Um brilho raro no céu manauara
Israel Dutra relembra a memória de Luiz Fernando Souza Santos, uma semana após sua perda para a Covid-19.
Hoje, completam-se sete longos dias da partida de Luiz.
Era o final da noite de quinta-feira (11) quando soube da trágica notícia: Luiz Fernando Souza Santos tinha nos deixado, vitima da Covid-19 e do descaso dos governos com a saúde pública e a vida humana. Um golpe duríssimo para todos nós que convivemos com Luiz, que foi um grande professor, um intelectual singular, um homem simples e, sobretudo, uma figura que fazia com a que a vida valesse a pena.
A máxima de que “nada que é humano nos estranha” poderia definir Luiz. Um homem repleto de humanidade. Luiz tinha diferentes dimensões. Todas elas entrelaçadas e articuladas com a profunda dimensão humana, de quem não busca a fragmentação e sim a luta pela totalidade. E, a partir da totalidade, a ação nas diversas esferas da vida humana. Luiz encontrou no marxismo uma ferramenta, não uma vestimenta de ocasião. Assim, pôde recuperar a dimensão do particular, respeitando e acolhendo as características do específico, sem perder a visão geral, do universal.
Assim conheci Luiz, como militante, sóbrio, modesto, sempre disposto a ensinar e aprender, conhecedor da cultura, esforçado em compreender o diferente; apaixonado pela vida e pelo meio-ambiente. Um homem que estudava a cultura Yanomami com a mesma intensidade que gostava de rock and roll.
O Luiz educador, rigoroso, pesquisador de alto nível, cursou doutorado na Unicamp, foi professor da rede pública no interior de seu estado, Amazonas, e ingressou na UFAM. Foi um dos principais responsáveis pelos projetos de docência entre os povos indígenas, sendo atuante como professor entre diversas aldeias e distintos povos.
Foi também um ativista de primeira linha: atuou no meio docente, organizou os trabalhadores de diferentes categorias, nunca escondeu que era um socialista e revolucionário. Buscava denunciar os pactos entre as elites de Manaus e foi um candidato socialista ao Senado em 2018.
Buscava significar a cosmovisão indígena, sem perder as bagagens teóricas do marxismo revolucionário. Escreveu “O Panóptico Verde”, obra seminal para pensar a Amazônia. Nas várias mensagens de homenagem a ele, espalhadas por gente que o conheceu em diferentes momentos, podemos perceber o gigante que foi para a Sociologia brasileira.
Foi um parceiro de seus filhos, de sua família. Destaco uma menção especial a Larissa, sua filha e amiga, militante querida por todos nós, com a qual nos solidarizamos do fundo da alma. Luiz deixa um brilho raro no céu manauara. Ficam a saudade, o legado e a herança de um socialista que nos inspira.