PSOL vai ao MP contra espigão no Lume
Parlamentares questionam licença da prefeitura do Rio para construção de prédio de 22 andares em área histórica do Centro; projeto ameaça o meio ambiente, o patrimônio cultural e o espaço da resistência popular
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Deputados e vereadores do PSOL-RJ protocolaram, na segunda-feira (27), uma representação no Ministério Público do Rio de Janeiro contra o licenciamento da construção de um prédio de 22 andares no Buraco do Lume, na Praça Mário Lago, região central da capital fluminense. A iniciativa dos parlamentares denuncia o projeto como uma afronta à história, à cultura e ao meio ambiente, e uma rendição da Prefeitura aos interesses da especulação imobiliária.
“Uma construção com esse tamanho ali, com ‘estúdios’ para aluguel por temporada, é uma aberração urbanística, uma agressão ambiental, um atentado contra a cultura, contra os feirantes do local e os que ali descansam. E contra os que fazemos, há décadas, encontros para saudáveis debates políticos, à luz da estátua da nossa amada Marielle”, afirmou o deputado Chico Alencar (PSOL).
Além de Chico Alencar, participaram do ato os também deputados Tarcísio Motta e Professor Josemar, e os vereadores William Siri e Mônica Benício — todos unificados na denúncia contra o projeto e na defesa da memória democrática e popular do espaço.
Um projeto que ameaça o coração político e cultural do Rio
O Buraco do Lume é um espaço simbólico para a esquerda e os movimentos sociais. Desde os anos 1980, o local abriga manifestações políticas, culturais e feiras populares, sendo palco de falas históricas de Wladimir Palmeira e de atividades em homenagem à vereadora Marielle Franco, cuja estátua foi erguida ali em 2021.
A área, arborizada e viva, cumpre um papel raro no Centro do Rio: o de respiro urbano e convivência democrática. A construção de um espigão de 22 andares, com 720 microapartamentos e cinco lojas comerciais, ameaça transformar o espaço em um enclave privatizado, destruindo 55 árvores e agravando o adensamento urbano em uma região já sobrecarregada.
Especialistas em urbanismo alertam que o projeto desfigura o plano original da área, traçado nos anos 1920 após o desmonte do Morro do Castelo, e compromete a função ambiental e social do espaço. O presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU), Sidney Menezes, classificou o impacto como “negativo”, enquanto a ex-secretária de Urbanismo Andrea Redondo alertou que o empreendimento “vai desfigurar o plano urbano e criar um residencial subutilizado, abandonado”.
Especulação acima da cidade
A licença para o empreendimento, concedida pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano e Licenciamento, se apoia no programa Reviver Centro, criado para incentivar moradias na região. Na prática, porém, a medida vem sendo usada por grandes construtoras para transformar áreas históricas em negócios milionários, sem garantir moradia popular ou equilíbrio ambiental.
O terreno – que já foi área pública e chegou a ser tombado em 2020 – teve seu destombamento aprovado pela Alerj em 2022, em projeto de autoria do deputado bolsonarista Rodrigo Amorim (União). O episódio foi denunciado por urbanistas e movimentos sociais como uma traição à memória urbana e popular do Rio de Janeiro.
Para o PSOL, a construção no Lume é a síntese da lógica que submete o interesse coletivo à especulação imobiliária, uma vez que a população repele essa subordinação do Poder Público à especulação.
Defesa da memória, da cultura e do espaço público
O Buraco do Lume é mais do que um terreno – é símbolo de resistência, diálogo e memória popular. É o espaço onde a cidade ainda respira, onde se homenageia Marielle Franco, e onde a política se faz de forma viva e coletiva.
A mobilização do PSOL contra o espigão é também uma luta pelo direito à cidade: por um Rio de Janeiro que preserve seus espaços de convivência, sua história e suas árvores, em vez de entregar tudo à lógica do lucro.