Ano novo, velhas crises
O ano de 2022 começa com múltiplas crises e problemas. É preciso lutar para derrotar Bolsonaro e apresentar uma alternativa independente.
Os primeiros dias de 2022 reapresentaram uma série de crises vividas no ano anterior. A começar por Bolsonaro, que segue com sua sanha genocida, de costas para as demandas do povo, avançando em seu projeto de destruição.
Uma combinação de crises castiga o povo brasileiro. Há uma nova onda de casos de Covid-19, agora com a nova variante ômicron, somada a um surto de influenza; o cenário ambiental é trágico, com chuvas intensas no sul da Bahia e em Minas Gerais trazendo morte e desalento; a alta dos preços, por sua vez, corrói o poder real de compra da população. Bolsonaro está à frente desse desastre nacional. Nas pesquisas eleitorais e de avaliação do governo, perde pontos e popularidade, mas continua obcecado em realizar sua estratégia autoritária e antipovo. A necessidade de derrotar Bolsonaro permanece.
O recrudescimento da Covid-19
Há uma nova explosão de casos de Covid-19 no mundo. Alcançou-se um novo recorde de casos diários, 3,6 milhões de contaminações, liderado por Estados Unidos e Índia. A variante ômicron, que o genocida Bolsonaro considera “bem-vinda”, é responsável por um salto na capacidade de transmissão do vírus. A nova onda mundial foi acelerada pela combinação da política das grandes potências de combate à Covid-19 – negando-se a garantir a quebra das patentes de vacinas, defendendo os interesses das grandes corporações farmacêuticas e deixando a população mais pobre do mundo sem vacinação – e o boicote consciente às vacinas promovido em vários países do mundo. Como afirmou o ex-presidente da Fiocruz, Paulo Buss, em entrevista ao jornal Valor Econômico: “Se houvesse produção para que outros centros produzam os imunizantes, sempre de forma assistida, evidentemente, terminaríamos mais rápido com esse apartheid vacinal”.
Dentro desse contexto, o Brasil voltou a ser um dos epicentros do contágio. Voltamos a marcas trágicas de mais de sete meses atrás, com uma projeção de mais de cem mil casos por dia. E parte das UTIs e leitos de várias capitais já estão próximos da lotação máxima. Milhares de locais de trabalho no comércio, serviços e transporte aéreo sofrem com o afastamento de funcionários.
Uma vez mais, o negacionismo de Bolsonaro e Queiroga contribuem para o contágio e a morte. Há mais de um mês, os dados dos sistemas do Ministério da Saúde apresentam discrepâncias com a realidade vista nas cidades e nos hospitais. O governo alega que um “ataque hacker” em dezembro teria afetado os sistemas, que já estariam restabelecidos. Ao mesmo tempo, o atraso criminoso na vacinação infantil e as declarações de Bolsonaro e seu ministro desestimulando que os pais levem as crianças aos postos mostram a repetição da estratégia da morte e do caos que persiste no Brasil desde o início da pandemia.
Tragédias e crimes ambientais
Outras expressões brutais da crise social brasileira foram as tragédias que estados inteiros viveram no ano novo, como Bahia e Minas Gerais, por conta das inundações e deslizamentos de encostas, que vitimaram dezenas de pessoas e desalojaram milhares de famílias. Bolsonaro respondeu com desdém, negando apoio e se exibindo em passeios de jet ski em Santa Catarina. Além disso, os estados sulistas agora vivem uma terrível onda de calor, a mais forte das últimas décadas na região, expressando o completo desequilíbrio do clima.
Os crimes ambientais, que alimentam as “tragédias” das inundações, têm responsáveis: os governos e empresas, como as mineradoras de Minas Gerais, cujas barragens têm transbordado milhões de litros de rejeito de ferro, piorando a catástrofe vivida pelas famílias. Em Minas, há mais de 179 cidades em estado de emergência, 25 mil desabrigados e 18 mortos, além das tragédias de Capitólio, com custo humano, e de Ouro Preto, com a perda de importante patrimônio histórico. Enquanto isso, as mineradoras já começam a obter autorizações para reiniciar suas atividades. Impossível não virem à memória os recentes crimes ambientais de Mariana e Brumadinho, promovidos pela Vale.
Inflação nas alturas
No dia 3 de janeiro, foram publicados os novos índices de inflação pelo IBGE, que alcançaram 10,06%. É a maior taxa acumulada no ano desde 2015, quando o IPCA foi de 10,67%. Como o percentual ficou acima da meta de inflação de 2021, de 3,75%, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, publicou carta para o ministério da economia e para a sociedade buscando “explicar” as razões da alta. Na realidade, a inflação manifesta-se, no mundo real, numa alta generalizada de preços, em particular dos alimentos, dos combustíveis, da energia elétrica e dos aluguéis. Prefeituras em todo o país, aliás, já começam a preparar-se para uma rodada de aumento das tarifas de transporte público.
Também nos primeiros dias de janeiro, a Petrobrás anunciou um novo aumento do preço dos combustíveis, mantendo a política de paridade internacional de preços em benefício de especuladores e da remuneração de acionistas minoritários da empresa. Bolsonaro e Guedes, desse modo, garantem a continuidade do aumento geral de preços, chocando-se inclusive contra uma de suas bases prioritárias, o movimento de caminhoneiros e de transportadores. Trata-se de um governo disposto a destruir a economia real, o salário dos trabalhadores e o nível de vida do povo para satisfazer os interesses de banqueiros, rentistas e especuladores ao mesmo tempo em que entrega o orçamento de bandeja para o centrão, passando a Ciro Nogueira a responsabilidade por modificações orçamentárias.
Bolsonaro perde terreno
Com a sua incapacidade de resolver as crises, Bolsonaro perde pontos em todos os terrenos. Viu sua popularidade cair ainda mais por conta do trato com as enchentes e da negligência com a vacinação de crianças. A indignação contra o governo cresce e os conflitos voltam a acumular-se, como mostraram a contestação aberta do presidente da Anvisa, Barra Torres, a sequência de choques entre o centrão e Guedes, e o início do abandono do governo entre políticos e agentes econômicos burgueses com a linha econômica errática e a péssima perspectiva eleitoral. Isso não quer dizer que Bolsonaro esteja derrotado, mas coloca a necessidade de seguir a pressão para quebrar seu plano e colocá-lo ainda mais contra as cordas.
Como tarefas, devemos apoiar algumas lutas importantes que começam a aparecer no horizonte. Com o aumento do contágio pela Covid-19, o problema das condições de trabalho repercute com força em várias cidades, como a greve que os médicos preparam em São Paulo para o dia 19 de janeiro. Na mesma semana, está marcada para o dia 18 uma paralisação de um setor do funcionalismo público, organizada por entidades do serviço público federal, que lutam por reajuste e também para colocar abaixo a proposta de reforma administrativa, inaugurando o ano do ponto de vista das lutas reivindicativas.
O ano de 2022 começa com múltiplas crises e problemas. O povo trabalhador e a esquerda devem seguir combinando a luta para derrotar o governo e suas medidas, buscando apresentar uma alternativa independente e apoiando as lutas e demandas que começam a aparecer.