As ruas falam. A situação se agudiza. Construir Força Militante.
Um novo clima político se estabelece, com a entrada em cena das ruas, vocalizando uma maioria social contra o golpismo e a impunidade
O final de semana foi rico e intenso. Além da passagem para primavera, um novo clima político se estabelece no país, com a entrada em cena das ruas, vocalizando uma maioria social contra o golpismo e a impunidade. Como diz a canção, mudaram as estações, alguma coisa aconteceu.
No mesmo final de semana, nós do MES realizamos um vitorioso encontro nacional, contando com um sólido debate e participação diversa. A luta política no Brasil entrou numa nova fase, com a temperatura das ruas voltando. E olhando para o mundo, a revolta contra o genocidio palestino cresce e se radicaliza.
O Encontro Nacional do MES teve seu ato de abertura na sexta-feira, sob a bandeira da luta antifascista e a defesa de um polo da esquerda independente e ecossocialista, contando com cerca de 800 militantes. Uma atividade viva, com peso dos movimentos sociais, de lideranças políticas, parlamentares, dirigentes do MES. Com a presença de palestinos e judeus antissionistas, foi saudada à delegação do MES, Mariana, Gabi Tolloti e Nico Calabrese à Flotilha. Se pode ver aqui com mais detalhe os pontos altos desse espaço, que seguiu no sábado com debates sobre situação política e orientação, além das plenárias nacionais da TLS e da negritude do MES.
O movimento de massas foi às ruas no domingo, dado que marcou a conjuntura, na maior manifestação dos últimos anos- uma centena de cidades, sendo as 27 capitais, com algumas contagens apontando para 600 mil pessoas reunidas no país. Com nomes de peso da música- o ponto alto foi no Rio, com Gil, Chico, Caetano, Paulinho da Viola e Djavan. Uma resposta à altura à PEC da blindagem que colocou o bolsonarismo e sua defesa da anistia numa situação mais defensiva.
E na última terça, com a assembleia da ONU foi polarizada contra o genocidio na Palestina e seu maior patrocinador, Trump. O agudo discurso de Lula expressou essa polarização, que pode ser notada na reconhecimento, insuficiente, mas necessário do direito ao Estado Palestino de França, Reino Unido, Portugal, Austrália, Canadá e mais uma dezena de países. A greve geral que paralisou a Itália é o sintoma, no terreno do movimento de massas, dessa solidariedade que rompeu o cerco que impacta dezenas de milhões de pessoas no mundo.
Uma luta global em curso
A Palestina é linha divisória do mundo. Parar o genocidio é a luta mais importante, apoiada por dezenas de milhões de pessoas no mundo. O estado genocida de Israel ataca com força a flotilha, com drones, ameaçando a integridade física dos participantes. A situação escala, ecoando na Europa- com Itália, Espanha e Irlanda anunciando que vão enviar navios para escoltarem a flotilha.
E é a mesma luta contra a extrema direita que impulsiona a indignação e luta popular contra a PEC da Blindagem, que foi, literalmente enterrada no Senado. O Presidente da CCJ fez menção às deputadas Samia Bonfim e Fernanda Melchionna por impulsionarem o abaixo assinado com mais de 1,5 milhão de assinaturas, fundamental para canalizar o descontentamento e ser parte do movimento de ruas e redes- que teve como ponto alto os atos do dia 21.
A esquerda social contra atacou e polarizou com o bolsonarismo, apostando nas ruas como mecanismo central para inclinar a relação de forças para um programa e um projeto a favor da maioria. O setor da esquerda institucional que emprestou 12 votos para aprovação dessa PEC maldita sofreu rechaço nas ruas.
É preciso aproveitar a conjuntura aberta com a condenação de Bolsonaro e dos golpistas, que ganhou lastro social na última semana para defender e aplicar o veredito do STF. Novas manifestações e um plano de lutas é fundamental para seguir, colocando na ordem do dia a pauta da prisão de Bolsonaro e seus asseclas, da cassação de Eduardo e a defesa das bandeiras sociais: não à escala 6×1, taxar os ricos e contra a reforma administrativa que liquida o serviço público.
Unidade “ à quente” e alternativa anticapitalista
O Encontro do MES foi um verdadeiro polo de sinergia e combatividade. Com a representação de nossos 15 parlamentares, com a fala dos membros do secretariado nacional, com as delegações e saudações internacionais de diversos países, a presença da IV Internacional foi fundamental. A primeira atividade após o congresso que decidiu que o MES é parte oficial da seção brasileira.
De convidados, tivemos lideranças como Paula Coradi, Heloisa Helena, Jones Manoel, Glauber Braga, Lena Lavinas, Vladimir Safatle e David Decacche, que anunciou formalmente seu ingresso no MES. Tivemos saudações das organizações Insurgência RD, Rebelião Ecossocialista e Fortalecer o PSOL, além da presença da LSR. Além disso falaram as frentes do MES, com o trabalho agrário do MPL, a juventude no Juntos, a negritude que está organizando um novo movimento, o Coletivo Juntas, a Rede Emancipa, além da setorial Ecossocialista que se organiza para lutar nas atividades que se realizarão na COP-30.
A conclusão mais importante foi a necessidade de ter uma linha dialética que combine a unidade com amplos setores contra o golpismo e o imperialismo, em consonância com a construção de um polo crítico e revolucionário, a partir da ala esquerda do PSOL, que vá para alem do MES.
Uma unidade que também seja “a quente” como as ruas domingo provaram ser o caminho para derrotar os fascistas em todo lado. Que possa ampliar o escopo de reivindicações, ao redor da luta contra a extrema direita, com um amplo chamado a desenvolver a soberania nacional- seja nas redes, na transição enérgetica justa, nas tarefas democráticas. Isso envolve uma luta consciente e apioada em setores do movimento de massas contra o imperialismo.
Para dar cabo dessa tarefa, é preciso organizar um polo crítico e consciente, com marcos programáticos, capacidade de disputa na batalha de ideias e condições organizativas para ter um plano de enraizamento nos setores em luta. Um polo que defenda um programa de transição atualizado e capaz de produzir agitação política, ancorado no ecossocialismo e no internacionalismo- superando setores que se dizem de esquerda, mas recaem numa visão campista de mundo.
Novas tarefas, novos desafios
No sábado, o encontro se debruçou sobre um rico debate de orientação, a partir de contribuições de textos e dos informes políticos da Direção do MES. Logo após, foram realizas duas plenárias nacionais importantes, a da TLS sindical e popular e da negritude do MES. A plenária da TLS mostrou um sindicalismo renovado, com atuação em cerca de 40 categorias, entre composições nas direções sindicais, oposições e militantes atuantes. Além da educação, que tinha peso importante, se fez notar setores como saúde- onde está se combatendo uma burocracia petista no maior hospital de Porto Alegre, Metroviários( que lutam contra a privatização do Trensurb no RS e na vitória da chapa combativa no sindicato paulista, da qual a TLS tomou parte), Funcionalismo público, metalurgicos, além dos setores populares e camponeses agrupados no MPL.
A negritude do MES realizou um grande evento nacional, de caráter de encontro, rafiticando seu programa e tarefas, votando a necessidade de construir um novo espaço dentro do Movimento Negro, a Maré Negra, que será articulada na campanha política do novembro negro.
Além das tarefas do presente, que envolvem as mobilizações ao redor da luta contra a extrema direita no Brasil e a solidariedade com Gaza e a Flotilha.
Sem perder o pé da preparação pré-eleitoral, estamos construindo dois desafios: o de realizar um encontro amplo quando da Conferência Antifascista em Março de 2026, em Porto Alegre; e o de colocar em pé uma nova revista- com setores da intelectualidade como Safatle- que supere a atual publicação da Revista Movimento.
É um tempo de urgência.