Oposição no DF pede revogação do ‘Dia em Memória às Vítimas do Comunismo’
Projeto desmonta uso político da paranoia anticomunista e denuncia o revisionismo histórico da extrema direita no Distrito Federal
Foto: Carolina Curi/Agência CLDF
A oposição ao governador Ibaneis Rocha (MDB) decidiu enfrentar de frente aquilo que considera uma manobra política baseada no medo e no revisionismo histórico. Nesta quinta-feira (30), deputados do PT e do PSOL protocolaram um projeto para revogar o recém-criado Dia Distrital em Memória às Vítimas do Comunismo, sancionado por Ibaneis e publicado no Diário Oficial no último dia 21 como Lei 7.754/2025.
A data, 4 de junho, coincide com o aniversário do massacre da Praça da Paz Celestial, ocorrido em Pequim em 1989. Foi escolhida pelo autor da lei original, deputado Thiago Manzoni (PL), que a defende como forma de “refletir sobre o mal que o comunismo fez nos países no qual foi implementado”. Segundo ele, “apesar de ter feito milhões de vítimas, ainda há pessoas que defendem esse regime atualmente”. Manzoni ainda cita, em sua justificativa, experiências internacionais como o Khmer Vermelho no Camboja e a ditadura de Stalin na União Soviética.
Para a oposição, o problema é exatamente esse: importar referências de contextos estrangeiros para justificar um fantasma inexistente no Brasil.
“O Brasil nunca foi governado por um regime comunista ou sequer sofreu tentativa de implementação desse tipo de regime”, afirma o novo projeto, apresentado pelo deputado Ricardo Vale (PT), e assinado também por Max Maciel (PSOL), Fábio Felix (PSOL) e Chico Vigilante (PT).
Os parlamentares defendem que o calendário oficial deve refletir fatos históricos brasileiros, e não “debates ideológicos improdutivos”. Max Maciel ironizou a data, comparando-a à criação de um dia para “vítimas de ataque de tubarão no Lago Paranoá”.
A medida provocou até a demissão do chefe da Assessoria de Assuntos Institucionais do GDF, Bartolomeu Rodrigues, que classificou a lei como “revisionismo histórico” e denunciou que ela ignora “cadáveres reais”, como Vladimir Herzog e Honestino Guimarães.
Questionado sobre a saída do secretário, Ibaneis desdenhou:
“Se foi, é um problema dele”.
A proposta de revogação ainda passará por comissões, mas já evidencia a insistência da extrema direita brasiliense em agitar o espantalho do comunismo — um recurso velho, mas ainda útil para alimentar medo e confusão na sociedade.