Povos da terra marcham nas ruas em defesa da Amazônia
Marcha dos Povos pela Terra reúne diversos movimentos sociais em Belém do Pará
A capital paraense hoje foi palco de uma grande demonstração de força e resistência de nós povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos e movimentos sociais de vários segmentos que ocuparam as ruas na Marcha dos Povos da Terra pela Amazônia, na defesa de nossos territórios e cultura contra todo tipo de exploração e destruição.
A Marcha aconteceu paralela à Cúpula da Amazônia, reunião restrita aos Presidentes dos oito países que compõem a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), que durante esses dias (8 e 9 de agosto) debaterão de portas fechadas o futuro das políticas ambientais e sociais para a Amazônia. No entanto, como é possível discutir um modelo de desenvolvimento para a Amazônia sem a participação efetiva daqueles que habitam o território e protagonizam as principais lutas e que detém os maiores conhecimentos a respeito desta terra?
Sabemos que a vitória de Lula foi uma derrota do modelo predatório e destruidor da Amazônia, representada pelo bolsonarismo que alimentava o garimpo ilegal, o desmatamento e os crimes na região, mas sabemos também que é impossível conciliar e construir uma sustentabilidade mantendo a todo vapor as atividades destrutivas, fruto da exploração desenfreada do garimpo, mineração, combustíveis fósseis, agronegócio e tantos outros. Fazemos coro a fala de abertura de Gustavo Petro (Presidente da Colombia) na Cúpula da Amazônia no dia de hoje, que destacou que não podemos cometer os mesmos erros que os governos de direita que negam a ciência frente às mudanças climáticas, assim como não podemos criar falsas soluções diante de um problema que só tem uma solução: o fim da exploração!
É nesse sentido que a Marcha hoje foi um grito de resistência de nós povos da terra por respeito e por uma Amazônia livre do garimpo, livre das hidrelétricas, do petróleo e todo tipo de violência e usurpação de nossos territórios e vidas.
O estado do Pará, através do governador Helder Barbalho, em uma grande farsa de vender a imagem do estado como o polo brasileiro de economia sustentável, segue a sua contradição de ataque aos povos indígenas. Os parentes Tembé, nos últimos dias, têm sentido na pele o quão racista é o braço armado do estado. Com uma política falha de defesa dos povos indígenas e, ainda, de incentivo aos inimigos dos defensores dos territórios (a exemplo da promulgação do dia do garimpo), o estado do Pará é reflexo do que hoje se apresentam como “avanço sustentável”, onde falam sobre direitos humanos na Amazônia pela manhã e prendem e tentam matar os parentes indígenas pela tarde.
Como dito por muitas lideranças indígenas e de povos tradicionais: Não há como dialogar sobre Amazônia sem falar de demarcação de terras indígenas e o fim de grande empreendimentos que atacam diretamente os povos tradicionais. Que esses mega eventos não sejam meras discussões vazias, e seremos nós quem daremos o tom de transformar todas essas reuniões, plenárias, Conferências, em política pública concreta. Uma política que proteja os defensores de direitos humanos, defensores dos territórios, que garanta a vida de quem mantém o planeta vivo.
Alexandre Arapiun é indígena do Baixo Tapajós, estudante de Direito da UFOPA, militante do MES/PSOL e comunicador do Conselho Indígena Tapajós e Arapiuns (Cita).
Raiana Mendes é antropóloga, doutoranda em Desenvolvimento Socioambiental do Naea/UFPA, militante do MES/PSOL e da Coordenação da Casa Amazônia.