Em 2022, a esperança está nas lutas
Vamos para um novo ano de lutas pela derrota de Bolsonaro e pela construção de um projeto independente e anticapitalista.
Já agradecendo aos nossos leitores, concluímos um ano de muitos combates. A dureza da situação política e social brasileira, aprofundada pela pandemia que já completa quase dois anos, foi objeto de nossa atenção diária na Revista Movimento: aqui, seguimos as lutas, as greves, a marcha da FNL, os debates políticos da esquerda e do PSOL, além da conjuntura internacional e das discussões sobre estratégia. Ao desejar um novo ano de lutas e conquistas, apontamos neste editorial alguns temas que devem polarizar os debates do próximo ano, em particular vinculados às últimas discussões que fizemos na VII Conferência do MES: internacional, nacional e construção militante.
Com um panorama que inclui a batalha eleitoral de 2022, apontamos que apenas nas ruas podemos e devemos derrotar o projeto da extrema-direita e do bolsonarismo. Mais do que isso: apenas construindo um corpo político capaz de atuar como uma esquerda radical por fora da ordem é que se pode colocar de pé uma alternativa que atenda às demandas e às expectativas dos milhões que foram atingidos direta ou indiretamente pela tragédia bolsonarista.
A pandemia da Covid-19 persiste e o apagão dos sistemas do Ministério da Saúde inviabiliza a contagem correta de casos, óbitos e a emissão de passaportes de vacinas. Queiroga, vestindo o figurino de candidato bolsonarista, sabota criminosamente a vacinação de crianças. Bolsonaro passa férias e dança em lanchas no litoral, enquanto dezenas de cidades da Bahia sofrem com uma inundação histórica e, em todo o Brasil, milhares de famílias excluídas do Bolsa Família vivem um fim de ano de fome e tristeza.
A luta contra a extrema-direita e a barbárie não tem fronteiras
Se o ano de 2020 ficou marcado pela queda de Trump, 2021 seguiu o roteiro de polarização e crises políticas nos países, acentuando a crise dos regimes e dos partidos tradicionais, o espraiamento da extrema-direita em todo o mundo, além das primeiras e importantes experiências com esses setores.
Depois da derrota de Trump e do desgaste de Bolsonaro, a América Latina tornou-se um importante palco de disputas contra a extrema-direita. Pode-se mencionar a derrota do golpe na Bolívia, as vitórias eleitorais de Pedro Castillo no Peru, contra Fujimori, e de Xioamara Castro em Honduras, primeiro triunfo da oposição no país centro-americano após o golpe de 2009.
O fim de 2021 trouxe a importante vitória de Gabriel Boric contra o fascista José Kast no Chile, resultado que trará consequências importantes para as lutas de todo o continente. No entanto, a extrema-direita não será realmente derrotada senão com mobilização social e mudanças radicais na estrutura de poder. Veja-se o caso dos Estados Unidos, onde Biden perdeu eleições locais recentes e o trumpismo, que conserva base social e militante, é muito mais do que um espectro. Se os governos nos quais se depositam esperanças não enfrentam os grandes capitalistas, é grande o risco de uma frustração capaz de alimentar a desesperança – e a, partir dela, a recomposição da extrema-direita: o fracasso de Podemos no Estado Espanhol é um exemplo a ser estudado.
Há outros dois processos fundamentais que devem ser acompanhados: as lutas dos imigrantes e as lutas ambientais, que já estiveram em tela neste ano e seguirão em 2022.
No Brasil, enfrentar o genocida Bolsonaro e seu projeto de decadência e regresso social
Em 2021, a luta contra Bolsonaro foi nossa principal tarefa e seguirá sendo em 2022. A experiência iniciada em 2019 com o governo da extrema-direita intensificou-se com a “gestão” genocida da pandemia, fazendo o governo perder maioria social e ver ampliada sua impopularidade em 2021, quando grandes manifestações tomaram o país exigindo o impeachment, numa campanha que não avançou pela disposição das direções majoritárias da oposição de canalizar a insatisfação com o bolsonarismo para a eleição.
O governo ainda tenta recuperar terreno: aliou-se em definitivo com o centrão corrupto para blindar-se no congresso e agora acena com uma série de medidas populistas. Eis aí o risco da opção majoritária da oposição de não derrubar Bolsonaro e aguardar a eleição, dando-lhe margem de manobra e até mesmo a possibilidade de recomeçar sua campanha golpista caso tenha a oportunidade. Além disso, em 2022 seguirá a dinâmica da crise social, fome, alta de preços e conflitos locais, o que estimulará o povo a lutar por seu nível de vida.
É evidente que nossa prioridade deve ser derrotar Bolsonaro nas ruas e também nas urnas: por isso, defenderemos o voto em Lula ou em qualquer alternativa que possa fazê-lo num eventual segundo turno, sem deixar de apresentar uma alternativa e um programa. Como apontou Roberto Robaina ao analisar as negociações recentes para que Geraldo Alckmin seja o candidato a vice-presidente na chapa petista, uma sinalização à burguesia como aquela de 2002 com a “carta ao povo brasileiro”:
As negociações com a burguesia só se aceleraram, e a decisão de Alckmin é a prova desse avanço. Afinal, estamos falando do político com mais peso nos governos burgueses do Estado de São Paulo dos últimos 30 anos. Apenas Fernando Henrique teve mais influência. Mas Alckmin era justamente seu gerente (…). [O] PSOL deve assumir seu programa anticapitalista no primeiro turno e apresentar seu nome. Glauber Braga, o combativo deputado carioca, é quem temos proposto. O partido deveria reunir urgente seu Diretório Nacional para deliberar nessa direção.
Essa não é uma batalha menor. É preciso combater Bolsonaro, apresentando um programa anticapitalista e dando a luta política contra a orientação que dilui o PSOL na chapa expressa pela conciliação de classes.
Construindo um projeto independente e anticapitalista
Em 2021, fortalecemos a construção de um projeto independente e anticapitalista: estivemos nas ruas na linha de frente pelo “Fora, Bolsonaro”, mesmo quando setores hesitaram em convocar protestos e sair da paralisia; celebramos importantes fusões com diversos agrupamentos revolucionários dentro do PSOL, que se incorporaram ao MES para fortalecer a política de reagrupamento entre socialistas; somos parte dos 44% que batalharam por uma nova direção política para o PSOL, que saiba fazer e buscar unidades sem perder a cara própria.
Vamos para um novo ano: apontando a necessidade de intervir em cada luta, de batalhar para renovar nossos postos parlamentares e colocar também a necessidade do programa no centro das discussões políticas para tirar o país da catástrofe que o assola. Em nosso portal Movimento, avançamos na publicação, difusão e produção de conteúdos, editamos nossas revistas periódicas e livros, atualizamos diariamente nosso site, além de inaugurarmos duas importantes novidades: o giro de notícias diário no YouTube e o podcast semanal, que já chegou a 31 edições.
Queremos, em 2022, apresentar novidades e, sobretudo, elevar a politização e a formação da militância política para que possamos, defendendo e debatendo os rumos do PSOL, construir com mais força nossas diversas ferramentas de luta.
Desejamos a todas e todos um bom ano novo!