Moção antifascista repudia Nobel de Paz a Maria Corina Machado
A Plenária da 1ª Conferência Internacional Antifascista aprovou moção de repúdio ao Comitê Nobel que agraciou inimiga do povo venezuelano
Foto: RS/ Fotos Públicas
Na terça-feira (14) em Porto Alegre, a Plenária Geral de Construção da 1ª Conferência Internacional Antifascista aprovou, por aclamação, uma moção de repúdio à decisão do Comitê Nobel Norueguês de outorgar o Prêmio Nobel da Paz 2025 à venezuelana María Corina Machado.
A moção foi apresentada pelo dirigente do PCdoB Raul Carrion, que na plenária afirmou:
“Maria Corina Machado é uma pessoa envolvida em toda a violência contra o povo venezuelano, golpe militar, intervenção dos Estados Unidos… Nós estamos vendo os Estados Unidos cercando a Venezuela e querendo atacá-la. Então, trazemos uma noção repudiando que foi uma decisão de seis parlamentares da Noruega — porque o prêmio Nobel da Paz não é dado como o prêmio de Física, pela Academia Sueca. São seis parlamentares da Noruega que, com vergonha de escolher o Trump, que estava pleiteando o seu Nobel da Paz, indicaram María Corina. Isso também é uma ameaça para a Venezuela.”
Essa declaração sintetiza as razões centrais do repúdio: para Carrion, a escolha do Nobel não é um reconhecimento genuíno de paz, mas uma manobra política de caráter imperialista destinada a legitimar forças reacionárias na Venezuela e na América Latina.
A moção aprovada insiste que a premiação ignora o histórico político de Machado – apontada como defensora de sanções, intervenções estrangeiras, responsabilizada por participação em golpes de Estado e por agravar o sofrimento do povo venezuelano – e denuncia o que chama de apoio explícito aos interesses dos Estados Unidos. Segundo o documento, trata-se de “ato com viés de naturalização de uma possível agressão militar à uma nação latino-americana, da parte dos EUA e seus aliados da OTAN”.
Repercussão internacional
A concessão do Nobel da Paz a Maria Corina Machado provocou reações diversas – elogios em alguns fóruns diplomáticos e críticas fortes de setores progressistas.
Por um lado, o Comitê Nobel justifica a escolha afirmando que Machado “demonstrou que as ferramentas da democracia são também as da paz” e que ela “unificou a oposição de seu país, resistiu contra a militarização da sociedade venezuelana e permaneceu firme em apoio a uma transição pacífica à democracia’.
Agências de notícias como a Reuters relataram que Machado dedicou o prêmio ao povo venezuelano e ao ex-presidente Donald Trump, agradecendo-lhe por apoio “decisivo” à sua causa. Esse gesto teve impacto simbólico e político imediato – reforçando sua aliança com setores externos que já vinham apoiando a oposição venezuelana.
Outros veículos levantaram críticas importantes: alguns apontam que Machado tem laços estreitos com demandas de intervenção externa e sanções econômicas que afetam diretamente a população mais vulnerável da Venezuela.
Também foi levantada a hipótese de que o reconhecimento internacional possa provocar repressão ainda mais intensa no regime Maduro, que já responde com narrativa de “golpe” e “invasão imperialista” ao prêmio.
Além disso, surgiram dúvidas sobre o processo de seleção: houve um pico incomum nas apostas online em Machado pouco antes do anúncio do prêmio, o que levou o Instituto Nobel a investigar possível vazamento interno. Esse fato pode alimentar teorias de manipulação política nos bastidores do comitê.
Do lado venezuelano oficial, o governo de Nicolás Maduro reagiu abruptamente: determinou o fechamento da embaixada venezuelana na Noruega como resposta simbólica ao reconhecimento. Isso evidencia que o prêmio, para o regime chavista, é interpretado como ato de provocação e ingerência externa.
Em análises de fundo, a escolha de Machado foi vista como tentativa da comunidade internacional – especialmente setores alinhados aos EUA – de configurar uma narrativa de “defesa da democracia” que valoriza líderes da oposição com postura belicista como símbolos de resistência. Essa narrativa, porém, corre o risco de eclipsar críticas legítimas sobre trajetórias como a de Machado e sobre os custos reais de sanções e bloqueios impostos ao país.
Mesmo entre analistas favoráveis à oposição, há ceticismo: o prêmio pode não alterar significativamente o equilíbrio de poder interno na Venezuela e pode até reforçar a clausura autoritária do regime, que tende a usar a premiação como justificativa para endurecer o controle interno.
No panorama global, a atribuição reacendeu debates sobre os critérios éticos do Nobel da Paz, em especial quando laureados se mostram alinhados a agendas de poder, sanções ou intervenção militar. Ganha força a crítica de que o prêmio estaria sendo instrumentalizado geopoliticamente.
A escolha ter recaído sobre Maria Corina Machado se insere num contexto de disputa simbólica e geopolítica. Desde sua atuação política como integrante da oposição venezuelana, sua trajetória é marcada por confrontos diretos com o regime chavista, inclusive com acusações de envolvimento em golpe de 2002 e em movimentos como “La Salida” em 2014, que resultaram em confrontos e mortes.
Além disso, Machado já priorizou alianças com potências externas e sancionou medidas que, segundo críticos, aprofundaram o sofrimento de camadas populares ao apostar em sanções e bloqueios como instrumento de pressão.
Dessa forma, a moção aprovada em Porto Alegre coloca-se como ato simbólico de resistência antifascista, apontando que não basta reconhecer “resistentes” sem considerar seu histórico político, seus impulsos estratégicos e os interesses que sustentam essas escolhas.
Confira a íntegra da moção de repúdio:
Moção de Repúdio à Concessão do Prêmio Nobel da Paz a María Corina Machado
A Plenária da Comissão Organizadora da 1ª Conferência Internacional Antifascista de Porto Alegre, em reunião realizada em 14/10/2025, alinhada com os princípios históricos de defesa da soberania dos povos, da paz com justiça social e da integração solidária da América Latina, vem, por meio desta, manifestar seu veemente REPÚDIO à decisão do Comitê Nobel Norueguês de conceder o Prêmio Nobel da Paz de 2025 à senhora Maria Corina Machado.
Este repúdio fundamenta-se não apenas em uma divergência política, mas em sólidos princípios éticos e no histórico público da laureada, recentemente e de forma eloquente exposto na Carta Aberta do Nobel da Paz Adolfo Pérez Esquivel.
Ao tomar essa decisão, o Comitê Nobel ignora solenemente que a postura de María Corina Machado é a antítese da construção da paz, considerando que:
É Defensora de Intervenções e Sanções: É incompreensível laurear uma figura que, publicamente, solicitou a intervenção militar e o bloqueio econômico dos Estados Unidos contra a Venezuela, atos que configuram graves violações da paz e da soberania, condenados pelo Direito Internacional. Seu agradecimento a Donald Trump, arquiteto de duras sanções que asfixiam o povo venezuelano, evidencia um alinhamento com interesses geopolíticos de dominação.
Possui um Histórico Golpista e Violento: O Comitê recompensa um perfil marcado por ações contra a democracia. María Corina participou ativamente do golpe de Estado de 2002 na Venezuela, que dissolveu os Poderes constitucionais e tentou assassinar o presidente Hugo Chávez. Em 2014, foi cúmplice no plano “La Salida”, que resultou em 43 assassinatos, e, como deputada, afrontou a Constituição ao solicitar uma intervenção militar na OEA.
É Promotora de Sofrimento Real: Premiar quem defendeu o cruel bloqueio econômico – que causou o roubo de reservas internacionais, o congelamento de bilhões de dólares e enormes privações ao povo venezuelano – é uma afronta à memória de todas as vítimas de agressões imperialistas e um perigoso incentivo à escalada belicista.
Afronta à Soberania e à Autodeterminação: A decisão despreza as conquistas democráticas e sociais do processo bolivariano e ignora que a laureada foi condenada pela Justiça venezuelana por atos de traição nacional, por agir em conluio com potências estrangeiras contra seu próprio povo.
Por estas razões, repudiamos a concessão do Prêmio Nobel à Maria Corina Machado, além do que, parece tratar-se de ato com viés de naturalização à uma possível agressão militar à uma nação Latino americana, da parte dos EUA e seus aliados da OTAN.
Porto Alegre, 14 de outubro de 2025
Plenária da Comissão Organizadora da
1ª Conferência Internacional Antifascista de Porto Alegre