COP 30 entre farsas e mobilizações
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COP 30 entre farsas e mobilizações

Como a luta dos povos em Belém aponta um caminho

Renata Moara e Theo Louzada Lobato 25 nov 2025, 10:35

Via Juntos!

Na última semana, Belém marcou a agenda ambiental além das salas fechadas da COP 30. A conferência se iniciou com dois principais fatos: por um lado, a tentativa pelo governo brasileiro de protagonizar a criação do TFFF (Tropical Forest Forever Facility), um projeto de mercantilização da natureza que cria um fundo econômico para compensar os países de menor desmatamento, apostando no mercado financeiro para diminuir os impactos do desmatando demonstrava uma suposta saída do capitalismo verde que a COP poderia apontar, por outro, a própria aprovação, semanas antes, da perfuração do Petróleo no Foz do Amazonas, com apoio direto de Lula, demonstrava os limites da lógica permeada em todo evento.

As expectativas da COP em si, porém, já começaram baixas: o boicote feito pelos EUA se somou ao próprio modelo estrutural de encontro, baseado em medidas que só podem ser tomadas consensualmente, sem que haja punição para infratores ambientais e com grande participação dos lobbies do petróleo. Ou seja, se fosse servir para algo, seria para manter a ideia de que “algo está sendo feito” conforme as regras do mercado, mandando uma mensagem para o mundo que os governos em conjunto com os bilionários e os grandes lobbies exploratórios poderiam encontrar um consenso dentro do capitalismo para impedir o fim do mundo.

Logo no início da COP, porém, essa mensagem já virou de cabeça para baixo. A ocupação da Blue Zone, protagonizada pelos povos indígenas do Baixo Tapajós, em que o coletivo Juntos também esteve participando, abriu um debate público sobre o que efetivamente estava acontecendo em Belém. Enquanto o avanço da crise climática servia como mais uma moeda de troca da especulação financeira, os povos indígenas e os maiores afetados pela crise não tinham espaço algum de decisão e cobravam ser ouvidos.

Essa ação repercutiu internacionalmente, pelo peso do que representou. Foi uma tomada de protagonismo daqueles que não tem espaço para serem escutados e que, assim como em COPs anteriores, seguem só como vítimas da farsa climática montada anualmente. Isso ajudou a pautar o evento em outros termos: a ocupação criou uma tensão social para que fossem cobradas soluções reais à crise climática, incentivando outros protestos que seguiram durante os dias posteriores.

Ou seja, a partir desse momento, o debate público teve também que ser confrontado com as contradições permeadas pela COP: como se pode falar de transição energética pondo em risco a região mais biodiversa do mundo? Como apostar no próprio mercado financeiro e nos próprios bilionários que estão no centro da crise climática para solucionar ela por métodos que garantem seu próprio lucro? E mais importante: como podemos nos organizar para combater o fim do mundo?

Não demorou para que o governo tivesse que se mexer. Enquanto a ocupação da Blue Zone demonstrou o espaço que um programa real de transição climática, baseada na não-exploração de petróleo e no combate aos bilionários, pode ter na disputa social, parte da esquerda tentou atuar no papel de contenção da crise. A ministra de meio ambiente, Marina Silva, demandou abertamente a criminalização do movimento ambiental que compôs a ação, Boulos, por outro lado, representou outra estratégia: a de buscar apaziguar o movimento.

Com isso surgiu anuncio de uma consulta “póstuma” sobre a privatização dos Rios Tapajós, Madeira e Tocantins. Tentando diminuir a repercussão da crítica gerada a partir da ocupação e os protestos seguintes dos povos indígenas, o ministro anunciou em uma plenária, sem a presença da maior parte dos povos afetados, que o governo faria uma consulta pública sobre essas privatizações de rios, para construção de hidrovias, feitas pelo recém-aprovado decreto 12600. A consulta, porém, não suspende a privatização que já está em curso, ou seja, serviu como um anúncio para fora que, na prática, mantém os mesmos compromissos com o capital privado e com o desmatamento já feitos.

Não é à toa que os povos do Baixo Tapajós, que tomaram essa como uma das suas principais pautas, tenham rejeitado esse anúncio, cobrando diretamente do ministro e do governo o revogamento imediato do decreto. Esse conflito é uma demonstração da impossibilidade que tem a lógica capitalista verde que representa o governo para garantir os direitos dos povos indígenas e avançar em um combate real à crise climática.

A construção de um projeto que rompa com essa lógica, portanto, essencial. Nisso, o papel que as articulações como Assembleia Mundial pela Amazônia e a Coalização Global da Floresta vem cumprindo ao debater um programa e construir uma unidade de setores contrários à lógica mercantilizadora do meio ambiente é muito importante. A campanha contrária ao TFFF e a forma com que se deu a disputa para que essa solução fosse rejeitada pela Cúpula dos Povos, expressou que existe uma potencialidade e necessidade de conexão desses diversos atores.

A disputa feita na própria Cúpula reforçou essa necessidade. Ao mesmo tempo que teve o mérito de conseguir articular milhares de ativistas que atuam em diversas frentes em defesa do meio ambiente, buscando construir uma síntese paralela à COP em torno das necessidades da luta ambiental, o encontro também mostrou suas contradições. Sua plenária final foi incapaz de aprovar seu manifesto após uma tentativa dos movimentos sociais ligados ao governo de apagarem qualquer crítica ao TFFF e apaziguar o conteúdo político debatido, uma movimentação que só pode ser revertida nos dias seguintes.

Portanto, existe espaço e também disputa política no movimento ambiental, ambos diretamente conectados ao desafio da construção de uma alternativa à esquerda no Brasil e no mundo. Precisamos avançar na construção do movimento global ecossocialista, conectado as lutas concretas contra a exploração de petróleo, a defesa dos povos indígenas, a luta contra falsas soluções de mercado e unificando os setores que busquem um caminho à esquerda e sejam independentes dos limites e conciliações do reformismo. Nisso, o processo de Belém foi importante, porque apontou uma unidade e um caminho: mostrou o que pode ser a luta ecossocialista na prática.

Nosso desafio agora é dar o próximo passo, beber da sabedoria ancestral dos povos da floresta e do acúmulo global ecossocialista e fazer dessa unidade um polo ativo e parte ativa das lutas antifascistas e anticapitalistas do mundo, algo que não podemos fazer sozinhos, mas também temos o nosso papel. Para isso, nos dias 26 a 29 de março de 2026, a Conferência Internacional Antifascista será fundamental para darmos continuidade nos processos de luta em defesa de nossas vidas e territórios e no combate à extrema-direita e seus projetos de morte.

Essa construção não se dá de forma isolada, porém, ela precisa ser apontada num caminho acumulado desde já. O processo de Belém colocou que podemos construir esse polo que já precisa se articular a partir de pautas concretas. Assim, como tarefas imediatas temos a luta contra a exploração de petróleo na foz do Amazonas e a construção da campanha #RevogaLula, sobre a privatização dos rios Tapajós, Madeira e Tocantins. A luta em torno desses temas precisa ser um passo de consolidação, fortalecendo um polo e uma disputa política na sociedade.


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