Os atos de 2 de outubro foram insuficientes
Henrique Carneiro escreve sobre os atos do dia 2 de outubro, comparando-o aos anteriores e, diante da paralisia das direções tradicionais, apostando em uma via própria de mobilização para derrubar Bolsonaro
Em São Paulo, calculo no meu olhômetro umas 30 mil pessoas, foi menor até mesmo do que os atos anteriores, especialmente o de 19 de junho, que, com cerca de 80 mil pessoas, foi o maior de todos até agora.
Nenhum deles alcançou o ato Bolsonarista de 7 de setembro com 120 mil pessoas, um quarto vindos de fora da área metropolitana.
A esquerda tem perdido não só a maioria nas ruas, como o espírito aguerrido.
A direita vai à guerra, literalmente, exaltando as armas, com seu líder à cabeça dos atos radicalizando seu discurso.
A esquerda hegemonizada pelo PT hesita em chamar ações de massa, prega a unidade mas hostiliza aliados e, acima de tudo, tem um líder ausente, que só se digna a ir em reuniões com as oligarquias em aviões fretados, mas não estimula a mobilização de massas, pois confia em que tudo vai continuar como agora daqui a um ano lhe dando a maioria eleitoral.
Não é só Lula que está ausente. Os governadores do PT fazem menos campanha pelo impeachment do que Dória e Leite do PSDB. Entrem na rede social do mais importante cargo do PT na república, o governador da Bahia, e vejam como não há nenhum chamado aos atos.Já houve seis atos unitários anti-Bolsonaro.
O primeiro ato, em 29 de maio com cerca de 30 mil, foi o primeiro e surpreendeu, porque muitos eram contra, sob o argumento da pandemia.
O segundo, em 19 de junho, foi o maior. 80 mil pessoas, com passeata combativa, entusiástica, com palavras de ordem espontâneas, ações musicais, teatrais.
O último, com o maior aparato, foi um dos mais fracos e sem entusiasmo.
Um comício eleitoral em que o principal candidato deserta.
Gastam 100 mil reais no maior caminhão de som do país e não alugam centenas de ônibus para trazer gente.
Não fazem passeata e dominam todo o ambiente com um som ensurdecedor de discursos berrados.
O pior da herança petista foi a desmobilização popular.
Diferente de outros movimentos latino-americanos análogos da chamada “onda rosa”, o PT não governou apoiado na pressão de ações de massa, mas ao contrário, na sua capacidade de contê-las.
Por isso, não conseguiram tampouco reunir pouco mais de algumas dezenas de milhares na defesa de Dilma e contra a prisão de Lula.
As próximas eleições sequer estão garantidas, e serão conturbadas com ameaça de violência e de ações de massa da direita contra o resultado das urnas.
Se não houver capacidade de mobilização social não haverá condições de garantir a posse e de sustentar medidas sociais e populares no início de um novo governo Lula.
O que faria Lula nos primeiros cem dias?
Qual é seu plano?
Por tudo isso, me parece que fica cada vez mais insustentável a posição no PSOL dos que defendem apoio incondicional a Lula desde o primeiro turno.
Não haverá frente de esquerda, Lula vai ter um vice e uma arco de alianças mais de direita ainda do que já foi no passado.
Se Lula quisesse uma frente de esquerda, estaria no palanque do ato de sábado abraçando Ciro Gomes, Boulos, Freixo e Manuela.
A frente que ele articula é com os golpistas do MDB em reuniões privadas.
Em 15 de novembro haverá um novo ato. Dessa vez parece que vai ter show também. Melhor assim. Ao menos se ouve música e não a discurseira vociferante e vazia.
Pra derrubar Bolsonaro só se houvesse um levante popular democrático, como ocorreu em junho de 2013.
A esperança está nos entregadores, nos operários, nos desempregados, nos estudantes, se forem capazes de expressar em greves e protestos uma via própria de mobilização.