Mesmo sem ‘federalizar’, Dino coloca Polícia Federal no caso Marielle
Expectativa é que colaboração da PF com Polícia Civil acelere a elucidação do assassinato de vereadora e motorista, ocorrido há cinco anos
Faltando menos de um mês para os assassinatos da vereadora Marielle Franco e seu motorista, Anderson Gomes, completarem cinco anos, a Polícia Federal (PF) abriu inquérito para apurar o crime. A ação foi determinada pelo ministro da Justiça, Flávio Dino (PSB) que, em seu discurso de posse, reafirmou o compromisso de elucidar os assassinatos.
Não se trata de federalização da investigação. Ainda que esse fosse um desejo do governo, transferir o caso para a PF dependeria de um pedido da Procuradoria-Geral da República ao Superior Tribunal de Justiça (STJ). Não vai acontecer enquanto Augusto Aras estiver ocupar o posto.
Entretanto, nas últimas semanas, Dino negociou um acordo com o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) para que a PF colaborasse com os trabalhos da Polícia Civil. Isso fortaleceria a força-tarefa da Promotoria, que busca encontrar os mandantes do crime. Na semana passada, o superintendente da PF no Rio, Leandro Almada, e o procurador-geral de Justiça do estado, Luciano Mattos, assinaram um pacto para investigação conjunta.
“A fim de ampliar a colaboração federal com as investigações sobre a organização criminosa que perpetrou os homicídios de MARIELLE e ANDERSON, determinei a instauração de Inquérito na Polícia Federal. Estamos fazendo o máximo para ajudar a esclarecer tais crimes”, disse o ministro, nas redes sociais.
O inquérito ficará a cargo do Setor de Inteligência Policial (SIP) da Superintendência da PF do Rio de Janeiro, sob a responsabilidade do delegado Guilherme de Paula Machado Catramby.
Cinco anos sem repostas
Na noite de 14 de março de 2018, Marielle Franco foi à Casa das Pretas, no Centro do Rio, para participar de um debate com a juventude negra. Ela deixou o local cerca de duas horas depois, em companhia de uma assessora. O motorista Anderson Gomes as conduziria para casa, porém, o carro começou a ser seguido. Meia hora depois, um veículo emparelha com o carro de Marielle e faz treze disparos. A vereadora e o motorista morreram no local. A assessora teve ferimentos leves. Os bandidos fugiram.
Apesar da presença de câmeras de segurança ajudar a elucidar a dinâmica do crime, a investigação foi conturbada. Houve tentativas de obstrução, pistas falsas e muitas trocas no comando do inquérito.. Na Polícia Civil, o quinto delegado assumiu o caso em fevereiro de 2022. Ainda assim, a força-tarefa que apurou os assassinatos levou à prisão, em março de 2019, os ex-PMs Ronnie Lessa (acusado de ser o autor dos disparos) e Élcio de Queiroz (que dirigiu o carro usado no crime). Até hoje, não se avançou na busca pelos mandantes do assassinato e suas motivações.