Igor Felippe: “O Plebiscito Popular é fundamental para colocar a classe em movimento”
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Igor Felippe: “O Plebiscito Popular é fundamental para colocar a classe em movimento”

Em entrevista exclusiva, o dirigente nacional do MST debate o Plebiscito Popular e as tarefas da esquerda perante os recentes ataques imperialistas contra o Brasil

Redação da Revista Movimento 16 ago 2025, 10:07

Entrevistamos Igor Felippe, dirigente do MST e coordenador nacional do Plebiscito Popular, debatendo a importância da iniciativa unitária do plebiscito, os recentes ataques do imperialismo estadounidense à soberania nacional e as tarefas da esquerda militante no país.

Revista Movimento: Qual a ideia principal do Plebiscito Popular? Quais setores e movimentos sociais estão engajados?

Igor Felippe: O Plebiscito Popular articula a maior unidade das forças populares, progressistas, democráticas e socialistas do último período. Congrega um conjunto de partidos de esquerda, desde PT, PCdoB e PSOL, mas também PSB e PDT da centro-esquerda, e também a UP, o PCB e outros partidos, organizações e correntes desse campo. O plebiscito reúne o conjunto das centrais sindicais, foi aprovado pelo Fórum das Centrais, então envolve CUT, Intersindical e CTB, mas também UGT, Força Sindical, Pública, CSB e outras centrais sindicais.

E, dos movimentos populares, congrega o conjunto das organizações que fazem parte da Frente Brasil Popular e da Frente Povo Sem Medo, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, os movimentos de camponeses, os movimentos negros, de mulheres, LGBT. O plebiscito também congrega uma série de organizações que se constituíram a partir de expressões de fé, como as Pastorais Sociais da CNBB, a Semana Social, o Grito dos Excluídos, também os evangélicos, a partir da Frente dos Evangélicos pelo Estado de Direito, os povos de terreiro a partir da participação do CENARAB, e tem avançado também com coletivos de cultura, de comunicação, de diversos instrumentos de organização territorial, e nos estados e municípios isso avança para organizações de caráter local. Também conseguido envolver organizações muito importantes, como o VAT, que está envolvido e está empenhado no processo de coleta de votos.

E tem envolvido também, a partir das redes sociais, essa franja dos setores progressistas, que não está necessariamente organizada, mas que divulga o plebiscito, faz propaganda em seus grupos de WhatsApp, que recolhe os votos a partir do site do plebiscito. Então é uma construção que expressa uma unidade muito grande, a partir do debate com a sociedade, dois temas centrais no programa das forças de esquerda, que são a redução da jornada de trabalho sem redução salarial, com o fim da escala 6 por 1, e uma reforma tributária progressiva, com a taxação dos super ricos, e a isenção do imposto de renda para os trabalhadores e setores médios.

Como os ativistas estão participando? Pode dar exemplos de iniciativas?

Os ativistas estão participando do plebiscito a partir do esforço de fazer o diálogo com a sociedade e a coleta do maior número de votos. Mais importante até do que a coleta dos votos é esse processo de diálogo, formação e conscientização da classe trabalhadora em relação a esses temas. Então a militância está atuando no plebiscito em primeiro lugar na organização de urnas volantes.

A partir da organização de um coletivo de três, quatro pessoas, você faz o cadastro no site de uma urna, lá você pode fazer a impressão da cédula, a impressão da lista de votantes e fazer o processo de coleta de votos e diálogo nos bairros, nas periferias, nas comunidades, nos locais de trabalho, nos locais de estudo, seja nas escolas, nas universidades, em espaços de cultura, lazer, entretenimento e também em espaços de fluxo da população, seja em terminais de ônibus e metrôs. Então a militância se organiza e monta uma agenda na semana para fazer a coleta de votos, às vezes em pontos fixos, às vezes em pontos volantes, a partir da característica de atuação de cada um desses coletivos.

A segunda forma de envolvimento da militância é na organização de urnas fixas. Você pode organizar urnas fixas em sedes de movimentos, de sindicatos, de partidos, de entidades da sociedade, você fazer diálogo com parceiros e parceiras para instalar a urna e você aí tem uma referência nesses lugares para quem quer fazer a votação no plebiscito. E o terceiro é o trabalho nas redes sociais com a divulgação do link de votação. É possível votar no site plebiscitopopular.org.br. Então a partir desse trabalho nas redes sociais, nos grupos de WhatsApp, nas diversas comunidades, conversar com as pessoas, seja da família, seja do trabalho, seja amigos e fazer o processo de divulgação do link e de convencimento em relação a esses temas.

O Plebiscito Popular é uma metodologia de trabalho popular. Nós temos diversas formas para a realização desse trabalho, nesse caso nós conseguimos uma unidade muito grande em torno dessa metodologia do plebiscito e acreditamos que a unidade em torno da metodologia e também das duas bandeiras tem dado muita força e tração porque você consegue ter um conjunto de organizações, militantes e coletivos atuando com a mesma metodologia e debatendo os mesmos temas. Então isso faz com que a gente consiga concentrar força e levar a campanha para um outro nível político e de pressão.

Como você relaciona a pauta do plebiscito com a semana do 7 de setembro e os graves ataques à soberania nacional?

O Brasil está sofrendo um ataque do imperialismo dos Estados Unidos. Não é uma novidade, porque nós já sofremos ataques e intervenções dos Estados Unidos na década de 1950, que levou ao suicídio de Getúlio Vargas, na década de 1960, que teve como consequência o golpe de 1964. Mais recentemente, durante o governo Dilma, teve um processo de intervenção, de escutas e de espionagem que chegou até ao gabinete da Presidência da República, com o objetivo de espionar a Petrobras, que cumpre um papel central no mercado do petróleo e na exploração em altas profundidades. E agora, o ataque mais forte que o Brasil sofre, com a imposição dessas tarifas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

Esse ataque tem algumas perspectivas, uma perspectiva é uma intervenção geopolítica, é um ataque à soberania do nosso país, de definir a sua política externa, e é um ataque, sobretudo, à participação do Brasil nos BRICS, que cumprem o papel de uma articulação econômica que faz frente aos Estados Unidos no momento em que o império está decadente, decrépito, e que tenta, a partir dessas ações, resistir. Em segundo lugar, é um ataque à economia brasileira, então é uma forma de você penalizar setores que exportam para os Estados Unidos, especialmente o setor do café, o setor da carne e outros setores que também sofrem essa tarifa de 50%. Então é um ataque à economia nacional, para impedir o comércio exterior e as exportações para os Estados Unidos.

Em terceiro lugar, é um ataque tecnológico e comunicacional, tanto contra o movimento pela regulamentação das Big Techs no Brasil, como também ao PIX, que é um instrumento de pagamento que representa uma ameaça muito grande às empresas de cartão de crédito. E por fim, um ataque à soberania interna do país. Há uma intervenção em questões internas do nosso país, do ponto de vista da política, que é uma tentativa de impedir que o poder judiciário cumpra a sua tarefa de fazer as investigações e julgar e condenar quem está envolvido na ação golpista do 8 de janeiro, sobretudo o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Isso teve desdobramentos no Congresso Nacional e em toda a sociedade porque é uma forma dos Estados Unidos fazerem uma intervenção em assuntos internos do nosso país. Então, esse é um pouco um panorama geral do significado desse ataque. A nossa avaliação é que quem pode defender a soberania nacional é a classe trabalhadora, é o povo brasileiro.

A classe dominante brasileira tem como características ser antipopular, antidemocrática e antinacional. Ela não tem interesse e ela não tem vontade de avançar na construção de uma nação, de um projeto de desenvolvimento nacional. A burguesia brasileira, a classe dominante, ela é associada e subalterna aos interesses do imperialismo dos Estados Unidos.

Ela se colocou historicamente nesse papel e por isso ela admite bons acordos, mesmo que subordinados, ao invés do enfrentamento a essa intervenção dos Estados Unidos à soberania nacional. Só quem pode defender a soberania nacional, os interesses do povo brasileiro, é a classe trabalhadora. E para a classe trabalhadora se colocar em movimento para defender a nação, é preciso associar a defesa da soberania nacional com medidas e políticas que beneficiam e atendam o programa histórico da classe trabalhadora.

Então, o avanço do Plebiscito Popular, que debate dois temas fundamentais da classe trabalhadora, que é o tema do trabalho e o tema da tributação, é fundamental para colocar a classe em movimento em defesa dos seus interesses e em defesa da soberania nacional. Como só quem pode defender a soberania nacional é o povo brasileiro e a classe trabalhadora, é fundamental associar a defesa da soberania aos programas, propostas e interesses dessa classe porque aí sim nós conseguimos fazer frente a um ataque que é do imperialismo, mas um imperialismo que subordina a classe dominante do nosso país.

Como o MST vê o processo de rearticulação dos movimentos e da esquerda militante no Brasil, nessa quadra histórica?

A unidade das forças populares é fundamental para enfrentar a crise do capitalismo e os seus diversos desdobramentos, como a crise das democracias liberais, esse processo de esfacelamento do tecido social e também esse processo de avanço da desigualdade social e da concentração de renda. A unidade é um pressuposto porque enfrentar esse quadro ainda desfavorável para a classe trabalhadora exige a unidade das forças populares, em primeiro lugar, no processo de diálogo e organização do povo. O grande desafio da classe trabalhadora é retomar o processo de organização da classe trabalhadora a partir de todos os instrumentos possíveis e de novos instrumentos adequados para a atual conformação da classe.

Em segundo lugar, a unidade em torno de um programa. Nós apresentamos a perspectiva do Projeto Popular para o Brasil, que é uma forma de você agregar a luta dos movimentos populares em torno de um projeto maior de mudanças e transformações sociais e de reformas estruturais que possam mudar as estruturas do nosso país. Em terceiro, a unidade em torno de lutas.

 A classe trabalhadora precisa estar organizada, precisa ter um programa, mas precisa fazer lutas que possam fazer frente aos interesses da classe dominante e da burguesia. O Plebiscito Popular é uma experiência importante porque tem caminhado justamente nesse sentido, de avançar na unidade em torno de um programa, da unidade em torno da necessidade de fazer o diálogo e fortalecer os laços com a classe trabalhadora e queremos, a partir dele, avançar num processo de luta social que tenha como objetivo enfrentar os interesses da burguesia que não aceita e não quer reduzir a jornada de trabalho e que não aceita e também não quer pagar mais impostos. Então é preciso avançar nesse processo de organização e luta, fazer pressão sobre o Congresso Nacional e nós sabemos que o Congresso Nacional é a expressão política dos interesses da classe dominante. Nós precisamos fazer um processo de luta para enfrentar os interesses da classe dominante e fazer as mudanças necessárias para o nosso país.


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