Ela não! A fascista e racista Le Pen perde. Macron reeleito, a luta continua.
Sobre as eleições francesas.
Finalmente neste domingo, dia 24 de abril, o “Ela Não” prevaleceu. A candidata do RN, Marine Le Pen (42%), liberal protofascista e racista, saiu derrotada por Macron (58%), encarnação de um liberalismo autoritário.
Melhor para o nosso campo social: a ascensão de Marine Le Pen e do seu aliado Zemmour ao poder teria sido uma catástrofe para as classes trabalhadores e populares como um todo, e particularmente para os imigrantes, sejam eles em situação regular ou não, para os muçulmanos já alvo da islamofobia, para as mulheres e para as pessoas LGBTQI. E o fato de a Le Pen ter se beneficiado (infelizmente) de um amplo apoio popular e ter alcançado uma nova marca histórica com mais de 12 milhões de votos não faz dela um perigo menor, muito pelo contrário.
Mas o Macron não sai tão bem na fita. Representante de uma direita dura sem complexo, defensor de um ultraliberalismo tecnológico, ligado as grandes empresas do CAC40 e aos velhos partidos, fã da gestão policial e repressiva dos conflitos sociais, ele não tem nenhuma base social popular maciça. Pelo contrário, ele é odiado por grande parte da população. Presidente mal eleito, ele começa o seu segundo mandato com um enorme déficit de credibilidade e legitimidade. Afinal seus eleitores “raiz”, aqueles do primeiro turno, mal chegam aos 10 milhões, apenas 20% do eleitorado. Para ser vencedor neste domingo ele se beneficiou de 9 milhões de votos a mais, votos não a favor dele, mas contra a Le Pen e a ameaça fascista.
As abstenções novamente foram recorde, 28%, e considerando os votos brancos (4,6%) e nulos (1,6%), temos um terço dos eleitores que se recusaram a participar desta pseudodemocracia. A crise política e democrática só pode se acirrar, vamos assistir a um redobramento dos ataques contra as classes populares. E a extrema direita já demonstrou sua capacidade em se aproveitar destas situações.
Tem urgência em reconstruir uma esquerda de luta, combativa. Nos dias 12 e 19 de junho teremos na França novas eleições, legislativas desta vez. Essas eleições já estão percebidas como uma oportunidade de revanche, de virar o jogo, tanto pela esquerda como pela extrema direita. Para entender a importância destas eleições parlamentares vale lembrar que na constituição semipresidencialista da quinta República, o primeiro-ministro, o chefe do governo, será escolhido de acordo com a maioria formada na assembleia (a França já conheceu 3 episódios de “coabitação”, por exemplo quando o gaullista Chirac virou primeiro-ministro do socialista Mitterand entre 1986 e 1988). A União Popular de Jean-Luc Melenchon, agora a principal força da esquerda, tomou a iniciativa de propor ao PC (Partido Comunista), EELV (ecologistas) e ao NPA (Novo Partido Anticapitalista) um “esforço comum de construção de uma nova maioria, sem vontade de hegemonia”, uma Nova União Popular. O NPA já se mostrou favorável a construção de candidaturas de união contra a direita e a extrema direita, que devem ir além da mera perspectiva de fazer do Melenchon o primeiro-ministro de Macron, mas sim a eleger o maior número possível de deputados defendendo um programa anticapitalista e de ruptura com o Macronismo. Publicamos abaixo a resposta do NPA ao apelo da União Popular.
Mas também importante buscar a virada, a revanche nas lutas sociais. E a começar pela luta contra um novo episódio, já anunciado, da reforma das aposentadorias. Buscando ao mesmo tempo de unidade e de radicalidade que vão se construir as condições de derrotar a direita e a extrema direita “para valer”.
Caro(a)s companheira(a)s,
Recebemos sua carta sobre as eleições legislativas e saudamos a iniciativa que vocês tomaram.
Os resultados do primeiro turno das eleições presidenciais revelaram uma situação política e social cada vez mais polarizada, com a chegada no segundo turno do polo da extrema direita (cujos votos totais excederam os de todos os candidatos de esquerda) e do “centro” pseudo-neoliberal-autoritário, em torno de Emmanuel Macron. Um terceiro polo também se afirmou, representado pela candidatura de Jean-Luc Mélenchon, e este é um elemento positivo em uma relação de forças deterioradas.
A vitória da extrema-direita é uma possibilidade séria. Seria uma catástrofe para todas as classes populares, em primeiro lugar para as pessoas estrangeiras, os muçulmano(a)s, as pessoas racializadas, as mulheres e as pessoas LGBTI. A urgência do momento é que nenhum voto do nosso campo vá para Le Pen, de modo que a extrema-direita seja derrotada no domingo.
Mas, ao mesmo tempo, sabemos que uma vitória Macron não significará uma trégua para o campo dos explorados e oprimidos. O presidente dos ultra-ricos já adiantou durante sua campanha: cada vez mais desmonte das conquistas sociais (com notavelmente a aposentadoria aos 65 anos) e uma gestão policial/autoritária dos conflitos.
O NPA e Philippe Poutou o repetiram durante esta campanha: apesar de nos recusarmos a traçar uma linha de igualdade entre o candidato neoliberal-autoritário e a candidata fascista, será necessário, de qualquer forma, mobilizar-se diante dos ataques aos nossos direitos e diante da ameaça fascista, a fim de finalmente obter vitórias significativas e mudar o equilíbrio de poder. Isto requer a construção de estruturas unitárias de coordenação e mobilização.
Mas também sabemos que as mobilizações indispensáveis não bastam por si só. É urgente reconstruir as ferramentas organizacionais de nossa classe: coletivos, associações, sindicatos, partidos… Repetimos isto durante a campanha: nosso campo social está órfão de uma ferramenta política à altura dos desafios, de uma esquerda radical, desinibida, determinada a lutar contra o capitalismo e seu pessoal político, e a enfrentar a ameaça fascista.
Esta ferramenta não cairá do céu. Ela se dará através de experiências coletivas de mobilização, através de discussões públicas entre forças políticas, através das dinâmicas de reconstrução/recomposição. É também o desafio das batalhas travadas durante o processo eleitoral, mesmo que este último continue a ser a expressão distorcida da relações de forças sociais.
Foi para expressar tudo isso que apresentamos a candidatura de Philippe Poutou às eleições presidenciais, baseada em um enfoque e perfil singulares, bem como um programa de ruptura anticapitalista, revolucionário e internacionalista, que não poderia se confundir com os de Jean-Luc Mélenchon e da União Popular.
A questão das eleições legislativas se coloca de forma diferente. A razão essencial é a observação da relação de forças global, da urgência de uma resposta unitária à classe dominante. Além disso, não é uma questão de voto para um indivíduo e um programa elaborado por uma corrente, mas para 577 pessoas, com a possibilidade de encontrar mediações, equilíbrios, compromissos, em torno de uma dinâmica que transcende a lógica do aparelho e/ou de grupo, ao mesmo tempo em que permite que nossas diferentes posições políticas sejam representadas.
Por estas razões, respondemos favoravelmente ao seu pedido de uma reunião para discutir a possibilidade de candidaturas conjuntas para as eleições legislativas.
Desejamos uma campanha que reúna várias forças e coletivos, e que esteja claramente situada em um processo ao mesmo tempo de resistência à extrema direita e a políticas antissociais, e de propor uma política que rompa com a gestão leal do capitalismo. Trataria-se de iniciar uma dinâmica militante para as eleições e para as lutas sociais, particularmente contra o governo que sairá das eleições presidenciais, uma dinâmica capaz de desempenhar um papel positivo na mobilização de nosso campo social e na modificação das relações de forças global, já muito desgastada.
Uma campanha social, ecológica, antirracista, feminista, contra todas as opressões e discriminações, carregando as aspirações democráticas e emancipatórias expressas nos últimos anos, especialmente entre os jovens: aumento dos salários, recepção de migrantes e regularização de migrantes sem documentação, luta contra a mudança climática, luta contra as lógicas da guerra, desenvolvimento dos serviços públicos (especialmente em saúde e educação), luta contra as opressões etc.
Esta campanha deve ser realizada com total independência das organizações da esquerda social-liberal, em particular do Partido Social.
Queremos uma campanha comum e democrática na base, mas também mantendo a independência política de cada organização (liberdade para cada organização se expressar e defender seu programa) e dos representantes que seriam eleitos, uma distribuição coerente com o peso de cada um dos distritos eleitorais (elegíveis e não elegíveis), bem como uma distribuição coerente do financiamento do EstadoVamos nos reunir nos próximos dias.
Saudações anticapitalistas
O Comitê Executivo do NPA