Petróleo no chão, não à invasão!
Nem o imperialismo estadunidense nem o desenvolvimentismo tacanho de Maduro têm o direito de se apoderar desses recursos ou comprometer a vida na terra
Recentemente, o mundo foi surpreendido por um novo rumor de guerra, desta vez na América Latina. Nicolás Maduro ameaça invadir a vizinha Guiana para anexar a região de Equessibo, um território que vai desde a fronteira venezuelana-guianense até o Rio Essequibo, uma porção de terra que corresponde a 75% do território da Guiana.
A Guiana Essequiba, ou região do Essequibo, compreende o delta do rio e foi parte do território venezuelano até 1899, quando foi anexada pela Grã-Bretanha em conluio com os EUA. Desde então, é alvo de litígio por parte da Venezuela.
Nas últimas semanas, o regime venezuelano aumentou o tom, anunciando um plebiscito em que buscava legitimidade para iniciar a agressão contra a Guiana visando a anexação. No último dia 3, o plebiscito aconteceu – sob as já alardeadas violações do regime democrático na Venezuela – e, como esperado, a posição pró-invasão venceu com mais de 95% dos votos.
A propaganda pró-guerra chegou a contar com os principais líderes militares da Venezuela gravando vídeos reivindicando a posse sobre a região de Essequibo, inclusive com demonstrações de força como a pintura dos caças SU 30 MK2 com o mapa da Venezuela contendo o Essequibo e os dizeres “Venezuela Toda”, fazendo referência à região que quer retomar.
Porém, mais importante até que os eventos históricos, é necessário pontuar que a região de Essequibo não é um enclave qualquer, muito menos algo de importância menor. É um território rico em petróleo, gás natural, ouro e outros minerais valiosos. Não à toa, a extração predatória desses recursos é capitaneada pelos EUA na região – principalmente com a Exxon, que recentemente inaugurou a terceira plataforma petrolífera na Guiana, e a Chevron.
Dessa forma, entendendo também que nos últimos anos a reserva de petróleo em território Essequibo atingiu a marca de 11 bilhões de barris – algo que corresponde a 75% da reserva brasileira que conta com cerca de 15 bilhões -, podemos ter a dimensão do que está em jogo nessa disputa entre Maduro, às petroleiras estadunidenses e o Estado da Guiana.
É necessário cercar a Guiana de solidariedade internacional, sob a palavra de ordem de “não à invasão venezuelana”, que seria extremamente calamitosa para as trabalhadoras e os trabalhadores guianenses, além de trazer a guerra para o território latino. Pior, para território amazônico, também gerando risco de uma intervenção yankee no nosso continente. Mas também é necessário apontar que apenas a desistência da invasão por parte de Maduro não soluciona o problema central da região, que é a exploração desenfreada de combustíveis fósseis. Por isso, petróleo no chão também deve ser uma reivindicação justa para sanar o conflito na região.
Nem o imperialismo opressor estadunidense nem o desenvolvimentismo tacanho de Maduro têm o direito de se apoderar desses recursos ou comprometer a vida na terra extraindo e queimando uma quantidade absurda de combustíveis fósseis que geram o aquecimento global e as mudanças climáticas.
Vale ressaltar também que a recente seca histórica da região amazônica tem tudo a ver com a exploração desenfreada do petróleo, e que no Brasil mesmo travamos uma luta para impedir a exploração petrolífera na Amazônia, não podemos coadunar com essa exploração na região de Essequibo só porque é floresta do lado de lá da fronteira.
Não queremos guerra, não queremos invasão e não queremos exploração desenfreada do planeta terra. Lutar pela não-invasão da Guiana é lutar pela convivência pacífica entre os povos e pela preservação do ambiente em que vivemos. Em última instância, essas lutas também são de sobrevivência e pela preservação da vida na terra.