A luta de LGBTs palestinos contra a opressão interna e a violência externa
LGBTs palestinos protestam em Haifa por segurança e liberdade
Há muito tempo venho acompanhando a luta da população LGBT palestina contra o preconceito e por liberdade para todas e todos os palestinos. No dia 29 de julho ocorrerá mais um protesto na cidade ocupada de Haifa. Para entender melhor o que leva os LGBTs palestinos às ruas e em que circunstâncias a luta por diversidade se organiza no país, reproduzo abaixo uma tradução livre que fiz do último comunicado da organização alQaws, uma das principais ONGs LGBTs palestinas.
LGBTs palestinos protestam em Haifa por segurança e liberdade
Na quarta-feira, dia 29, organizações LGBTs e feministas da Palestina, como a alQaws Pela Diversidade Sexual e de Gênero, farão um protesto na cidade ocupada de Haifa para erguer suas vozes contra as opressões patriarcais, coloniais e capitalistas que a população LGBT palestina enfrenta, reivindicando o fim da violência contra nossos corpos e vidas.
Desde agosto de 2019, um levante de proporções sísmicas vem removendo o véu de silêncio que tanto encobria a questão da diversidade sexual e de gênero na Palestina. LGBTs palestinos têm posto em cena um desafio revolucionário ao status quo: a era da negação social educada de nossa existência está acabando. Isso se deve, em grande parte, às duas décadas de trabalho nas comunidades e nos movimentos feito por grupos LGBTs palestinos.
A mudança nas discussões sociais se tornou mais visível após uma série de episódios violentos contra a alQaws e suas comunidades. Cada incidente que enfrentamos tornou mais evidente a aliança que existe entre as violências patriarcal, colonial e capitalista: desde o protesto organizado por nós e grupos aliados em agosto do ano passado – em resposta à facada dada em um jovem gay palestino – até o banimento pela Autoridade Nacional Palestina das atividades da alQaws na Cisjordânia, e a consequente perseguição aos nossos ativistas, e ainda os debates envolvendo a questionável doação de uma empresa palestina a uma organização colonial e LGBT de Israel.
Discussões envolvendo diversidade sexual e de gênero têm se espalhado em larga escala e não podem mais ser ignoradas ou negadas. Tampouco estão limitadas a grupos específicos da nossa sociedade. Estes debates entraram nas nossas casas, nos nossos locais de trabalho e até mesmo nos espaços políticos e sociais, tornando este um dos temas mais controversos na Palestina contemporânea. Ainda assim, o aspecto mais consistente da nossa visibilidade e dos debates atuais permanece sendo a violência contra os LGBTs palestinos. Nós testemunhamos uma violência física e psicológica sem precedentes nas redes sociais e além delas, expressando de várias formas a homofobia e a transfobia, geralmente colocadas por meio de mitos datados e prejudiciais, e de concepções equivocadas que agem para mais uma vez nos demonizar e nos excluir da nossa própria sociedade, controlando nossos corpos e reprimindo nossos desejos.
A luta para combater a violência da sociedade do Estado contra o movimento LGBT palestino se dá em um terreno complexo, estruturado por um poder colonial que nega a liberdade da Palestina e sua descolonização, e acentuado por um sistema econômico que nos explora de forma degradante. Esses são os pilares da violência que dão força à narrativa de “pinkwashing”, que de forma oportunista usa a nossa própria dor como uma arma contra nós mesmos, tanto no cenário global quanto dentro de nossas próprias comunidades. Nós fazemos uma firme oposição ao poder colonizador que apaga nossa luta e que usa nossa existência como pretexto para sua opressão, afirmando justamente ser a nossa salvação. Em meio a contexto, ainda precisamos enfrentar a crise de saúde pública desencadeada pela pandemia, que escancarou ainda mais as desigualdades e as dinâmicas de opressão a que estamos submetidos.
É neste cenário que resolvemos erguer nossas vozes e exigir uma transformação radical da nossa sociedade. Nos levantamos contra a violência patriarcal que atinge nossos corpos em nossas ruas e casas. Nos levantamos contra estruturas familiares de controle sobre nossos desejos e nossas expressões de gênero. Nos levantamos contra a normatividade opressiva que associa gênero e sexualidade a um sentimento coletivo de vergonha. Nos levantamos contra a marginalização e o apagamento impostos pelas narrativas coloniais. Ao fazer isso, estamos dando um grito de guerra por nossa própria libertação – e pela libertação de todos os palestinos.
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