Protestos em Israel exigem acordo de paz para libertação de reféns
Greve geral e protestos organizados expõem crescente resistência interna à ocupação da Faixa de Gaza e ao projeto belicista do governo
Foto: Protestos reuniram dezenas de milhares em todo o estado sionista. (Ohad Zwigenberg/TH)
Em uma das maiores mobilizações populares da história recente de Israel, centenas de milhares de pessoas foram às ruas contra o governo de Benjamin Netanyahu e sua política de guerra permanente na Faixa de Gaza. A greve geral, organizada pelo Conselho de Outubro – que reúne famílias de reféns e vítimas do terrorismo -, paralisou cidades inteiras e colocou em evidência a divisão da sociedade israelense diante da escalada de violência no território palestino.
De Tel Aviv a Haifa, passando por Jerusalém e Petah Tikva, manifestantes ergueram cartazes que pediam “Tragam-nos para casa” e “Acabem com esta guerra de merda”, slogans que se espalharam pela chamada Praça dos Reféns, em frente ao Museu de Arte de Tel Aviv, onde meio milhão de pessoas se reuniram, segundo os organizadores. A polícia reagiu com prisões e repressão violenta, mas não conseguiu conter o clamor social que cresceu ao longo do dia.
O recado dos protestos é claro na sociedade israelense: a guerra não trouxe de volta os reféns, apenas multiplicou a morte e o sofrimento em Gaza
“A pressão militar não traz os reféns de volta — apenas os mata. A única maneira de trazê-los de volta é por meio de um acordo, de uma vez, sem jogos”, declarou o ex-refém Arbel Yehoud, ecoando o sentimento de milhares de famílias que se opõem à ofensiva militar.
Mesmo em meio à repressão, com 39 presos em Tel Aviv e dezenas de feridos após ataques da polícia com canhões de água e a ação violenta de um caminhoneiro contra a multidão, o movimento demonstrou força. Estradas foram bloqueadas, lojas e teatros fecharam em solidariedade, e em várias cidades marchas e vigílias ocuparam o espaço público.
Enquanto Netanyahu insiste em continuar o genocídio expandir a ocupação militar – anunciando uma nova ofensiva contra Gaza com apoio de ministros da extrema direita, como Itamar Ben-Gvir e Bezalel Smotrich -, cresce o número de reservistas que se recusam a voltar ao front e soldados que se negam a lutar numa guerra já marcada por 22 meses de destruição. Para os manifestantes, a insistência no “aniquilamento do Hamas” se transformou em um pretexto para aprofundar o projeto colonial de ocupação da Palestina.
“Ocupar Gaza é loucura”, afirmavam grupos na praça, onde também tremulavam bandeiras da paz ao lado das israelenses e dos símbolos em amarelo dos reféns. À noite, manifestantes marcharam até a sede do Likud, partido de Netanyahu, onde ergueram fogueiras e entraram em confronto direto com a polícia.
Apesar do discurso oficial que tenta criminalizar os atos – “Quem hoje pede o fim da guerra sem a derrota do Hamas está fortalecendo o Hamas e retardando a libertação dos reféns”, disse Netanyahu -, a mobilização revelou que parte crescente da sociedade israelense não aceita mais pagar o preço humano, econômico e moral de uma guerra sem fim.