O MES-PSOL na COP 30 e as novas perspectivas da luta ecossocialista
f315e327-a9b4-4b32-93fd-ba8c599e17e6

O MES-PSOL na COP 30 e as novas perspectivas da luta ecossocialista

Um balanço da atuação do Movimento Esquerda Socialista nas várias atividades relacionadas à COP 30, em Belém

Em meio a uma COP 30 marcada por um processo sequestrado pelo fossilismo, os militantes do Movimento Esquerda Socialista (MES-PSOL) intervieram nos processos dos movimentos sociais ao redor da COP 30 buscando expressar a conflitividade social nas atividades paralelas e junto ao calendário oficial da ONU, sequestrado pelo fossilismo. Nos apoiando ao lado dos setores mais combativos do movimento indígena do Pará e da juventude referenciada no coletivo Juntos!, tivemos uma série de atividades que marcaram um polo anticapitalista durantes os vários dias do evento. Impulsionando o Encontro Ecossocialista Latinoamericano e Caribenho e estreitando as relações com o movimento global e latinoamericanos por justiça climática, fomos parte da construção dobloco mais combativo na Cúpula dos Povos.

Ao longo de processo, as graves consequências dessa Conferência das Partes do Acordo do Clima da ONU – a COP 30 – ficaram evidentes. A percepção de que o processo do Acordo de Paris foi paralisado pelo fossilismo, já denunciado por setores do movimento climático global, se tornou dominante. O que alguns chamaram de “eixo do mal climático” (liderado por EUA, Arábia Saudita e Rússia, que o governo brasileiro quer integrar) bloqueou até mesmo as menções aos combustíveis fósseis, enquanto cerca de 80 países manifestaram seu apoio à construção de um mapa do caminho para a transição rumo ao fim do uso de fósseis, que ao final não foi encaminhado (da mesma forma que o mapa para fora do desmatamento). Os governos da Colômbia e da Holanda se anteciparam e assumiram a liderança ao convocar uma Conferência Internacional sobre o caminho para fora dos combustíveis fósseis em 28 e 29 de abril de 2026 em Santa Marta, na Colômbia. Essa bifurcação de caminhos abre as portas para uma retomada estratégica do movimento ambiental sem que nossos principais inimigos bloqueiem cada passo. 

O governo Lula não organizou uma Cúpula Social, como tinha feito no G20 ocorrido no Rio de Janeiro no ano passado, mas procurou esvaziar e cooptar os movimentos sociais, tanto trazendo-os para o espaço da COP institucional (abrindo a Zona Verde) e enfraquecendo o máximo possível a Cúpula dos Povos como espaço de participação popular, como ficou patente pela crise permanente de logística e estrutura criada por uma omissão consciente a favor desta política oficial de enfraquecimento.

Ainda assim, a Cúpula dos Povos aglutinou parcela importante dos movimentos sociais e setores críticos. Ela teve que enfrentar suas próprias contradições entre setores que se colocaram como defensores incondicionais do desenvolvimentismo do governo Lula, entre os defensores de um “capitalismo verde” e ecossocialistas. A resolução final – apontando, ainda que timidamente, para os problemas da exploração do petróleo e da financeirização da manutenção das florestas na proposta do Tratado de Florestas de Pé para Sempre (o TFFF) – foi uma vitória dos setores à esquerda que intervieram dentro e fora da Cúpula disputando o sentido do processo e criticando a orientação neoextrativista do atual governo. Da mesma maneira, a Marcha Global pelo Clima reuniu 70 mil pessoas, segundo seus organizadores, e permitiu a expressão críticas mais duras ao fossilismo.

Dentro dessa política, os setores do PSOL expressos por figuras como Guilherme Boulos e Sônia Guajarara, e da Rede Sustentabilidade, expressos por Marina Silva, se apresentaram como operadores da política do governo – com os dois primeiros expressando um PSOL adaptado e à serviço do aparelho estatal. Felizmente não foi essa a política de todo o partido e nem mesmo de todo o setor majoritário. Prova disso foi que Boulos enfrentou duras críticas quando procurou esvaziar a mobilização contra ao decreto de Lula de privatização dos rios da Amazônia, anunciando que uma consulta aos povos afetados seria feita após o decreto, e não previamente!

O MES-PSOL consolidação seu trabalho ecossocialista estruturado ao longo do ano de 2025, intervindo e animando várias iniciativas. O Encontro Ecossocialista Latinoamericano e Caribenho, que ocorreu de 8 a 11 de novembro na Unama, em parceria com nossos companheiros da IV Internacional, principalmente da Argentina, organizados na corrente Marabunta, mas também de outras correntes do Brasil (como a Insurgência Reconstrução Democrática e a Centelhas) e de diversos países. Mobilizamos uma delegação expressiva e participamos nas principais mesas com Vivi Reis, Auricélia Arapiuns, José Correa e Mariana Riscali. O encontro contou com uma participação destacada também de lideranças da Rede Sustentabilidade, da Fundación Solón, do CADTM e da Assembleia Mundial pela Amazônia. Um dos principais momentos do encontro foi o ato simbólico em homenagem à luta palestina, com Jamal Juma. Como parte da agenda do encontro se aprovou a participação na Conferência Antifascista em Porto Alegre em 2026, com a realização de uma reunião de ecossocialistas na véspera desta conferência. O Encontro Ecossocialista encerrou-se no início da tarde do dia 11 para que seus participantes pudessem participar da Marcha pela Saúde e pelo Clima, em uma demonstração do modelo de ecossocialismo que queremos construir, conectado com as ruas e as lutas dos territórios.

Um dos momentos mais destacados desses dias foi a ocupação da restrita Zona Azul, ocorrida no dia 11, ao final da Marcha. Indígenas do Baixo Tapajós, militantes do coletivo Junto!s e ativistas combativos de vários movimentos expressaram o descontentamento geral com a falta de participação popular nos espaços oficiais das COPs, onde líderes mundiais negociavam os direitos dos povos dos rios e das florestas a portas fechadas. O movimento indígena do Baixo Tapajós vem há tempos protagonizando lutas exemplares, como a ocupação da Secretaria Estadual da Educação do Pará, no início do ano, e foi protagonista de um dos principais fatos políticos da COP-30, repercutindo no noticiário mundial nos dias seguintes e fornecendo a imagem icônica de movimentos que não se acomodavam à negociação domesticada da ONU. 

Esse bloco, com destaque para as camisas amarelas da juventude radicalizada do Juntos!, interviu, nos dias seguintes, nos espaços e plenárias da Cúpula dos Povos, pautando a crítica à exploração do petróleo na Amazônia, ao TFFF e à privatização dos rios. Protagonizou, com demais setores ecossocialistas e ambientalistas radicais, a construção de um polo crítico que foi capaz de aglutinar a ampla maioria dos ativistas do PSOL, Rede e de dezenas de movimentos sociais. 

A Fundação Lauro Campos e Marielle Franco (FLCMF) organizou, em parceria com o ANDES e a Coalizão Palestina para a COP30, uma grande atividade em defesa do povo palestino que transbordou o auditório da UFPA. Essa e outras atividades sobre a Palestina contaram com a presença de da vereadora Mariana Conti (PSOL Campinas) e Nico Calabrese, militantes do MES-PSOL que integraram a Global Sumud Flotilla. Na ocasião foi lançado também um número especial da Revista Jatobá sobre a COP.

As parlamentares do MES-PSOL estiveram presentes nas atividades de todo o período da COP. O destaque ficou para a anfitriã Vivi Reis, nossa vereadora de Belém e reconhecida porta voz da luta ambiental, mas as deputadas federais Sâmia Bomfim e Fernanda Melchionna, @s deputad@s estaduais Mônica Seixas, Camila Valadão e Fábio Felix e as vereadoras Mariana Conti e Professora Ângela foram igualmente porta vozes de uma política conectada aos movimentos sociais.

O MES-PSOL saiu da COP30 com condições de ter um protagonismo central na luta socioambiental no Brasil no próximo período. Três agendas decisivas emergiram do processo com grande visibilidade:

– a luta contra a expansão da exploração do petróleo no país, em especial na Amazônia e na Foz do Rio Amazonas. Lutamos pelo abandono gradual da extração, refino e uso dos combustíveis fósseis e sua substituição por fontes renováveis eletrificadas.

– a luta pelo desmatamento zero e contra a financeirização das florestas através da propostas de REDD+ e TFFF. O foco é a Amazônia, mas vários outros biomas conhecem as ameaças da expansão da agropecuária predatória.

– a luta em defesa dos rios Madeira, Tocantins e Tapajós, ameaçados pelo Decreto nº 12.600/2025, que inclui trechos rdesses no Programa Nacional de Desestatização (PND). Isso abre espaço para dragagens agressivas, derrocamentos de formações rochosas – como o Lourenção, no Tapajós – e intensificação do tráfego de barcaças de soja e minério que colocam em risco a vida nesses rios.

A elas se soma, com centralidade, a luta contra a retomada do PL da Devastação pelo Congresso, que derrubou os vetos do governo Lula.

Há outras agendas importantes, da reforma agrária ao combate da exploração e uso do carvão, da defesa dos mananciais à eletrificação da mobilidade urbana, mas essas ganharam exemplaridade na luta contra o neoextrativismo impulsionado pelo atual governo. Nesse contexto, estamos prontos e prontas para desempenhar um papel à altura das nossas responsabilidades nas mobilizações que virão. Seguimos na luta ecossocialista!


TV Movimento

Encontro Nacional do MES-PSOL

Ato de Abertura do Encontro Nacional do MES-PSOL, realizado no último dia 19/09 em São Paulo

Global Sumud Flotilla: Por que tentamos chegar a Gaza

Importante mensagem de três integrantes brasileiros da Global Sumud Flotilla! Mariana Conti é vereadora de Campinas, uma das maiores cidades do Brasil. Gabi Tolotti é presidente do PSOL no estado brasileiro do Rio Grande do Sul e chefe de gabinete da deputada estadual Luciana Genro. E Nicolas Calabrese é professor de Educação Física e militante da Rede Emancipa. Estamos unindo esforços no mundo inteiro para abrir um corredor humanitário e furar o cerco a Gaza!

Contradições entre soberania nacional e arcabouço fiscal – Bianca Valoski no Programa 20 Minutos

A especialista em políticas públicas Bianca Valoski foi convidada por Breno Altman para discutir as profundas contradições entre a soberania nacional e o arcabouço fiscal. Confira!
Editorial
Israel Dutra | 25 nov 2025

Finalmente, Bolsonaro atrás das grades

O bolsonarismo só pode ser derrotado com a luta "a quente"
Finalmente, Bolsonaro atrás das grades
Publicações
Capa da última edição da Revista Movimento
A ascensão da extrema direita e o freio de emergência
Conheça o novo livro de Roberto Robaina!
Ler mais

Podcast Em Movimento

Colunistas

Ver todos

Parlamentares do Movimento Esquerda Socialista (PSOL)

Ver todos

Podcast Em Movimento

Capa da última edição da Revista Movimento
Conheça o novo livro de Roberto Robaina!

Autores