Tire suas dúvidas sobre a prisão dos condenados por tentativa de golpe
O início do cumprimento das penas impostas pelo STF reacende perguntas sobre tempo real de prisão, efeitos para militares condenados e o impacto do caso no Brasil e no exterior
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
A prisão dos envolvidos na tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022 – incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro e ex-altos oficiais das Forças Armadas – abriu uma série de dúvidas sobre o que acontece, na prática, quando condenados por crimes contra a democracia começam a cumprir suas penas. A seguir, um guia objetivo para entender os principais pontos jurídicos e políticos desse momento inédito.
Quanto tempo, na prática, Bolsonaro pode ficar preso?
Embora a pena fixada pelo Supremo seja alta (acima de duas décadas), o tempo real de prisão depende das regras da Lei de Execução Penal. A progressão de regime ocorre após o cumprimento de uma fração da pena, que varia conforme o crime e o histórico do réu.
Se o condenado cumprir os requisitos legais – comportamento adequado, avaliação criminológica positiva e lapso temporal mínimo – pode avançar do regime fechado para o semiaberto e, depois, para o aberto.
Além disso, fatores como idade, condições de saúde e eventuais internações autorizadas pela Justiça podem influenciar o local e as condições do cumprimento da pena, mas não eliminam a condenação.
Quem mais, além de Bolsonaro, já foi preso entre os condenados?
O STF já determinou a execução das penas de vários réus dos chamados “núcleos” da tentativa de golpe. Entre os condenados que tiveram decretada a prisão após o trânsito em julgado estão:
- Generais Walter Braga Netto, Augusto Heleno, Paulo Sérgio Nogueira e Almir Garnier, sentenciados por participação no núcleo militar da trama;
- Ex-ministros e ex-altos assessores, como Anderson Torres, responsabilizados por ações e omissões antes e durante os ataques de janeiro de 2023;
- Outros participantes da rede de financiamento, planejamento e incitação, cujas penas também passaram a ser executadas após decisões individuais dos ministros relatores.
O número de condenados continua crescendo à medida que o STF conclui julgamentos de ações penais derivadas do inquérito das tentativas de subversão da ordem democrática.
Os militares condenados podem perder a patente?
Sim. Quando um militar das Forças Armadas é condenado criminalmente, a perda do posto e da patente pode ser decidida pela Justiça Militar, com base na Constituição e no Código Penal Militar.
Depois da condenação pelo STF, os autos são enviados ao Ministério Público Militar e ao Superior Tribunal Militar (STM), que avaliam se a conduta é incompatível com o oficialato.
A perda da patente é uma punição grave: além de afastar o militar da carreira, implica perda de soldo e das prerrogativas associadas à função.
Por que esse caso ganhou tanta repercussão internacional?
A prisão de um ex-presidente por crimes contra a democracia é rara em qualquer país — e, por isso, atraiu grande cobertura de veículos como Reuters, BBC, New York Times e El País. A maior parte das análises internacionais destaca:
- O caráter histórico da condenação;
- A solidez institucional do STF ao julgar atentados contra o Estado de direito;
- A permanência de uma extrema direita organizada que tenta transformar a punição em narrativa de perseguição.
Enquanto isso, políticos estrangeiros alinhados ao bolsonarismo difundem críticas ao Supremo, tentando internacionalizar a disputa política brasileira.
Por que isso importa para a democracia brasileira?
Porque o processo deixa claro que não há imunidade para ataques às instituições – algo central para qualquer democracia madura. Ao mesmo tempo, o episódio testa a capacidade do país de aplicar a lei com rigor, transparência e respeito às garantias dos réus, evitando que extremistas usem a condenação para criar discursos de vitimização.