O verdadeiro organizador
Uma crítica ao sistema capitalista que é o causa(dor) da falsa guerra contra o crime
Foto: Joédson Alves/Agência Brasil
Vamos falar aqui sobre o subdesenvolvimento brasileiro como produto da dependência capitalista, e interrogar a farsa da “guerra ao crime organizado”. Todos clamam por erradicá-lo: governos, mídia, elites. Mas quem é o verdadeiro organizador desse crime? Não o traficante de rua, não o chefe de facção. Esses são meros peões. O organizador senta no andar de cima, intocável, promovido, aplaudido e cada dia mais rico.
É o sistema capitalista que comanda ambos os lados: o Estado e o crime organizado. Alerto que o capitalismo não se sustenta sem a violência estrutural e no Brasil essa violência é um subdesenvolvimento planejado: uma economia periférica, dependente, onde o capital estrangeiro e a burguesia interna exploram o povo para gerar superlucros. O crime organizado não surge do vácuo; ele é filho legítimo desse sistema. As facções controlam territórios porque o Estado esse aparato repressivo da classe dominante abandona periferias, favelas, comunidades indígenas e quilombolas à miséria absoluta. Salários de fome, desemprego crônico, educação precária: eis o solo fértil para o recrutamento. Mas quem lucra com isso? Bancos que lavam dinheiro do tráfico, construtoras que especulam com terras “liberadas” pela violência, exportadores de commodities que precisam de mão de obra barata e silenciada.
O Estado não combate o crime; ele o gerencia. Prisões superlotadas, milícias policiais, operações espetaculosas que matam inocentes e preservam os grandes chefes, tudo isso é teatro. E eu afirmo: é a barbárie do capitalismo em ação, onde a repressão serve para manter a ordem da exploração, e no Brasil o “desenvolvimento” é uma ilusão; é dependência que perpetua a desigualdade racial e de classe, transformando o povo em reserva de mão de obra descartável. O crime organizado é o braço armado informal do capital: ele regula o mercado paralelo de drogas, armas e trabalho escravo, enquanto o Estado regula o formal. Ambos servem ao mesmo senhor: a acumulação primitiva que enriquece poucos. Perguntem: por que os grandes corruptores empresários que subornam juízes, políticos que desviam bilhões em licitações, bancos que financiam o narcotráfico internacional são promovidos a conselheiros, embaixadores, secretários, e heróis da “economia”? Porque eles são o sistema. O crime de rua é punido para distrair e desviar o foco do problema; o crime de colarinho branco é premiado porque organiza a exploração global com seus oradores poliglotas e com postura executiva.
Não é Estado contra facções; é o capital orquestrando a sinfonia da miséria. As facções matam nas ruas; o sistema mata por dentro e devagar, com fome, com balas “perdidas”, com reformas que cortam direitos. Luxemburgo nos ensina: socialismo ou barbárie. No Brasil o socialismo seria a ruptura com a dependência, a nacionalização dos meios de produção, a democracia operária que empodera o povo negro, indígena, trabalhador. O Comunismo não é uma utopia distante, mas sim uma necessidade histórica para abolir a propriedade privada que gera crime como subproduto. Enquanto o capitalismo reinar, o organizador no andar de cima ri. Ele manda no Estado, que reprime; manda nas facções, que controlam o caos. A verdadeira luta não é contra o crime visível, mas contra o sistema invisível que o cria. Indagamos, então: até quando fingiremos que o inimigo é o de baixo, quando o mandante está no topo? A revolução não pede licença; ela derruba o organizador. Essa falsa guerra ao crime é espetacularizada pela mídia burguesa como um circo de horrores, transformando chacinas em manchetes sensacionalistas que desumanizam os mortos das favelas, corpos negros e pobres reduzidos a estatísticas ou “bandidos”, enquanto inocentes são “danos colaterais” em uma guerra racializada contra o povo periférico, políticos exploram o pavor fabricado para eleger-se em ondas de lei e ordem, desviando olhares da corrupção que os enriquece e reforçando o racismo estrutural que criminaliza a negritude desde sempre.
Familiares choram em silêncio, rotulados de cúmplices ou invisíveis, suas dores monetizadas em audiência e votos, enquanto mães negras são demonizadas por perderem filhos para a violência estatal.
Essa narrativa midiática perpetua a barbárie, justificando mais repressão que mata devagar com miséria e balas, alvejando seletivamente corpos racializados como ameaça.
Só a revolução socialista desmascara o espetáculo, humanizando o povo e derrubando o organizador capitalista.
Socialismo ou barbárie, a escolha é agora.