um dia de lutas e paralisações para unificar tal agenda, além de participarmos do plebiscito popular proposto para setembro.

Veta, Lula!

Contudo, dentro desse turbilhão, o agro se beneficiou para aprovar, na calada da noite, o PL da devastação. O país que vai sediar a COP30 assiste ao maior retrocesso ambiental em várias décadas.

Isso só indica a natureza atrasada do agro, dependente de um modelo primário-exportador, que só traz mais subalternidade, espoliação e degradação ambiental. Por isso a esquerda anticapitalista e independente, presente no PSOL, deve saber seguir se afirmando e defendendo suas pautas.

Lula acertou em ouvir a opinião pública e vetar o projeto que aumentava o número de deputados. Agora, precisa repetir a atitude e escutar a sociedade: veta Lula, o PL da Devastação!

Uma nova situação está em movimento. Uma queda de braço entre o imperialismo, seus agentes locais, do golpismo vende-pátrias e o conjunto do povo brasileiro. Apenas nas ruas poderemos ter força para vencer os inimigos do Brasil.


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