Aonde vai o governo?
Ricardo Stuckert/Divulgação

Aonde vai o governo?

Lula pretende concluir a reforma ministerial, pactuando “organicamente” com o centrão, e consolidar Haddad como operador do social-liberalismo.

Israel Dutra e Thiago Aguiar 28 jul 2023, 20:33

Nas próximas semanas, Lula pretende concluir a reforma ministerial e concretizar uma nova fase do governo: no âmbito político, pactuar “organicamente” com Lira e o centrão; no econômico, consolidar a ação de Haddad como operador do social-liberalismo a partir da aprovação do novo “arcabouço fiscal” e da reforma tributária.

A extrema-direita entrincheira-se na CPI do MST, na qual destacamos a resistência e combatividade de Samia Bonfim que, junto com Fernanda Melchionna, tem demonstrado como realizar luta parlamentar contra o bolsonarismo. O governo, por sua vez, não aproveita a defensiva de Bolsonaro para enfrentar e debilitar ainda mais esse setor. Ao contrário, tem acenado para uma composição com o PP e Republicanos como forma de garantir a suposta “governabilidade”.

Nossas tarefas, diante do giro ao centrão, consolidado com a entrada do PP e do Republicanos no governo, mais do que nunca é reforçar o polo independente. Eis o desafio do PSOL.

Uma política econômica ao gosto dos banqueiros

O governo Lula, por meio da equipe econômica liderada por Fernando Haddad, avançou em duas medidas sob encomenda do capital financeiro, a chamada “Faria Lima”: a aprovação do novo “arcabouço fiscal” e a reforma tributária. Uma pesquisa, difundida após a aprovação com folga da reforma tributária, indica que a confiança em Haddad entre os agentes do capital financeiro chegou a 65%.

A reforma tributária, apoiada pela FIESP, não mexeu na estrutura tributária regressiva brasileira, além de isentar exportações e insumos ao agronegócio, incluindo os agrotóxicos, propriedades e negócios vinculados às grandes igrejas evangélicas, jogando para o bolso do consumidor a carga final. Nossa posição, manifestada na abstenção de nossas parlamentares, pode ser lida na nota do Secretariado do MES acerca da votação da reforma tributária. Outra medida anunciada foi o maior “Plano Safra” já apresentado para o agronegócio brasileiro, sendo celebrado mesmo por setores mais hostis ao governo, reservando uma parcela muito menor para agricultura familiar e sustentável.

O caráter fiscalista da gestão de Haddad encontra eco em outros programas, previstos para o segundo semestre como, por exemplo, o plano de estímulo às PPPs – inclusive, como anunciado, para a construção de novas unidades prisionais; e o endurecimento da Lei de Responsabilidade Fiscal para estados e municípios. Tais medidas enquadram-se nos parâmetros do novo “arcabouço fiscal”, que unificou a maior parte da burguesia com os planos de Haddad.

A aliança com Lira e o governo com o centrão

Na frente política, o giro do governo envolve uma relação ainda mais orgânica com o centrão. Além da nomeação de Celso Sabino (União Brasil-PA) para o Ministério do Turismo, seguem as negociações para a entrada do PP e do Republicanos em pastas estratégicas. A disputa é sobre quem vai sair: especula-se a entrega do Ministério do Desenvolvimento Social, responsável pelo Bolsa Família, do Ministério do Esporte, comandado por Ana Moser, uma indicação do movimento de atletas e ex-atletas que colaboraram com a transição, e mesmo o Ministério da Ciência e Tecnologia, hoje com o PCdoB, depois de anos de destruição.

Durante os primeiros meses da gestão, o governo buscou aproximar-se de Lira e do centrão. A bancada governista votou em Lira, sem pestanejar, para a presidência da casa. O mesmo Lira foi o fiador da aprovação do arcabouço e da reforma tributária, após a distribuição de bilhões em emendas parlamentares. Agora, o passo seguinte é o centrão entrar “oficialmente” no governo, requisitando ministérios e controle de estatais. Aplainando esse caminho, o STF, por meio de Gilmar Mendes, arquivou os processos que corriam contra Lira no estado de Alagoas. As sinalizações também são claras para a entrega de posições em autarquias e estatais para setores os mais fisiológicos, muitos dos quais ocuparam cargos nos governos Temer e Bolsonaro.

“Cooptar o bolsonarismo” ou enfrentar e esmagar a extrema-direita?

A estratégia do governo em busca da “governabilidade” foi resumida pelo líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), em entrevista à Folha de S. Paulo na qual ele naturaliza as negociações com partidos que estiveram no governo Bolsonaro e em cujas bancadas encontra-se aninhada parte expressiva da extrema-direita bolsonarista.

Temos outra visão: para garantir o sucesso do governo e enfrentar a extrema-direita, é necessário aproveitar a inelegibilidade para golpear ainda mais Bolsonaro e os golpistas, isolando e derrotando politicamente a extrema-direita. Por isso, defendemos a independência política do PSOL – como temos expressado com a atuação de nossas parlamentares ou da juventude durante o último Congresso da UNE. A defesa dessa localização e a necessária luta contra a extrema-direita serão tarefas fundamentais do VIII Congresso do PSOL.


TV Movimento

Balanço e perspectivas da esquerda após as eleições de 2024

A Fundação Lauro Campos e Marielle Franco debate o balanço e as perspectivas da esquerda após as eleições municipais, com a presidente da FLCMF, Luciana Genro, o professor de Filosofia da USP, Vladimir Safatle, e o professor de Relações Internacionais da UFABC, Gilberto Maringoni

O Impasse Venezuelano

Debate realizado pela Revista Movimento sobre a situação política atual da Venezuela e os desafios enfrentados para a esquerda socialista, com o Luís Bonilla-Molina, militante da IV Internacional, e Pedro Eusse, dirigente do Partido Comunista da Venezuela

Emergência Climática e as lições do Rio Grande do Sul

Assista à nova aula do canal "Crítica Marxista", uma iniciativa de formação política da Fundação Lauro Campos e Marielle Franco, do PSOL, em parceria com a Revista Movimento, com Michael Löwy, sociólogo e um dos formuladores do conceito de "ecossocialismo", e Roberto Robaina, vereador de Porto Alegre e fundador do PSOL.
Editorial
Israel Dutra | 21 dez 2024

Braga Netto na prisão. Está chegando a hora de Bolsonaro

A luta pela prisão de Bolsonaro está na ordem do dia em um movimento que pode se ampliar
Braga Netto na prisão. Está chegando a hora de Bolsonaro
Edição Mensal
Capa da última edição da Revista Movimento
Revista Movimento nº 54
Nova edição da Revista Movimento debate as Vértices da Política Internacional
Ler mais

Podcast Em Movimento

Colunistas

Ver todos

Parlamentares do Movimento Esquerda Socialista (PSOL)

Ver todos

Podcast Em Movimento

Capa da última edição da Revista Movimento
Nova edição da Revista Movimento debate as Vértices da Política Internacional

Autores

Pedro Micussi